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12/05/2022 às 6:07 - há XX semanas | Autor: Chico Castro Jr.

CADERNO 2

Tiago Sant’Ana retrata a serenidade do homem negro em telas

Artista apresenta a nova mostra: Estrelas flamejantes em manhã de sol

Leva na garganta uma ferida acesa: “A vida dos negros já está exposta de maneira trágica em diversos lugares”
Leva na garganta uma ferida acesa: “A vida dos negros já está exposta de maneira trágica em diversos lugares” -

Tiago Sant'Ana é, sem favor algum, um dos artistas visuais baianos mais celebrados e premiados entre os surgidos neste século. Com diversas mostras individuais e coletivas no Brasil e no exterior, o santo-antoniense abre nesta quinta-feira, 12, em Salvador, sua mais nova mostra: Estrelas flamejantes em manhã de sol.

Artista que se movimenta com muita fluência por diversas linguagens, como a performance, o vídeo e a criação de objetos, aqui Tiago centrou seu fazer artístico na mais tradicional das formas: a pintura de telas. São mais de 20 obras inéditas em acrílica sobre tela e aquarela sobre papel.

O centro – conceitual e mesmo geométrico – das telas de Tiago é o homem negro. Nelas, há sempre um homem negro de feições serenas em algum tipo de situação de caráter onírica e / ou surreal.

O título da mostra foi pescado por Tiago de um texto do grande escritor e intelectual norte-americano James Baldwin (1924 - 1987). Autor de clássicos como O quarto de Giovanni e Se a Rua Beale Falasse, Baldwin, que era negro e homossexual, ficou conhecido como um dos maiores críticos do tal “sonho americano”. “James Baldwin foi um escritor que se dedicou durante muito tempo em discutir as identidades negras e o papel das pessoas negras na sociedade. O texto que deu o ponto de partida para a mostra fazia uma alusão de como o homem negro é a base da sociedade e que, quando ele se move, é como se o dia e a noite mudassem de posição e, assim, veríamos estrelas numa manhã, com o céu claro”, conta Tiago, por email.

“A partir disso, comecei a construir pinturas que tem essa relação com o Sol, que é uma estrela muito poderosa, com a Lua – que tem uma relação próxima com mudanças de ciclo. As representações das fases da lua em uma das pinturas, por exemplo, para mim, têm o significado desse processo de mudança e conquistas sociais que muitos homens negros tem conquistado”, acrescenta o artista.

Simbologia poderosa

Evidentemente, se isso fosse retratado de forma literal, como num comercial de margarina (uma família sorridente à mesa), isso não seria arte – seria propaganda. Daí Tiago recorrer à certo simbolismo nestes trabalhos: “A arte pode tocar as pessoas e fazê-las pensar na sociedade sem necessariamente reduplicar ou reproduzir imagens de violência. Para ver violência, basta ligar a TV. A vida dos homens negros já está exposta de maneira trágica em diversos lugares. Por isso é importante criar imagens que criem a rota de fuga a esse lugar social fixo que foi e ainda hoje é reforçado sobre a masculinidade negra”.

“O sol, por exemplo, ele tem, no sentido literal, uma força, nós o sentimos nos dias de céu mais aberto, mesmo ele estando tão distante. Mas, também no sentido simbólico o sol está relacionado com poder porque conquista-lo e enclausura-lo seria impossível. Em uma das obras, um homem segura uma máscara dourada que traz um sol. Esse sol tem as feições de um rapaz negro. Também nesse mesmo quadro o dia e a noite estão dramatizados como uma cortina de teatro”, detalha Tiago.

E aí entra outro aspecto essencial para esta mostra: a teatralidade. “Na sociedade contemporânea, estamos a todo momento sendo cobrados a assumir alguns papéis. O papel do homem negro muitas vezes foi designado a ser um papel de hipersexualidade, de força, brutalidade. E esse papel tem se transformado graças às próprias lutas das pessoas negras. Quando esse homem está segurando tão confiantemente um sol essa é a simbologia muito poderosa”, afirma.

Produzida durante o isolamento da pandemia, a mostra nasceu depois que Tiago definiu linguagem (pintura em telas) e temática: “A pesquisa sempre teve um lugar fundamental no meu processo de criação. Eu sempre parto de uma questão para só depois virem as linguagens que as obras serão construídas. Mas, para Estrelas flamejantes em manhã de sol eu fiz um processo diferente: primeiro, eu tinha a pintura como linguagem que eu queria experimentar para construir a exposição e depois que eu encontrei um texto que traz uma linha conceitual que norteia os trabalhos. Cada artista tem um processo diferente. No meu caso, eu já tenho uma trajetória de investigar as identidades afro-brasileiras e suas representações”, conta.

Feliz por expor novamente em Salvador (é sua primeira individual desde 2018), Tiago espera que os visitantes encontrem nestas telas inspiração para sonhar: “Espero que essa exposição colabore para que as pessoas possam voltar a sonhar, mesmo que acordadas, e também entender que estamos sob o mesmo céu – só que ele é mais estrelado para uns do que para outros”.

Enquanto expõe aqui, Tiago também tem obras em uma mostra coletiva em Amsterdam, no MAM Bahia (Encruzilhada) e no Museu de Arte do Rio (Coleção MAR + Enciclopédia negra).

O resto do ano ele pretende dedicar aos trabalhos da Bolsa ZUM de fotografia do Instituto Moreira Salles que ele venceu no ano passado. “Essas obras serão gravadas na Chapada Diamantina e no Recôncavo em junho. Também participarei de algumas exposições coletivas empolgantes no MASP, em São Paulo, no Museu de Arte Moderna do Rio, no Museu Paranaense, em Curitiba, e na Fundação Joaquim Nabuco em Recife”, conclui.

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