CADERNO 2
Peça '5 segundos' é a atração do domingo no TCA
Espetáculo se passa na 2ª Guerra Mundial e é protagonizada por dois combatentes que ficam cara a cara por 5 segundos, mas não se enfrentam
Por Victor Hernandes*

Retratar o choque entre princípios éticos e interesses sociais, eis o cerne do espetáculo teatral 5 segundos, atração do Domingo no TCA, que acontece neste domingo, 1º, às 11h. A peça, escrita pelo professor e historiador Ricardo Carvalho, se passa na Segunda Guerra Mundial e é protagonizada por dois combatentes que ficam cara a cara por cinco segundos, mas não se enfrentam.
Segundo Ricardo, a história foi inspirada na experiência real vivida por um pracinha baiano, que lutou na guerra. Após escutar o relato, ele teve a ideia de converte-lo em uma peça de teatro.
“O mote do espetáculo é uma história humana e real. Um ex-combatente me disse que certa vez no campo de batalha, ele tinha encontrado um inimigo alemão do exército nazista. Naqueles cinco segundos ele disse que a vida dele passou por sua cabeça, e que não queria matar, e nem morrer. Pensei que isso daria uma dramaturgia e fui construir o que seria as lembranças, expectativas e sonhos desses dois homens, colocados frente a frente em um momento crucial de batalha”, explica.
Para o historiador, o intuito da peça não é ser uma aula sobre a Segunda Guerra Mundial, mas sim um grande espetáculo dramatúrgico, que visa emocionar o público.
“Tive que fazer todo o trabalho de filtragem para que não se tornasse uma aula interpretada. A obra é um drama humano, que está no contexto da guerra. Se montou um trabalho de arte que traz informação, mas por ser uma peça de teatro a intenção é mexer e emocionar as pessoas. A informação vem como consequência, não pode ser o foco”, afirma.
O enredo do espetáculo também traz o contraste de dois homens de culturas distintas. Levantada no roteiro da obra, as etnias diferentes mostram que mesmo sendo adversários, os personagens se identificam nestes pequenos segundos, como explica Carvalho. “Apesar de serem dois homens de origens, geografia e regimes diferentes, há algo que os aproxima que é o sonho, o horror da guerra e a luta pela sobrevivência. A questão cultural ali é colocada à margem por tudo isso que faz parte destes dois homens. Mesmo sendo de universos diferentes eles fazem parte do mesmo mundo e da mesma realidade”, observa.
Desafios
Além do desafio de trazer esses conflitos culturais e de princípios sociais, 5 segundos também é desafiador na interpretação e construção dos personagens.
De acordo com o ator Igor Epifânio, a arte do encontro de seu personagem com outros do elenco é o grande desafio desta produção teatral.
“A arte de encontro é o grande desafio do teatro. Gosto muito de trabalhos assim, baseados em fatos reais. Interpretar para mim neste contexto é muito rico, e me sinto mais desafiado a aprofundar minha interpretação. Entramos mais lá dentro deste universo que é particular, mas muito plural. O fato da gente falar de guerra e da catarse masculina, de dois homens se emocionarem, se escutarem, e se encontrarem é muito bonito”, pontua.
Outro desafio do espetáculo foi converter a história real, que aconteceu por cinco segundos, em uma produção teatral roteirizada para 50 minutos. Apesar do momento ter acontecido em poucos segundos, a profundidade por trás das questões éticas e morais dos dois soldados transformou-se em cenas estruturadas nos conflitos pessoais que os personagens enfrentam.
“O espetáculo tem essa estrutura de ter cada segundo como se fosse um ato e um mergulho dentro daqueles dois mundos. Cada segundo tem um espaço. Quando li o texto, meu maior desafio era dar vida àquelas palavras, para tirar daquele contexto do papel e trazer para carne. Queria encontrar pessoas, linguagens e universos parecidos”, conta Epifânio.
Diálogos e encontros
A elaboração dos diálogos é outro ponto positivo de 5 segundos. A partir do encontro dos personagens, há uma nova perspectiva no enredo e na trajetória deles. Mesmo imersos em situação de guerra e polarização, os jovens completamente diferentes conseguem se encontrar em um ponto comum, ressalta Igor.
“O público também vai sentir o diálogo. Existe o sonho e a ideia de cada personagem rever seu próprio mundo, a partir do mundo do outro. Apesar de estarmos falando em um contexto de guerra, neste encontro há o diálogo e uma escuta amorosa. São dois jovens que precisavam se matar porque o sistema os levou a isso, porém eles escolhem conhecer mais sobre o outro. Eles enxergam que se complementam e naqueles cinco segundos a vida toda passa pela frente”, contempla.
Apesar de ter vivido dentro de uma bolha, isolado, o personagem de Igor consegue conhecer outros ideais através deste marcante encontro com seu “adversário”.
“Este projeto fala também deste encontro de duas ilhas que resolvem se escutar. Meu personagem viveu dentro de uma mesma ilha e ideia na vida toda. Ele encontra outro cara completamente diferente e vai ganhando uma camada de esperança dentro disso. Um trabalho como esse dá espaço para que os atores exercitem de uma maneira mais aprofundada”, diz o ator.
Além dos encontros dos personagens, os atores do elenco de 5 segundos também se conectaram em uma grande sintonia, que é reverberada por Epifânio.
“Existe uma troca extremamente generosa e de admiração mútua entre nós atores. Desde o primeiro momento que entrei neste trabalho me senti muito acolhido. Dentro do elenco tem muita harmonia, porque todo mundo gosta e confia no trabalho do outro. Isso faz muita diferença, estamos ali para dialogar com o público”, comenta.
O elenco da peça conta ainda com os atores Felipe Velozo e Marília Carvalho, que também assina a produção da montagem. Já a direção é por conta de Alan Miranda, Daniel Arcades e do próprio Ricardo Carvalho. O espetáculo está em sua 4º temporada e já tem três anos de existência. As vendas para a apresentação deste domingo serão abertas somente a partir das 9h deste domingo, na bilheteria do TCA.
*Sob a supervisão do editor Chico Castro Jr.
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