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EXPOSIÇÃO

Imaginário mitológico

Investigação sobre povos originários, exposição Orí Tupinambá, de José Ignácio, abre amanhã na CAIXA Cultural

Por Israel Risan*

24/04/2023 - 6:00 h
ORI TAMOYO tocando musica de luz do artista visual Jose Ignacio
ORI TAMOYO tocando musica de luz do artista visual Jose Ignacio -

Após quatro anos de sua última exposição, o artista José Ignácio apresenta Orí Tupinambá, fruto de um trabalho que parte de pesquisa sobre os povos originários deste continente e reúne mais de 20 obras. A abertura acontece amanhã (25), às 19h. Com entrada gratuita, a visitação vai até 04/06, de terça a domingo, das 9h às 17h30, na CAIXA Cultural Salvador.

São 11 esculturas em madeira, ferro e pedras do mar, além de 15 pinturas de acrílica sobre tela, que totalizam um acervo de 26 obras, resultado de um processo criativo dinâmico, orgânico e interativo.

Orí Tupinambá tem curadoria de Ticiana Lamego, arquiteta, pesquisadora de arte e parceira do artista, com quem trabalha há mais de 20 anos.

ALMIRA do artista visual Jose Ignacio
ALMIRA do artista visual Jose Ignacio | Foto: Juliana Rabinovitz / Divulgação

As investigações do artista sobre o imaginário mitológico das matrizes indígenas se traduzem poeticamente em divindades pintadas em tela ou esculpidas em madeira, pedra e ferro. Cada peça e cada quadro representa uma entidade.

A proposta foi esculpir um panteão imaginário de deuses que permitisse ao público a construção de sentido particular do que lhes é apresentado. O ponto de partida é a cabeça, o orí. A partir daí, cada um deve construir a imagem das divindades com as suas próprias referências.

“Não é porque a pintura é um mundo em duas dimensões, que termina sempre na cabeça do seu interlocutor.”, considera Ignácio.

Ele cita ainda o formato em que as esculturas se apresentam, habitando o mundo tridimensional e temporal e categoriza as duas formas de arte como semelhantes, apesar de carregarem diferenças na composição e processo criativo. “Então tem essa riqueza de você poder ver formas e poder ver sonhos, coisas que se completam na sua cabeça de observador”, completa.

Mundo que destruímos

A palavra ”Orí” pertence à língua iorubá e expressa de forma metafísica e elegante os significados poéticos da cabeça, de uma cabeça, de cabeças em geral, relativa ao corpo que a suporta e ao contexto com o qual os dois se relacionam. Já o nome “Tupinambá” é uma forma de pontuar geograficamente aqueles que aqui estavam no Brasil antes da colonização, os povos originários. "A exposição retrata um mundo que se entende e pensa perdido, um mundo que destruímos. Mas um mundo que, apesar de tudo isso, sobrevive de alguma forma dentro da gente, na base da nossa cultura, na base do que é ser brasileiro, ser baiano, ser latino-americano", afirma o artista, que se debruçou sobre uma pesquisa para tentar entender como dar forma a essas esculturas.

José Ignácio compreende seu trabalho como instrumento de construção de pontes entre o presente e o passado. "O conhecimento e engenho da ocupação do nosso continente durante quase dez mil anos por índios de uma etnia profícua, sonhadora e empreendedora não se pode destruir. De ser assim, pode então ser [ao menos] resgatado", conclui.

O artista carrega inquietações intelectuais que o conduzem entre o afeto pela geografia continental. O tema da exposição vem também de um impulso, de uma paixão que Ignácio tem pela antropologia, o estudo científico da humanidade. O interesse pelos povos originários vem de um movimentos em paralelo a essa paixão. “Já que queria entender, aspirar a tentar entender antropologicamente a criação do nosso país”, afirma.

Ignácio descobriu que queria e podia pintar pouco depois dos 20 anos, quando estudava arquitetura. Ele descreve seu envolvimento com a arte, que o acompanha até hoje, como uma das poucas certezas que teve em toda a sua vida.

“Não é algo que foi crescendo, um dia aconteceu. Eu descobri que podia pintar. O poder me fez querer e a partir daí comecei a construir uma carreira” conta. A paixão mais tarde se desdobrou para contemplar novas formas, quando o pintor também sentiu a necessidade de esculpir.

José Ignacio trabalha em escultura
José Ignacio trabalha em escultura | Foto: Juliana Rabinovitz / Divulgação

Filho de pais cubanos, José Ignacio Suarez Solis chegou ao Rio de Janeiro ainda durante a infância, instalando-se na Bahia a partir de 1974. Entre 1987 e 1993 estudou nos Estados Unidos, inicialmente em Nova York e em seguida na costa oeste, onde se graduou Bacharel em Arquitetura pela University of Oregon.

Seu primeiro contato com o desenho e a aquarela foi em 1990, em Copenhague, sua primeira exposição aconteceu dois anos depois, ainda no Oregon. Em 1994, volta à Bahia e desenvolve a prática do desenho e da pintura com maior regularidade.

Frequentador do atelier de Carybé, foi influenciado pela prática escultórica envolvendo o uso de ferro batido. Sua experiência durante sua atuação pela América Latina lhe permitiu o aprimoramento de sua pesquisa e uma maior circulação de sua obra, integrando coleções particulares espalhadas pelos lugares em que habitou. Em 2004 fez residência artística em Helsinki, Finlândia, ressignificando o uso de sua paleta.

A decisão de se dedicar totalmente à arte foi tomada apenas há sete anos, após percorrer a América Latina, atuando como gerente de projetos no setor hoteleiro, colocando em prática sua formação como arquiteto.

“Passei a vida perseguindo minha paixão pela arte, mas também perseguindo um viés muito prático como arquiteto e fazendo obras. Então, para poder fazer pintura, sempre precisei ter claro que [essa] era a minha paixão”, considera.

Orí Tupinambá, por José Ignácio / Abertura: amanhã, 19h / Visitação: 26/04 a 04/06, de terça-feira a domingo, das 9h às 17h30 / CAIXA Cultural Salvador (Rua Carlos Gomes, 57 - Centro, Salvador) / ENTRADA GRATUITA

*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

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