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CADERNO 2

Orquestra Afrosinfônica da Bahia resiste para seguir atuando

Luta diária encampada pelo Maestro Ubiratan Marques vive dificuldade até para os ônibus dos músicos

Por Lila Sousa*

27/11/2022 - 5:45 h | Atualizada em 27/11/2022 - 22:22
Maestro lembra daqueles que vieram antes, atravessando as mesmas dificuldades, porque não tiveram nenhum tipo de apoio
Maestro lembra daqueles que vieram antes, atravessando as mesmas dificuldades, porque não tiveram nenhum tipo de apoio -

“Se as outras orquestras não tivessem apoio elas existiriam?”, esse é o questionamento feito por Ubiratan Marques, maestro da Orquestra Afrosinfônica da Bahia, ao refletir sobre as dificuldades enfrentadas pelo projeto. Um coletivo de pessoas negras que se reúnem em torno da música de matriz africana, para o maestro, tripé da música brasileira.

Ao evidenciar o problema enfrentado pela Afrosinfônica, o maestro lembra daqueles que vieram antes, atravessando as mesmas dificuldades, porque não tiveram nenhum tipo de apoio. Nomes ligados a música popular brasileira, e principalmente, ligados ao ativismo. “Vou falar de Alberto Nepomuceno, abolicionista, um gênio da música que é influência pra gente hoje. Nós temos a Orquestra Afro-brasileira, do Abigail Moura, um mineiro que esperava o ensaio da orquestra acabar e depois quando todo mundo ia embora ficava pra ensaiar”, destaca o maestro.

Moacir Santos, outro grande artista, também citado por Ubiratan, teve que ir embora do país porque não encontrou apoio. Ele foi para os Estados Unidos trabalhar em Hollywood, deixando no Brasil uma lacuna pela perda das suas obras.

“Fazendo um rascunho das referências, Nepomuceno; a Orquestra Afro-brasileira; Moacir Santos; e depois nós temos os contemporâneos, a Rumpilezz, meu querido e saudoso amigo Letieres Leite que está junto comigo nesse movimento, e a Afrosinfônica que, de certa forma, encontra as mesmas dificuldades porque são orquestras ligadas ao ativismo”, afirma Ubiratan.

Toda MPB é Afro-brasileira

Em entrevista concedida ao canal Nós Transalântico, em 2017, Letieres Leite ressaltou que ao observar as músicas nacionais da América, da Argentina até Estados Unidos, vai ter sempre música que sofreu influência de Matriz Africana.

A máxima difundida por Letieres é reafirmada por Ivan Bastos, professor do Curso Superior de Música Popular da UFBA, ao explicar que a música popular tem raízes nos povos originários, sendo resultado da diáspora. “Na Europa não tem uma música popular com essa pujança, a parte rítmica é o que mais se conseguiu conservar. Com elementos marcados na música popular brasileira que são resistentes e marcantes como o congo e maracatu, entre tantos outros”.

O maestro Ubiratan acredita que, quando se gasta com as Orquestras Sinfônicas para fazer música europeia, dando maior visibilidade a uma cultura eurocêntrica sem investir na cultura brasileira – na cultura afro – se revela nesta prática um projeto de apagamento histórico. “Todo mundo sabe quem é Beethoven e Bach no Brasil. Já no Brasil a gente não sabe quem é Moacir Santos. Isso é um absurdo! Não faz nenhum sentido . Os meninos não sabem quem é Luiz Gonzaga ou Clara Nunes. Precisamos investir na cultura brasileira”, clama Ubiratan.

Há espaço para música sinfônica, mas o maestro reflete que é necessário mudar o formato para que essas orquestras incluam em seus repertórios a música brasileira. “Existe uma dificuldade muito grande, porque são orquestras brancas no pensamento, no repertório e no preconceito”, afirma.

Seu Matheus Aleluia aconselhou Ubiratan: “Maestro, a gente não pode se calar! Diante disso a gente não pode se calar, porque se a gente não fala, ninguém sabe do nosso incômodo”. Por isso, o incômodo do maestro ganha as páginas deste jornal. “Meu incômodo é pelo apagamento da nossa história. Porque ainda se investe tanto, em fortunas, numa música que não faz nenhum sentido pra cultura brasileira?”, questiona.

Através da Orquestra Afrosinfônica o sangue negro mostra mais uma vez o quanto é forte, lutando de forma coletiva para continuidade de um trabalho que mantém viva a cultura brasileira. “Todos os trabalhos feitos pela Afrosinfônica são projetos que a gente busca edital, às vezes é muito difícil e a gente resolve fazer por conta própria. ‘Ó gente, cada um paga seu transporte, paga seu ônibus e vamos tocar’. É assim que funciona. A orquestra é mantida pelo esforço de cada um. A gente faz porque sabe que essa é a música do futuro. É a música do Expresso 2222 de Gilberto Gil”, assegura o mestro.

A música brasileira é nobre. Escutar Luiz Gonzaga, Tom Jobim ou Caetano Veloso é tão divino quanto Beethoven e Bach. O pedido feito pelo maestro, de valorização da cultura local, é o desejo de continuidade de tudo aquilo que grandes artistas sonharam.

“O Nepomuceno sonhou, Abigail Moura sonhou, Moacir Santos sonhou. O lugar merecido das orquestras que fazem música brasileira e que fazem essa música com tanto fervor, amor, cuidado, e com tanta erudição, é o lugar de reconhecimento, mas principalmente de conseguir fazer esse trabalho com as ferramentas que precisa, com conforto e o mínimo de respeito”, conclui o maestro.

Funceb estuda apoio

Consultada se há algum programa de apoio ou previsão para algo desta natureza, a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA), respondeu, via email, que, em março último, a Fundação Cultural do Estado da Bahia - Funceb “criou um grupo de trabalho com o intuito de formular propostas que atendam às demandas apresentadas pelas orquestras afro-baianas no sentido de defender uma ação continuada de manutenção das mesmas e que preveja espaços que acolham suas estruturas”.

“Integraram este GT a Orkestra Rumpilezz e a Orquestra Afrosinfônica da Bahia. (..) A Funceb estuda, neste momento, a viabilidade de políticas públicas que atendam às demandas das instituições, considerando sua importância e protagonismo artístico para a cultura no estado da Bahia”.

Em tempo: nesta quarta-feira (30 ) a Orquestra Afrosinfônica realiza o Concerto Vozes Negras, com a participação especial de Russo Passapusso, às 19h, no estacionamento do Terminal de Ônibus Pituaçu, com patrocínio do Instituto CCR e CCR Metrô Bahia.

*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

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