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CADERNO 2

Zeca Baleiro: "Compositor é de certo modo um cronista de seu tempo"

Cantor traz a Salvador seu mais novo show: José; apresentação é hoje, às 21h, no palco principal do TCA

Por Eugênio Afonso

05/11/2022 - 7:30 h
"O que me inspira é a vida, às vezes os acontecimentos banais, as conversas, as histórias pessoais", diz o cantor
"O que me inspira é a vida, às vezes os acontecimentos banais, as conversas, as histórias pessoais", diz o cantor -

O maranhense José Ribamar Coelho Santos, nacionalmente conhecido como Zeca Baleiro, traz a Salvador seu mais novo show: José. A apresentação é hoje, às 21h, no palco principal do Teatro Castro Alves (TCA).

Zeca conta que o show é autobiográfico e foi criado por encomenda. Que ele vai estar sozinho no palco, acompanhado apenas de alguns instrumentos, máquinas, livros, discos, histórias e músicas. Que é uma apresentação intimista com bastante interação do público. Mas como se dá essa interação, ele não revela, diz que é surpresa.

No repertório, canções marcantes de sua discografia, releituras de discos mais recentes, além de um passeio por músicas importantes para sua trajetória artística, como algumas canções emblemáticas que tocavam no rádio no período de sua infância.

Considerado um dos maiores letristas da música popular brasileira, Zeca, 56, tem 25 anos de carreira – contando a partir do primeiro disco Por Onde Andará Stephen Fry? (1997) –, quinze discos de estúdio, cinco CDs ao vivo, nove DVDs, além de projetos especiais, como os discos infantis Zoró e Zureta, CDs em parceria com Fagner, a poeta Hilda Hilst, Paulo Lepetit, Naná Vasconcelos e Vinícius Cantuária.

Sempre antenado e preocupado com o que acontece no país, o cantor e compositor maranhense diz que a cultura é um imenso patrimônio nacional que faz girar a roda da economia, além de conferir ao povo um caráter alegre, irreverente, improvisador e criativo. Que querer acabar com isso é uma grande burrice.

Revela também que a música baiana tem profunda influência em sua vida e que todo artista precisa se manifestar politicamente, nem que seja como cidadão.

Baleiro conversou com A TARDE, através do Caderno 2+, via WhatsApp, sobre carreira, o show que traz à Bahia, eleições presidenciais, o que quer a sua arte, além de outros temas.

Fale um pouco sobre esse show que traz a Salvador.

Esse show nasceu por encomenda. Criei para a série Poesia, então, realizada em 2017 em Porto Alegre. Na altura, eu completava 20 anos de carreira discográfica e quis fazer um show que tivesse algo de retrospectiva, de autobiográfico, mostrasse referências, discos, livros etc. Depois, durante a pandemia, pude fazer uma grande "arqueologia" pessoal – reli matérias de jornal, textos que escrevi na estrada, ouvi K-7s, MDs, salvei músicas perdidas etc. Isso tudo deu maior "sustança" ao show. E tenho rodado o Brasil com ele desde o fim da pandemia.

Quem te acompanha no palco?

Eu, alguns instrumentos e máquinas, apenas. E livros, discos, histórias e músicas, claro (risos).

Por que José? É autobiográfico?

Sim, é meu nome de batismo. E como se trata de um show "íntimo", próximo, um tête-à-tête com o público, achei que seria um bom nome, simbólico.

O show tem participação da plateia? De que forma?

Interajo bastante com o público. Mas como faço isso, é surpresa (risos).

E o repertório, será só de grandes sucessos que, aliás, você tem muitos, ou vai mesclar com músicas mais recentes e menos conhecidas?

Acho que cheguei numa síntese interessante, que o público vai gostar. Tem sucessos, mas tem muitas músicas de formação, memória, referência... histórias emblemáticas da vida e da carreira, um passeio pelo rádio da minha infância etc.

Você é um grande letrista. Isto é notório. O que te inspira a compor?

Muito obrigado! O que me inspira é a vida, às vezes os acontecimentos banais, as conversas, as histórias pessoais... tudo processado pela imaginação do compositor, né?

Você compôs, recentemente, uma canção com Paulinho Boca de Cantor chamada Ah! Eugênio. Quem foi o muso inspirador? (Risos)

Hahaha! Temos que perguntar ao Paulinho, ele quem fez a letra. Mas há muitos "Eugênios" por aí, viu? A melodia é minha e da Zélia Duncan.

Quantos anos de carreira e quantos discos?

Se contar a partir do primeiro disco, Por Onde Andará Stephen Fry?, de 1997, são 25 anos de carreira. Mas teve também o período anterior, sobre o qual eu conto um pouco neste show. Até hoje, são 15 discos de estúdio, cinco CDs ao vivo, nove DVDs e vários projetos especiais, em que posso destacar os discos infantis Zoró e Zureta, os CDs em parceria com Fagner, com a poeta Hilda Hilst, com Paulo Lepetit e Naná Vasconcelos, e com Vinícius Cantuária, que lancei recentemente.

A música baiana tem alguma influência na sua trajetória? Qual sua relação com ela?

Profunda! A música brasileira tem DNA baiano, né? Desde Caymmi até Sarajane, tudo me interessa. Ao longo do tempo, fiz amigos e parceiros daí, como o Boca, o Galvão, Luiz Caldas, Vânia Abreu, Vicente Barreto, Gereba, Capinan. Adoro Gerônimo, Raimundo Sodré, Jorge Portugal, Carlinhos Brown, Diana Pequeno, Fábio Paes, Edson Gomes, Xangai, Odair Cabeça de Poeta, Jurema, Marcos Vaz, Rebeca Matta, Lazzo, Paquito, Walter Queiroz. É uma lista sem fim, bicho (risos).

O que você acha das políticas públicas para a área cultural do governo Bolsonaro?

Existiu alguma? Esse sujeito é um homem tosco, primário, conseguiu desativar o Ministério da Cultura num país como o Brasil, em que a cultura é um imenso patrimônio (senão o maior), que faz girar a roda da economia, além de conferir ao nosso povo um caráter alegre, irreverente, improvisador, criativo. Querer acabar com isso é burrice, além de revelar um certo recalque. Precisaremos reconstruir o Brasil, e a arte e a cultura serão muito necessárias nesse processo.

Gostaria que comentasse o resultado das eleições presidenciais.

Venceu o melhor para o Brasil, um candidato comprometido com as necessidades do povo, que terá a chance de fazer um grande governo, e ainda corrigir as falhas de seus governos anteriores. O outro cenário significava uma grande tragédia pros brasileiros.

Você acha importante todo artista se manifestar politicamente?

Sim, sempre, como artista e como cidadão. A democracia agradece.

Sofreu preconceito no Sul por ser nordestino, sobretudo no início da carreira?

Olha, se sofri não lembro (risos). Achavam divertido e curioso meu sotaque, mas nunca sofri nenhum preconceito evidente, porque no meio em que circulo as pessoas são naturalmente mais abertas e acolhedoras, e porque a partir dos anos 1990, São Paulo ganhou uma cor bastante nordestina nas artes e na cultura. O imigrante nordestino deixou de ser só o trabalhador da construção civil, a mão de obra barata. Passaram a vir músicos, atores, cineastas, professores universitários e a cena mudou. Não posso dizer que não vi preconceito, vejo sim e às vezes é velado, dissimulado. Mas arrisco a dizer que o Rio de Janeiro é mais “nordestinofóbico” que São Paulo – e agora uma parte mais reacionária do Sul também começa a se revelar.

O que quer o seu trabalho? Canta e compõe para quê?

Comecei a compor porque achei que tinha coisas a dizer e pessoas querendo ouvir o que eu dizia. O compositor é, de certo modo, um pensador, um cronista de seu tempo, alguém que lança ideias e propõe reflexões – além de divertir/entreter as pessoas, claro, fazer dançar, emocionar etc. Desde o meu início até hoje, as coisas mudaram bastante, e hoje a arte tem um caráter mais, digamos, inclusivo. Outros valores passam a contar, e vejo essa nova perspectiva com muita esperança e curiosidade. E sigo achando que ainda tenho muito a dizer (risos).

A arte pode salvar a humanidade?

Salvar talvez não, até porque, se existe salvação, creio que deve ser pessoal. Mas a arte é muito vital pra humanidade, imprescindível, eu diria.

Quais suas inspirações na música popular brasileira? Quem te influenciou e segue influenciando?

Ouço música popular brasileira desde a infância. Minha mãe amava a música dos anos 1930 e 40, sambas de Ismael Silva, Noel Rosa, Geraldo Pereira, Ataulfo Alves, canções de Herivelto Martins, Sílvio Caldas, Dolores Duran etc. Ouvia-se muito rádio em casa, rádio AM que tocava de tudo na mesma estação. Meus irmãos mais velhos ouviam de tudo também – Taiguara, Mercedes Sosa, Benito de Paula. Isso tudo me influenciou. E também a música da rua, dos terreiros, dos ritos católicos. Minha infância e adolescência foram muito povoadas por música. Conto um pouco disso no show também.

Se não fosse artista, seria....

Cozinheiro.

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