Titãs celebram 40 anos de carreira com show na capital baiana | A TARDE
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Titãs celebram 40 anos de carreira com show na capital baiana

Membros fundadores da banda, Sérgio Britto e Tony Bellotto falaram com exclusividade ao A TARDE

Publicado quinta-feira, 21 de julho de 2022 às 06:30 h | Autor: Victor Hernandes*
Titãs: “É muito legal testemunhar a renovação de fãs e ouvintes"
Titãs: “É muito legal testemunhar a renovação de fãs e ouvintes" -

Com toda sua energia, entusiasmo e sonoridade potente, os Titãs se apresentam amanhã em Salvador, no Cerimonial Rainha Leonor, na Pupileira. O show Titãs Elétrico celebra os 40 anos de carreira da banda com seus grandes clássicos atemporais, como Sonífera lha, Epitáfio, Flores, entre outros que mesmo sendo escritos em outras décadas ainda são sucessos.

Além dessas canções, o grupo vai resgatar também os singles do álbum / ópera rock Doze Flores Amarelas, como A Festa, Me Estuprem, Canção da Vingança, Doze Flores Amarelas e É Você. A banda chega também com novidades, apresentando uma nova canção, denominada de Caos, com o videoclipe já no YouTube.

Nesta entrevista exclusiva ao jornal A TARDE, os membros fundadores Sergio Britto e Tony Bellotto falam sobre o show na capital baiana e revelam também em primeira mão informações acerca de outros projetos que pretendem realizar nestes 40 anos de carreira, como um show inédito com os quatro ex-integrantes que já foram da banda, além de outras ideias.

De que maneira acontece este show de amanhã, Titãs Elétrico? Como a apresentação é estruturada e dividida? Seria uma parte com aquele rock frenético e a outra mais acústica?

Sergio Brito: A gente começa dando ênfase às guitarras, com músicas mais pesadas. Depois tem um miolo que fazemos com músicas mais faladas, em um formato quase acústico. Depois retornamos novamente com esse repertório mais pesado. Esse show tem uma dinâmica, tocamos todos os nossos grandes sucessos, de diversas fases e fazemos um apanhado desses 40 anos de carreira.

Tony Bellotto: A apresentação tem este nome de Titãs Elétrico, pois anteriormente estávamos fazendo a turnê Titãs Trio Acústico. O nome atual foi uma maneira de diferenciar que este novo show não seria acústico, mas sim elétrico, mesmo tendo um momento acústico, que funciona muito bem também. As pessoas gostam e cantam junto. Já o novo show tem canções da carreira inteira, desde o primeiro sucesso, como Sonífera Ilha, até coisas mais recentes, como singles do nosso novo disco, que vamos lançar em setembro. 

Qual o sentimento por fazer este show em Salvador amanhã e comemorar esses 40 anos aqui também? 

SB: A gente tem uma relação incrível com Salvador de histórias e shows. Desde a época do Circo Troca de Segredos, que era um circo que promovia shows de bandas de rock. Lembro que fizemos os primeiros shows do nosso álbum Cabeça de Dinossauro em Salvador, neste circo. Foi uma catarse incrível, a gente nunca imaginou que pudesse ter esse público assim, que se entregasse tanto e que pudesse conhecer o nosso repertório. Sem falar ainda das apresentações antológicas na Concha Acústica. Fizemos inúmeros shows na cidade, temos um carinho enorme por Salvador, por tudo que ela representa para a música popular brasileira, dessa efervescência cultural que tem espaço para tudo. Desde o rock de Raul Seixas, até o axé music da Ivete Sangalo, o rock da Pitty e o rock do Titãs também.

TB: É uma grande satisfação para gente ver que a nossa música consegue se comunicar com pessoas de outras gerações. É uma qualidade da música em si. Sonífera Ilha, por exemplo, que é o nosso primeiro sucesso, sempre toca no carnaval da Bahia, pois ela se adequa a qualquer formato e a gente vê nos shows crianças e jovens cantando essa canção. Esse poder que a música tem de se comunicar através das gerações e de pessoas de culturas diferentes, de lugares diferentes, é uma das coisas mais bonitas. É muito legal viver e testemunhar essa renovação de fãs e ouvintes.

A ideia de resgatar alguns singles da ópera rock Doze Flores Amarelas, para o show Titãs Elétrico surgiu como?

SB: A ópera rock é uma história contada com canções, e elas funcionam também fora daquele ambiente. São músicas mais fortes, que falam sobre assuntos pontuais e que cabem no nosso repertório. Por ser um disco em que não fizemos a turnê com todo aparato cenográfico, a gente incluiu essas músicas para chamar atenção do público a respeito deste trabalho, que é muito relevante. As bandas brasileiras não tem ópera rock, então é algo bacana. Neste projeto falamos sobre vários assuntos relevantes, como tecnologia tóxica, violência contra mulher e relação entre pais e filhos. Ainda achamos que são assuntos pertinentes.

TB: Essa ópera rock é muito interessante, são mais de 25 músicas inéditas, com toda essa questão de contar histórias através das canções. A gente teve um cuidado muito grande, chamamos até atrizes e cantoras para participar do show. É uma maneira de trazer um pouco da ópera para a turnê atual que estamos fazendo. Seria uma forma de fazer jus a um disco que achamos importante em nossa carreira. 

O que representa para a banda fazer a turnê Titãs Elétrico, no mês destinado ao Rock? 

SB: São 40 anos da nossa geração. Fizemos 40 anos de carreira, mas vários companheiros de outras bandas estão contemplando também essas quatro décadas de atividades. Inclusive em São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre aconteceram alguns festivais reunindo essas bandas de uma forma bem sucedida. Foi como se tivesse acontecido um reavivamento e lembrança para as pessoas, que essa geração fez um trabalho muito forte e relevante. Um legado dedicado ao pop rock brasileiro. 

TB: Tem também este teor político muito forte, uma geração toda que veio de um período militar e começou a se expressar em uma época onde vivíamos a redemocratização. Este elo com o momento que a gente vive agora é bastante interessante e significativo. Claro que é bastante simbólico, mas acho que faz um sentido sim, ainda mais se a gente leva em conta que é um ano de efervescência política e social. Estamos chegando próximo a uma eleição muito importante, em um momento que o país vive uma questão profunda política, com este governo que faz ameaças à democracia. O rock tem um sentido neste momento, pois tem em sua essência essa questão das letras, que expressam esse questionamento e rebeldia. Tocar no mês do rock faz sentido dentro deste contexto, em um ano em que o rock acaba ficando mais importante por esta característica de falar esses assuntos que são evitados em outras canções. 

Essa qualidade inesgotável no repertório e na carreira de vocês, qual é a fonte? É essa qualidade que faz o Titãs ser elétrico nestes 40 anos? 

SB: A gente faz a música que quer. Só para exemplificar isso, a nossa forma de comemorar os 40 anos de carreira é lançando um disco de músicas inéditas. A melhor comemoração que a gente podia fazer foi entrar no estúdio, registrar e lançar material novo, ter algo novo para dizer. Isso é muito satisfatório para nós.

TB: O principal motivo que mantém a gente entusiasmado com o trabalho é gostar muito de fazer música. Temos um prazer e satisfação muito grande nisso. A gente não fica acomodado só com os sucessos do passado, mas gostamos de desafios, de criar discos e músicas novas. A cada álbum queremos superar o anterior. Isso sempre foi uma característica nossa, é o que mantém a gente vivo. É um prazer e amor pelo trabalho, de fazer música. 

Qual o significado do novo single, Caos para vocês? 

SB: Tem um significado muito especial porque foi composto por Rita Lee, Roberto de Carvalho e Beto Lee, especialmente para gente. São pessoas que a gente admira na vida inteira. Rita é uma precursora do rock no Brasil, uma mulher incrível, que tem uma carreira como performer, cantora e compositora, antes de tudo isso acontecer. Isso já fala muito alto dentro de nós. Fora isso, é uma música que comenta o que a gente está vivendo, de uma maneira bem humorada, mas com um dedo na ferida. Principalmente sobre a necessidade que a gente tem em se manter vigilantes com aqueles que ocupam o poder e estão a serviço da população. Essa história de se manter atento a quem ocupa esses cargos é uma lembrança feita de uma maneira eficiente, com algum sarcasmo e muito bom humor.

TB: É uma canção que tem grande importância. Está muito antenada com o momento atual, além de mostrar a maestria de Rita, de Roberto e Beto na construção de uma canção de rock. Tudo isso vem convergindo com um momento muito positivo em que o rock se faz presente. Estamos muito felizes por lançar o disco novo com essa música, tem muito significado. 

Como foi fazer o videoclipe do single Caos? A união da banda foi a questão mais reverberada nesta produção audiovisual? 

SB: O clipe mostra essa história de trabalhar colaborando. Isso dentro do rock também é uma particularidade. Músicos que tocam e produzem em conjunto colaboram um com o outro, extraem o melhor de cada um, e exploram suas virtudes. Artistas que trabalham com rock criam uma linguagem em um vocabulário e complementam o outro num todo. Diferente de outros gêneros que tem uma estrela ou artista solo, a gente trabalha em conjunto. É muito bacana essa ideia da colaboração que existe dentro do rock também.

TB: O diretor do clipe é o Otavio Juliano junto com a Luciana, esposa dele. Já fizemos alguns trabalhos com eles, como a ópera rock inclusive. Optamos por registrar essa ideia de banda de rock tocando juntos por ser muito expressivo. Temos 40 anos de carreira, começamos com integrantes que já saíram para trabalhos solos e tivemos a tragédia da morte de Marcelo Fromer, ao longo dessa jornada. Estamos agora com Beto Lee (guitarra), Mario Fabre (bateria) e Branco Mello, mas a essência do que é a banda permanece muito viva para nós. É muito fundamental para o trabalho continuar permanecendo. Tem momentos do clipe que dá para ver que são os titãs tocando, aqueles mesmos de 1982. Ainda que tenha mudado os integrantes ou as músicas, o espírito do que a gente faz continua muito fiel do que sempre fomos e o clipe consegue registrar tudo isso.

Quais os outros projetos para as celebrações dos 40 anos de carreira da banda? 

SB: Uma delas é o disco inédito, que é uma maneira de mostrar que estamos ativos fazendo aquilo que temos mais prazer em fazer. A outra é uma possibilidade da gente fazer um show com ex-integrantes, que é algo que estamos nos empenhando para que aconteça. Principalmente porque depende de muitos fatores. Mas é algo que a gente tem esperança que vá acontecer em não muito tempo. Os fãs pedem muito também. Vamos ter também um documentário muito bacana feito pela Start Plays, no final de julho, que é um apanhado desses 40 anos de carreira, com cenas incríveis de bastidores, com a participação de todos os integrantes atuais e os antigos. Visitamos lugares do início da nossa carreira que frequentamos antes de formar a banda, como escolas e teatros que nos apresentamos pela primeira vez. 

TB: O disco novo tem músicas inéditas para reforçar nossos sucessos e nossa qualidade inesgotável. Mas para ter isso é importante a gente estar fazendo coisas novas e estarmos entusiasmados com a nossa capacidade de estar sempre criando. Essa outra ideia de reunir os ex-integrantes, se conseguirmos realizar já é um feito titânico.

*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

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