CADERNO 2
Mata de São João sedia 3ª edição do FLIPF no próximo fim de semana
Evento acontece entre os dias 4 e 7 de agosto, além de contar com toda a programação gratuita
Por Victor Hernandes*
O distrito de Praia do Forte, em Mata de São João (Grande Salvador) será palco para a literatura no próximo final de semana. Trata-se da terceira edição da Festa Literária Internacional da Praia do Forte - FLIPF, de 4 a 7 de agosto, nos espaços Baleia Jubarte e Castelo Garcia D ´Ávila, de forma gratuita.
Após dois anos virtuais por conta da pandemia, o evento retorna de forma presencial com a participação de autores de diversas gerações distribuídos em mais de dez mesas.
No mesmo ano em que se comemora o centenário da Semana de Arte Moderna, a FLIPF terá como temática Bahia Moderna Bahia. A ideia é destacar as primeiras gerações literárias do modernismo no Estado. De acordo com a jornalista e curadora do evento, Josélia Aguiar, a escolha do tema se deu por conta da importância da entrada do movimento modernista na Bahia.
“Chegamos à conclusão que seria mais interessante entender como a Bahia iria se tornar moderna no século 20. A partir não exatamente de uma influência de 22, mas por um conjunto de fatores. Os próprios artistas locais tiveram contato direto com as vanguardas e com outras influências, além de São Paulo. Teve até visitas de atores de fora do país. Quisemos trazer este assunto, que é muito interessante, belo e abrangente na cena cultural baiana”, afirma Aguiar.
Além destes temas, o evento pretende discutir também assuntos atuais em pauta no Brasil. A curadora explica ainda que os temas discutidos constantemente no universo literário também vão fazer parte do festival.
“Há sempre uma preocupação de trazer o que está acontecendo no país, sobretudo fazer um diálogo com a produção baiana. Algumas questões têm sido recorrentes na cena literária e artística brasileira nos últimos anos. Sempre é importante trazer, em várias mesas, a discussão de uma nova forma de pensar a arte e a literatura a partir de paradigmas não ocidentais”, diz a organizadora.
Outro cuidado da curadoria foi proporcionar espaços para escritores que não tinham oportunidades em eventos literários. “Tínhamos também essa preocupação de estarmos interessados em autores indígenas e negros, que não tiveram espaços nas curadorias. Temos uma mesa específica com a artista e curadora indígena Naine Terena, que vai conversar, no domingo, com produtores culturais de Praia do Forte”, comenta a jornalista.
A experiência de estar em um balneário é um dos objetivos propostos pela FLIPF. O distrito, localizado na cidade de Mata de São João, possui importantes projetos e lugares com grande significado para a literatura, meio ambiente e história. Um exemplo disso é o Castelo Garcia D'Ávila, onde acontece uma parte do evento. Para Aguiar, a realização desse festival na Estrada do Coco tem uma grande importância para a Região Metropolitana de Salvador.
“O diferencial da FLIPF, com o vigor de ser uma novidade, é a experiência de estar em Praia do Forte. Um lugar extremamente importante, bonito e muito relevante para a questão ambiental. Inclusive tem o Projeto Tamar, entre outros. Acho que a experiência de ir para esse lugar de pensamento é um importante diferencial da festa”, destaca Josélia.
Para todos os gostos
Visando construir uma programação que abrangesse todos os públicos, o evento terá também a participação do psicanalista paulista Christian Dunker. Ele foi convidado para abordar questões sobre relacionamentos familiares, amorosos e a vida pós-pandemia.
Segundo Josélia, a curadoria prezava também por realizar mesas que, mesmo sendo de literatura, tivessem abordagens acessíveis para o grande público, e contemplassem aquelas pessoas que não consomem livros constantemente.
“Pensamos também nessas pessoas que vão para a festa literária e não estão sempre lendo. Foi preciso criar uma forma de conversa acessível e variada. A ideia é que cada pessoa encontre algo de seu interesse. A gente não quer ficar muito preso a questões técnicas da literatura. Queremos que o autor conte um pouco mais sobre o processo literário, de como é inventar esses mundos e de escutar outros temas”, revela a jornalista.
As mesas da festa literária contaram também com autores de diferentes gerações. Dos mais consagrados aos estreantes. Um exemplo disso é a escritora Kátia Borges, que vai fazer parte da mesa denominada Bahia Moderna Bahia, nesta sexta, 05, às 10h, ao lado de Lia Robatto e Francesco Perrotta-Bosch. Para a autora, a participação neste evento será de muito diálogo com diversas frentes temáticas.
“Fiquei muito alegre com o convite para falar da literatura baiana no início do século. Abordaremos sobre a recepção do modernismo de 22 na Bahia e o eco desses movimentos em 1950 com a geração mapa. Terá muita coisa interessante para falar sobre como a literatura baiana vai se constituindo. A territorialidade e o desenho da cidade vão também formando esses grupos. Vai ser um diálogo com muitas frentes para explorar”, observa Borges.
A escritora, que realizou seu mestrado e doutorado na área do modernismo, relembra também que, além desse tema, outras reverberações literárias serão apresentadas por ela na mesa. Uma dessas diz respeito à arquiteta Lina Bo Bardi, importante figura do movimento modernista na Bahia.
“A gente tem um tema central, mas nada impede que possa expandir este tema a outros assuntos. Não há uma coisa determinada, mas vamos falar também da Bahia de Lina e da Bahia que fundou suas bases culturais em 1956”, comenta Kátia.
Já o autor, ator e apresentador baiano Aldri Anunciação participará da mesa Eu vi o mundo, cuja temática passa pelas visões e histórias do escritor e suas múltiplas linguagens acerca da ficção.
“São visões que partem do lugar de família, de uma subjetividade preta em um país branco. Histórias de um cidadão que busca sempre o diálogo como uma ferramenta. Pretendo trazer visões que trazem cruzamentos culturais a partir de minha origem, mas cruzando com os destinos que vivenciei. Esse confronto de pensamento do sujeito com o coletivo é o que me interessa”, conta Anunciação.
Outras línguas
Escritores e autores internacionais também estão na programação da FLIPF, como a argentina Ariana Harwicz. Uma das atrações internacionais, o poeta angolano Ondjaki pretende abordar algumas questões políticas e sociais na mesa em que vai participar.
“A arte toda anda perto da política, do social e do humano. É difícil dissociar a literatura da política. Hoje em dia, dadas as desigualdades presentes no mundo, viver já é político, e sobreviver passou a ser humano” contempla o angolano.
A FLIPF acontece de forma gratuita a partir desta quinta-feira, 04, até o próximo domingo, dia 07 de agosto. O festival visa atender também leitores do público infantil, com apresentações artísticas, feira de livros e impressos, além de uma vila gastronômica.
As principais atividades serão transmitidas ao vivo pelo canal da festa no YouTube e no site flipf.com.br, no qual o público pode conhecer toda a programação com detalhes sobre dias e horários. A organização disponibilizará transporte gratuito entre os dois locais onde vão acontecer o evento.
*Sob a supervisão do editor Eugênio Afonso
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