45 ANOS DE HISTÓRIA
Afoxé Filhas de Gandhy anuncia tema do Carnaval e apresenta traje
Primeiro bloco de mulheres afoxé da Bahia vai desfilar em dois Circuitos na festa
Por Bianca Carneiro e Edvaldo Sales
O ano de 2024 é mais do que especial para o Afoxé Filhas de Gandhy. Primeiro bloco de mulheres afoxé da Bahia, o grupo vai comemorar 45 anos de história, promovendo diversidade cultural e empoderamento feminino.
Para a celebração, o tema escolhido e anunciado nesta terça-feira, 16, foi “Mulheres de Terreiro, Detentoras do Sagrado". Durante o evento, realizado na sede do bloco, no Pelourinho, também foi apresentado o traje oficial.
Em entrevista ao Grupo A TARDE, Silvana Magda, coordenadora do carnaval 2024 do Afoxé, disse que a temática mergulha na realidade do grupo, trazendo à tona a narrativa das mulheres empoderadas que são as guardiãs do sagrado.
“Nós viemos de uma história bem sofrida, então todos os anos a gente tenta trazer manifestações, celebrando outras culturas, aí fizemos uma visão interna da nossa situação. Por que não se falar de mulheres que são empoderadas, que são detentoras do sagrado? Porque são elas que viabilizam tudo isso, não só com a energia que é voltada à terra, ao ar, ao fogo e a água, mas elas trazem esses segredos”.
Segundo Magda, a intenção é transformar o desfile na avenida em um momento cênico para transmitir o respeito e a reverência às mulheres.
“Quando eu digo os elementos, mas esses elementos se transformam no dia a dia, a gente tem um corpo que a gente se alimenta, a gente tem um corpo que precisa desses elementos, então a gente traz essa riqueza desse conhecimento dessas mulheres para que a gente possa canalizar e mostrar na avenida de uma forma cênica do que é essa questão da religião dentro da cultura”, completou.
Data magna
Fundado em 1979, o afoxé da Bahia se prepara para desfilar em dois Circuitos da capital - Batatinha, no Centro Histórico, no sábado, 10, e Dodô (Barra/Ondina), na segunda-feira, 12, além de um esquenta percussivo no próprio dia 10 de fevereiro. O evento contará com cerca de 50 percussionistas e 50 baianas, partindo da sede do Afoxé na rua Gregório de Matos, seguindo pelo Largo do Pelourinho, subindo para o Terreiro de Jesus, circulando pelo Centro Histórico e concluindo novamente na sede, onde está previsto participação especial de artistas da música baiana.
Presente no lançamento desta terça, a titular da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), Ângela Guimarães, celebrou a importância dos 45 anos do Filhas de Gandhy.
“É muito importante a gente poder celebrar essa força, essa resiliência das mulheres que há 45 anos fundaram esse afoxé com as mulheres na linha de frente, na direção do bloco, nas funções de cantoras, de tocadoras, de estilistas, daquelas que têm um trabalho social e comunitário em diversas comunidades de Salvador, empoderando mulheres negras, despertando suas consciências feministas, antirracistas e trazendo aquilo que a nossa ancestralidade nos legou de melhor e podendo apresentar isso nas ruas, pegando a referência ao sagrado, a nossa ancestralidade e trazendo para a rua, na forma da música, na forma das fantasias, na forma dos turbantes, na forma dos cantos”.
Para a deputada Fabíola Mansur (PSB), comemorar o aniversário do afoxé é “prestigiar as mulheres e a resistência do povo negro”. “É defender a igualdade e a defesa do respeito às várias religiões, porque não é só cultura, é também esse respeito”.
Citando o tema do Carnaval deste ano, que vai homenagear os 50 anos dos blocos afro, Fabíola disse que o programa estadual de fomento a essas manifestações culturais, o Ouro Negro é uma ferramenta de visibilidade para a cultura. Serão quase R$ 15 milhões para o Carnaval dos blocos afros em 2024, que vão ampliar o número de entidades beneficiadas. No ano passado, o investimento foi de cerca de R$ 8 milhões.
“São mulheres de luta, mulheres guerreiras, mulheres do sagrado e que é a cultura do nosso povo negro. Eu como a branca antirracista, a gente sempre prestigiou e saía no chão, prestigiava esse afoxé e continua agora como política ajudando. A cultura do nosso povo muito passa pelos blocos de afoxé, os blocos de samba, o comanche, o apache, e esses blocos precisam ser prestigiados. E, graças a Deus, o Ouro Negro é uma expectativa muito grande de visibilidade e de sustentabilidade para esses blocos”.
E a visibilidade, em si, é, de acordo com Magda, o que o afoxé mais necessita. A gestora diz que as mulheres ainda não são vistas como um potencial de cultura, o que enfraquece o movimento das Filhas de Gandhy.
“Ainda há uma divisão muito grande, onde as mulheres não são vistas como um potencial de cultura. Elas sempre são quem menos recebe, quem menos são consideradas para estar nas grandes listas de eventos, até por isso enfraquece até a própria entidade, porque você vai em busca de profissionais que queiram participar do evento, que queiram participar da instituição e não conseguem se identificar, porque não existe uma promoção, não existe um respeito, uma divulgação e essa luta é contínua”.
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