CADERNO 2
Lançado disco com músicas da dupla Dori/Paulo César Pinheiro
Mônica Salmaso chamou Dori Caimmy para lançar um trabalho só com composições dele e de Paulo César Pinheiro
Por Eugênio Afonso
“Fazer música profissionalmente não é uma tarefa fácil, mas a gente faz, insiste, resiste, produz fazendo o nosso melhor e a estrada vai se formando. Tenho orgulho da minha estrada e trajetória e me sinto uma folha de um galho desta árvore da Música Popular Brasileira (MPB) criada por todos os meus heróis. O público que nos ouve e assiste tem todas as idades. É só uma questão de fazer chegar”.
Essa é Mônica Salmaso, 51, intérprete paulistana pouco afeita a modismos, que segue apostando em um som que fala de um Brasil profundo, caipira, dos longínquos recônditos. Um país da mistura, do afeto, do respeito à natureza, da beleza, da toada, do frevo e do afoxé.
Aquele do sotaque, dos pássaros, rios, mar, sertão e céu estrelado. De Guimarães, Amados, Jobins, Arys, Caymmis, Suassunas, Cabrais de Mello Neto e Pinheiros. “O Brasil que, neste momento, está mais quebrado e que, por este mesmo motivo, é imperativo cantá-lo e reafirmá-lo”, enfatiza a artista.
Fã da obra do cantor e compositor carioca Dori Caymmi, 78, que, ao lado de Chico Buarque, é responsável pela formação emocional de Mônica (segundo a própria), a intérprete convidou o irmão de Nana para lançarem um disco só com composições dele e de Paulo César Pinheiro, com a condição de que ele também cantasse.
O resultado é Canto Sedutor, um disco todo pontuado por viola caipira, sanfona, percussão, piano, flauta, violoncelo, e já disponível nos principais tocadores virtuais de música. O lançamento oficial acontece este final de semana - sábado, 11, e domingo, 12, em um show no teatro Paulo Autran, em São Paulo.
Com produção musical de Teco Cardoso (marido da cantora), o álbum está previsto para sair em formato de CD, pela Biscoito Fino, no final do mês. E Mônica acha importante frisar que o disco não é só dela, mas também de Dori.
“É um precioso encontro que a vida me deu de presente. O propósito do trabalho é o nosso encontro, e a beleza das músicas do Dori com letras do Paulo César ser tratada com amor e carinho. Há gerações de músicos, intérpretes e compositores que, como eu, amam essa música. Eu vivo desta música. Sempre vivi”, observa Salmaso.
Dori endossa as palavras de Mônica e conta que no período pandêmico eles fizeram algumas lives juntos, daí veio o convite dela para fazer Canto Sedutor. Ele aceitou na hora e diz que foi mesmo uma maravilha o encontro dos dois.
“Se pudesse escolher hoje para cantar seria ela ou a Nana Caymmi. O que realmente me instigou, e vem acontecendo há algum tempo, é a beleza do canto da Mônica. O que me chama para esse tipo de trabalho é a maravilhosa cantora que ela é”, derrete-se em elogios, o compositor.
Combinação de tons
Já com relação à seleção do repertório, Mônica conta que Dori deu total liberdade para que ela escolhesse as músicas a seu bel prazer.
“Reouvi sua discografia toda, fiz uma lista grande de músicas que gostaria de cantar e fui lapidando a escolha. Primeiro, achei que seria bom me ater à parceria mais constante em sua obra (e que segue com uma produção em curso), com Pinheiro. Depois, dei preferência às músicas em cujos tons a gente combina pra que pudesse cantar juntos o máximo possível, já que era um sonho ver minha voz junto à dele”, resume a artista.
No final, 14 canções da lavra da dupla Dori/Paulo César, sendo três inéditas - Canto Sedutor, A Água do Rio Doce e Raça Morena -, formatam o disco. As outras são Velho Piano, Desenredo, Estrela de terra, História Antiga, Vereda, Voz de mágoa, Delicadeza, Quebra-mar, À Toa, O Passo da Dança e Flauta, Sanfona e Viola.
Tradição popular
Além do prazer de cantar com Mônica e de reconhecer que foi um cruzamento de trajetórias, Dori acha importante afirmar que esse é um disco que tem tradição, novidade, mas que é, sobretudo, uma declaração de amor ao Brasil.
“Minha música quer falar desse Brasil que sempre pensei e que vou morrer pensando. Que vem da tradição de uma música popular. Que vem da geração do Ary, do Noel, do Pixinguinha, da Chiquinha Gonzaga, que vem de tanta gente, e isso vai chegando pra nós e a gente foi crescendo e amadurecendo um pouco no campo harmônico, graças a Jobim, a (João) Gilberto”, reconhece o filho de Dorival.
E mesmo tendo outros compositores como parceiros musicais, Dori afirma que Paulo César Pinheiro foi a escolha natural e ideal para esse trabalho. “Ele é meu parceiro há mais de 50 anos. Então, era ele ou não tinha outro”, finaliza, taxativo, o cantor.
Canto Sedutor tem flauta de Teco Cardoso, violão e arranjos do próprio Dori, piano de Tiago Costa, baixo acústico de Sidiel Vieira, viola caipira de Neymar Dias, acordeon de Lucinha Alencar e percussão de Bré Rosário. O Duo Imaginário - Adriana Holtz e Vana Bock - entra com os cellos, e o disco ainda conta com a participação da St. Petersburg Studio Orchestra.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Cidadão Repórter
Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro
Siga nossas redes