Música 'Tempos de Escola' reflete sobre pautas sociais

Quatro jovens nordestinos, cantores de rap e trap, lançaram no último dia 11, o single Tempos de Escola. Jovem Dex, Brandão85, Alee e Dimme Roots interpretam a música que faz inúmeras reflexões acerca de importantes pautas sociais que perpassam pelo cotidiano deles.

A composição é também uma viagem ao tempo da infância e escola dos jovens. Ela chega acompanhada de clipe, que após uma semana de lançado já alcançou a marca de quase meio milhão de visualizações.

De acordo com Jovem Dex, voz principal da canção, as críticas propostas por ele são baseadas em experiências pessoais, onde o atual modelo político governamental tirou o direito de acesso à educação de muitos de seus amigos durante a infância.

“Essa música é algo mais pessoal de minha vida, de coisas que passei e presenciei. Minha infância foi isso. Vi vários amigos e conhecidos morrerem porque o sistema tirou o acesso deles à educação. E justamente por não terem direito ao ensino, eles foram para o crime, aquele mesmo fim trágico de sempre”, reflete.

A questão da representatividade é também proposta pelo cantor nos versos do single. Dex diz que sua canção faz com que as pessoas se identifiquem e relembrem algumas situações abordadas na letra.

“A representatividade é mais um ponto. Todos os integrantes da música estão falando sobre infância e nostalgia. Isso faz com que as pessoas se identifiquem. Elas podem escutar a canção e pensar também que já passaram por isso que a música está dizendo”, comenta.

Outra voz presente na canção é a do rapper baiano Alee. Além de trazer suas vivências, o artista alerta sobre o preconceito e a discriminação que a sociedade tenta ocultar de diferentes maneiras. Para o intérprete, o objetivo é mostrar o sentimento de resistência e luta das pessoas por todos os seus ideais.

“Retrato mais o meu passado, o que vi, o que ouvi e os preconceitos que acontecem no cotidiano, que o sistema e algumas pessoas da sociedade fecham os olhos. A gente veio para dar um grito mesmo, para acordar. Falamos sobre outras coisas também, como o dinheiro. Alertamos essas questões que a sociedade tenta esconder. Quis trazer na música essa sensação de luta, das pessoas lutarem por seus ideais e por tudo aquilo em que acreditam”, relata Alee.

Pautas sociais

Além de falar a respeito das disparidades sociais do Brasil, Tempos de Escola faz importantes reverberações sobre as temáticas da infância saudável e da vida livre sem violência. Segundo Dimme Roots, rapper feirense, o single faz analogias e metáforas com questões atuais de descaso com o meio ambiente brasileiro.

“A composição tem uma letra que é muito atual. Aborda as queimadas na Amazônia, o preconceito da sociedade, dentre outras questões. É uma música que vem muito do tema social, mas isso também já é bem da cultura do rap e reggae, conhecidas por expressar vontades populares e gritos que a sociedade não escuta”, alerta Roots.

A identificação e o reconhecimento das temáticas apresentadas na canção são pontos de destaque que o músico gosta de ressaltar. Para Roots, parte do público das comunidades periféricas, que aprecia o trabalho dele e de seus colegas, reconhece todos esses problemas e dificuldades que são atemporais no cotidiano social.

“Sabemos que muita gente se identifica com aqueles versos e ideias. Temos uma parte do público que é de periferia, que faz o que a gente fazia, ou tenta fazer. Hoje os tempos são outros e as coisas estão diferentes, como canto na minha parte”, observa o compositor.

Já para o rapper cearense Brandão, que além de produzir a música também participou da gravação, todo o processo da composição ocorreu de forma espontânea e com grande fluidez.

“A maioria das nossas músicas surgem naturalmente. Foi tudo fluindo, todo mundo falou de sua vivência. Quando fazemos letras sobre a realidade, com nossos sentimentos e vivências, é difícil não ficar bom. Ver toda essa obra sendo criada foi sensacional” , afirma Brandão.

Do rap ao reggae

O single, que já tinha sido gravado há dois anos, só foi lançado oficialmente na semana passada, exatamente no dia nacional do reggae. O ritmo jamaicano também marca presença em Tempos de Escola. O feat com Hélio Bentes, vocalista da banda de reggae carioca Ponto de Equilíbrio, transborda a sonoridade do single.

“Para nosso lado artístico foi muito bom. Uma sensação de que cumprimos o legado. Principalmente nessa data tão especial e simbólica. É muito gratificante para nós que estamos no mesmo ramo. Uma sensação muito boa de estar passando a mensagem que a gente quer, da forma que quer. Foi maravilhoso esse simbolismo do dia, junto com a música e com a banda Ponto de Equilíbrio”, exalta Brandão.

Consolidado como um dos maiores nomes do trap nacional, Jovem Dex acredita que essa junção de estilos musicais é muito positiva para o seu projeto.

“É muito bom. Trouxe uma identidade a mais para o trabalho, uma representatividade maior, algo que é bastante importante e que foi lançada justamente no dia do reggae”, destaca Dex.

Os cantores fazem parte da Hash Produções, companhia baiana que representa e dá voz ao rap e trap nacional, e também aos artistas nordestinos. As raízes sonoras dos jovens músicos são oriundas do reggae, rap e trap e se desdobram em uma sonoridade com diferentes identidades.

“A gente do Nordeste já tem isso, curtimos muito o reggae, o trap e isso tudo somou na nossa musicalidade e na forma como brincamos com as palavras. Desde sempre, a gente escuta Ponto de Equilíbrio, eles eram uma de nossas referências. Isso tudo vai moldando a gente para fazer cada vez mais músicas melhores. Estamos aprendendo cada vez mais a cada dia”, comenta o músico cearense.

Tempos de Escola é um single poético, mas com marcas de lutas e vibrações positivas, que passeia pelo reggae com rimas nas batidas do rap e do trap. A música pode ser encontrada nas plataformas de streaming. Já o clipe pode ser assistido no canal do YouTube da Hash Produções.

*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.