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CADERNO 2

Juarez Paraíso é o grande reverenciado no 145 anos da EBA

Escola de Belas Artes da Ufba homenageia o mestre baiano com mostra no Palacete das Artes

Por Eugênio Afonso

21/12/2022 - 7:00 h
Artista plástico era o principal expoente da segunda geração modernista baiana
Artista plástico era o principal expoente da segunda geração modernista baiana -

Assim como suas obras, o artista plástico rio-contense Juarez Paraíso é um patrimônio cultural baiano. Aos 88 anos de idade e 70 de carreira, o artista está sendo homenageado com a mostra A poética visual de Juarez Paraiso, no Palacete das Artes (Graça). A abertura é hoje, às 18h, na Sala Contemporânea Mário Cravo Júnior, com apresentação da Orquestra de Violões da Escola de Música da Universidade Federal da Bahia (Ufba).

Desenhista, pintor, escultor, muralista, gravador, cenógrafo, ilustrador, crítico de arte, ativista, diretor e professor catedrático da Escola de Belas Artes (Eba) da Ufba por mais de 40 anos, Juarez também é imortal da Academia de Letras da Bahia, ocupando a cadeira de número 39.

“O evento é, principalmente, uma comemoração dos 145 anos de existência da Escola de Belas Artes e, dentro deste contexto, uma homenagem à minha pessoa, principalmente pela dedicação de 42 anos à Eba. Me aposentei no fim do século passado, mas continuo na Escola de Belas Artes do ponto de vista perceptivo, espiritual e físico também”, comenta Paraíso.

Juarez diz ainda que a exposição, cujo propósito é também criar oportunidade para que as gerações mais novas conheçam algumas obras da intensa e produtiva trajetória de 70 anos do artista, é uma pequena mostra do que fez.

“Trabalhei muito com temas relacionados ao erótico, à denúncia, à certa coloração política e ao folclore baiano. À exaltação da Bahia de um modo geral. Meu trabalho tem um sentido mais orgânico, mais barroco”, comunica Paraíso.

O público vai se deparar com desenhos de linhas sinuosas e rebuscadas, gravuras com texturas trabalhadas em preto e branco, pinturas em cores vivas, esculturas, técnicas mistas, fotografias e artes gráficas. Vai poder sentir também a renovação das composições da arte digital, produção iniciada a partir dos anos 1990, dando continuidade à rica trajetória do artista baiano.

Escola centenária

E além de reverenciar esse ilustre mestre das artes que tem inúmeros trabalhos espalhados pela cidade, como o painel do Museu Geológico da Bahia, a mostra também comemora o quase sesquicentenário (145 anos) da Eba.

Uma escola fundada em dezembro de 1877 – a segunda Escola de Artes do Brasil – e incorporada à Universidade Federal da Bahia em 1948.

Com coordenação geral do diretor da Eba, Paulo Roberto Ferreira Oliveira, e curadoria dos professores Dilson Midlej, Luiz Alberto Freire e Nanci Novais, a mostra é um reconhecimento à valiosa contribuição do multiartista à Escola de Belas Artes, principalmente no período da modernização do ensino, quando Juarez liderou os colegas de sua geração no embate entre as correntes modernizadoras do ensino da arte e a rígida estrutura acadêmica da época.

De acordo com Dilson, como a mostra versa sobre as poéticas do artista e pretende apresentar um panorama às novas gerações, a comissão de curadores escolheu obras bem representativas do escultor.

“O critério utilizado foi selecionar trabalhos que evidenciassem tanto o talento e a versatilidade do artista, quanto os principais temas e problemáticas abordadas”, cita Midlej.

O homenageado garante que, em sua produção artística, procura expressar sua percepção de mundo lidando com os aspectos temáticos mais variados.

“Não tenho nenhum compromisso com uma temática nem com um estilo específico. De modo geral, meu trabalho tem muita organicidade, muita curva. Tem uma relação com o micro e com o cosmo. Eu era profundamente ligado ao aspecto da interrogação cósmica”, enfatiza Juarez.

Multitalentos

Dilson lembra ainda que Paraíso se destacou como secretário geral das duas bienais nacionais de artes plásticas (mais conhecidas como Bienais da Bahia), nos anos de 1966 e 1968, e também como colunista de arte, nos anos 1960 e 70, dos jornais A TARDE, Diário de Notícias e Tribuna da Bahia, além de criar murais em espaços públicos e privados.

“Desde os anos 1960, quando era o principal expoente da chamada segunda geração modernista baiana, Juarez participou de exposições e promoveu inúmeras outras, apresentando obras que refletem valores humanitários e libertários e que, em diversos momentos, confrontaram o conformismo do meio artístico e o ensino de arte na Bahia”, destaca Midlej.

Para o curador, Paraíso tem uma importância fundamental para as artes na Bahia, mas ainda não é devidamente valorizado pela população. “Os baianos podem se lembrar de diversas decorações de Carnaval ou saber ser ele o autor de alguns murais públicos, como o da Secretaria de Agricultura, mas em geral desconhece sua obra, não têm familiaridade com sua rica produção, sendo esta uma das razões, por sinal, de estarmos promovendo essa exposição/homenagem”, finaliza Dilson.

Minibio

Nascido Juarez Marialva Tito Martins Paraiso, no município de Rio de Contas, em 3 de setembro de 1934, Juarez é um artista plástico baiano que reúne inúmeras exposições individuais e coletivas, prêmios, esculturas em espaços abertos em muitos pontos do Brasil, sobretudo em Salvador, além de obras adquiridas por museus internacionais.

É integrante da denominada segunda geração de artistas modernos da Bahia, juntamente com Calasans Neto, Sante Scaldaferri, Jenner Augusto, dentre outros. Sua primeira exposição individual foi realizada em 1960 na Biblioteca Pública do Estado da Bahia. Uma das marcas fortes de seu trabalho é o entrelaçamento de formas circulares de conotação orgânica.

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