MÚSICA
O guru baiano
Em Andar com Gil, músicos Delia Fischer e Ricardo Bacelar retrabalham canções espiritualizadas de Gilberto Gil
Por Tamires Silva*
Andar com Gil, álbum que reúne os músicos Delia Fischer (voz e piano) e Ricardo Bacelar (voz e vários instrumentos) em torno da obra do músico e compositor baiano Gilberto Gil, chegou às plataformas de streaming em janeiro último, pelo selo Jasmin Music.
Produzido a quatro mãos e gravado em Dolby Atmos no Jasmim Studio, em Fortaleza, o álbum acústico destaca o piano e as vozes de Delia e Ricardo, em um repertório que privilegia as canções de Gil que falam de espiritualidade.
O projeto conta com a participação especialíssima do próprio Gil na gravação da música Prece.
Delia Fischer e Ricardo Bacelar já haviam feito colaborações pontuais, mas só agora lançam um álbum totalmente concebido e gravado em dupla. No repertório, além de canções como Prece (que além de Gil terçando vozes com Delia e Ricardo, ainda conta com Jaques Morelenbaum no violoncelo), estão clássicos como A Paz, Oriente (gravada com instrumentos típicos da música indiana), Se eu quiser falar com Deus, Andar com fé, Cada tempo em seu lugar, São João Xangô Menino e Aqui e agora.
“Como o Gil é um excelente violonista, quisemos criar novos arranjos a partir do piano: ele é o fio condutor de todo o álbum. Ricardo, que é multi-instrumentista, trouxe ainda vários instrumentos de percussão, teclados e cordas”, conta Delia.
“Gil nos pareceu a pessoa mais próxima de nós, por ser uma pessoa muito completa. Ele é um compositor que tem as letras brilhantes, as melodias e harmonias maravilhosas e é um exímio instrumentista. O que eu acho que nos aproxima do desafio de traduzir as músicas dele no piano. O violão dele é muito característico e tem uma personalidade própria, então a releitura da obra com outros instrumentos no piano já gera um desafio muito interessante, além da nossa admiração mútua por esse artista”, detalha a musicista.
Délia ainda conta que o álbum é fruto do convívio agradável e intenso que ela e Bacelar tiveram durante o processo de criação no estúdio
As decisões acerca do álbum eram sempre feitas em conjunto, como a escolha de trabalhar com o piano, um instrumento que ambos tocam.
Os artistas admitem que a dupla tem “cabeça de produtor”, o que auxiliou na hora de moldar as músicas conforme as necessidades deles, o objetivo era sempre fazer com que as melodias, arranjos e letras pudessem conversar com os ouvintes de forma íntima e pessoal.
Bacelar conta que a coisa mais interessante durante a gravação desse álbum foi a experiência de cantar em uníssono, pois as suas vozes em conjunto deram um corpo à música que eles não haviam experimentado antes.
“Nunca tinhamos gravado juntos, cantando ao mesmo tempo, aí descobrimos que nossas vozes são complementares: eu tenho uma voz pro meio grave, e Délia tem uma voz para o médio agudo. A experiência de gravar foi muito enriquecedora, tudo transcorreu de forma muito natural, temos muita sinergia juntos, vindo da nossa amizade”, descreve Bacelar.
Conexão com o divino
A escolha de homenagear Gilberto Gil veio da paixão de Délia e Bacelar pela obra de Gil, assim como a conexão ao divino que os três compartilham, que norteou o propósito do estilo musical e a escolha das músicas a serem tocadas nesse álbum.
“Pelo fato das obras de Gil serem muito vastas e complexas e heterogêneas, decidimos fazer esse recorte da espiritualidade, porque acreditamos que o momento chamava por isso, passamos por uma pandemia, estamos passando por uma guerra, teve aquela eleição ano passado, estamos passando por um momento de muita polarização no país, então acredito que não há nada mais propício e interessante a se falar do que a espiritualidade”, afirma Delia.
“Eu tenho uma conexão espiritual muito ampla, acredito em muitas coisas, e acho que a música é um veículo de comunicação com o divino, independente da sua crença ou da sua religião, mas a música sempre foi esse veículo de conexão entre o ser humano e as divindades da natureza”, acrescenta.
Já Bacelar faz a conexão entre seus estudos de música indiana, que é muito ligada ao espiritual e as obras mais espiritualizadas do gênio baiano. “Desde a época da pandemia, eu estou estudando música clássica indiana, que é uma música de louvor, de conexão com o divino. Eu acho que toda música tem essa conexão com o divino, a voz é a comunicação da nossa alma, quando a gente canta a gente se conecta com o divino. E o Gil fala muito sobre isso, ele é muito conectado com a questão espiritual, desde as matrizes africanas com a questão da meditação, até em músicas como Aqui e Agora, Se Eu Quiser Falar Com Deus, são músicas que trazem essa conexão, é muito forte na obra dele, mesmo quando você acha que ele não está falando sobre isso, ele tem sempre esse referencia espiritual muito forte”.
“E isso tem haver com minha busca desse equilíbrio, de trazer essa paz e essa harmonia que a música pode trazer para as pessoas”, conclui.
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
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