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CADERNO 2

Teatro da Ufba apresenta peça baseada em obra de Millôr Fernandes

Texto foi escrito na época da ditadura militar e estreia nesta quinta

Por Eugênio Afonso

16/06/2022 - 6:11 h | Atualizada em 16/06/2022 - 11:02
Três atores e 
uma atriz, em um cenário que mescla futurismo e retrô, compõem o elenco
Três atores e uma atriz, em um cenário que mescla futurismo e retrô, compõem o elenco -

Deboche é o mais novo espetáculo da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Livremente adaptado de um texto do escritor Millôr Fernandes (Computa, Computador, Computa), um dos nossos maiores dramaturgos, a peça estreia hoje e fica em cartaz até domingo, 19, no Teatro Gregório de Mattos, sempre às 19h.

Com direção de Paulinho Machado e orientação dos professores João Sanches e Leticia Bianchi, a ideia do espetáculo é fazer uma crítica à elite brasileira, além de refletir e trazer para o debate temas como responsabilidade socioambiental, censura, corrupção, misoginia, racismo e homofobia.

“A peça é um grande deboche político com pitadas de humor. Visa, através do humor, da ironia, provocar pensamentos reflexivos sobre o atual momento político-social que estamos vivendo. Buscamos dar espaço e voz para essas pautas urgentes, motivando um pensamento mais consciente de classe”, argumenta o diretor.

Tudo isso através da história de uma mulher/atriz que acaba de estrear em um ambiente desconhecido, inóspito e, a princípio, de difícil adaptação: o grande palco que é o mundo, um espaço cercado de paranoia por todos os lados.

Paulinho diz que Deboche é uma montagem lúdica e contemporânea com três atores e uma atriz dando vida a diversas personagens. “Em um diálogo direto com o público, a peça levanta questões e lança luz sobre pensamentos falhos, preconceituosos e elitistas através de um jogo debochado, musicado, engraçado, irônico e dinâmico”.

Discurso atemporal

Apesar do texto ter sido escrito em plena ditadura militar – os torturantes anos de chumbo que duraram pesarosos 21 anos (1964-1985) no Brasil – e da primeira encenação ter sido realizada em 1972, os temas da peça continuam extremamente atuais e só reforçam os valores que a sociedade vem disseminando entre nós desde tempos imemoriais. Na época, Millôr escreveu o texto para a grande dama do teatro nacional, Fernanda Montenegro.

Em uma espécie de radiografia da classe média nacional, Paulinho optou por montar uma comédia musicada e recheada de diálogos debochados. Os artistas Rodrigo Villa (A Bofetada), Walerie Gondim, Heder Novaes e Victor Sampaio são os responsáveis por dar vida aos personagens da trama.

Impressionado com a atualidade do texto de Millôr, Rodrigo revela que seu personagem faz parte de um grupo de seres humanos sem identidades definidas e que existem como extensão da personagem principal, chamada apenas de atriz na peça.

“Eles ilustram as fontes de agruras sofridas por ela numa alusão direta ao machismo, fascismo, nazismo e demais movimentos que nascem dos desvios de caráter oriundos do ser humano”, pontua Vila.

Já a personagem principal, interpretada por Walerie, é uma atriz que precisa entender como vai se comunicar com as pessoas que estão nesse mundo. Em meio a esse caos emocional, suas questões acabam falando um pouco sobre quem somos nós.

“Ela é cheia de complexidades e contradições, assim como a humanidade. Ninguém é uma coisa só. E a história se passa a partir do fluxo de pensamentos dela. Também é significativo o fato dessa história ser contada por uma mulher. Isso também diz muito sobre esse momento em que a gente está vivendo”, observa Gondim.

Para Walerie, o texto de Millôr é super provocador, rico e instigante. “Acho o texto uma flecha, incrivelmente atual. Por um lado, é assustador pensar que foi escrito durante a ditadura militar, por outro é incrível pensar que essa cabeça escreveu sobre coisas que são atemporais e que falam sobre a condição humana de forma mais ampla”.

E para contextualizar toda a movimentação cênica, a artista baiana Padmateo optou por um cenário com uma instalação emulando pistas de dança com estética rock e ferro velho. Sempre fazendo referência ao universo robótico, usou também elementos como fios, antenas e carcaças de aparelhos tecnológicos.

Peça de graduação

Machado, que está finalizando o curso de artes cênicas na Ufba, acredita que a Escola de Teatro segue parindo grandes artistas e movimentando a cena teatral baiana, mas reconhece que estamos vivendo um momento de sucateamento da cultura em todo o país.

“O descaso com as pessoas que produzem arte no Brasil tem se tornado cada vez maior, principalmente nesse atual desgoverno. Sofrer na pele as angústias e indagações que existem dentro de nós, artistas, é de um peso enorme. É de extrema importância que as pessoas frequentem o teatro e conheçam os trabalhos que estão sendo feitos no nosso Estado”, conclama o diretor.

Deboche é o espetáculo de pré-formação em direção teatral de Paulinho Machado. Tem direção de movimento de Daniela Botero, preparação vocal de Ana Scheidegger e figurino de Padmateo. A iluminação está a cargo de Victor Hugo Sá, e a direção musical é do próprio Paulinho.

Para quem não puder assistir desta vez, o diretor informa que a ideia é estrear uma nova temporada, em Salvador, ainda este ano.

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