Menu
Pesquisa
Pesquisa
Busca interna do iBahia
HOME > CARNAVAL
Ouvir Compartilhar no Whatsapp Compartilhar no Facebook Compartilhar no X Compartilhar no Email

LEGADO

Casa Branca é homenageada em enredo do Carnaval carioca

O Terreiro foi o primeiro templo não católico tombado pelo Iphan no Brasil, em 1984

Por Priscila Dórea

02/03/2025 - 7:00 h
A Casa Branca é referência no processo de institucionalização do candomblé na Bahia
A Casa Branca é referência no processo de institucionalização do candomblé na Bahia -

Referência no processo de institucionalização do candomblé no estado da Bahia no século XIX, o Ilê Axé Iya Nassô Oká - o Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho da Federação - é tema da escola de samba Unidos de Padre de Miguel (UPM), que sob o enredo Egbé Iyá Nassô, leva às 22h de hoje (2) para o Sambódromo da Marquês de Sapucaí (Rio de Janeiro) a história do primeiro terreiro de candomblé do Brasil. “É o Axé que nos faz viver. Orixá é cabeça da nossa força! E do ventre da Iyá de todos nós, o Axé chegou de mãe para filha, de mãe para uma nação”, diz trecho do enredo da escola.

Responsável pela origem de terreiros como Gantois e Ilê Axé Opô Afonjá, a Casa Branca foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1984 e tornou a Casa Branca o primeiro templo não católico a ser tombado como Patrimônio Histórico do Brasil. Porém, dois anos antes, em 1982, o terreiro foi reconhecido como Patrimônio Cultural da Cidade pela Prefeitura Municipal de Salvador, que também transformou o espaço em Área de Preservação Cultural e Paisagística Municipal.

Ekedi de Ogum da Casa Branca e advogada especialista em políticas públicas, gênero e raça, Isaura Genoveva é a atual titular da Secretaria Municipal da Reparação (Semur), e acredita que a escolha da UPM e´ um reconhecimento importante a ser dado para o Terreiro da Casa Branca e toda a comunidade de matriz africana. “É um reconhecimento do legado ancestral das pessoas que foram escravizadas no Brasil, assim como o reconhecimento de que é a cultura africana que molda o Carnaval e que isso faz parte de nosso povo”, afirma.

Resistência

Um terreiro, explica a ekedi Isaura, que resiste e sobrevive apesar das violências e, então, consegue fazer parte de um evento como esse, onde sua ancestralidade é a pauta.

“Entendo que isso é um ato de reconhecimento daquilo de quem chegou aqui há quase quatro séculos, que viveu aqui durante quase quatro séculos de escravidão e conseguiu manter sua cultura, alegria, sabedoria e inteligência com o poder da resistência e, acima de tudo, o poder de conseguir viver além da dor da opressão, do racismo, do preconceito e da discriminação que enfrentamos até hoje”, salienta.

Cerca de dez membros filhos de santo da Casa (todos vestidos de branco) vão comparecer ao desfile na sapucaí hoje a noite, inclusive a iyalorixá Mãe Neuza, que é de Xangô assim como Iyá Nassó fundadora da Casa Branca e quem dá nome ao samba-enredo da Unidos de Padre Miguel. “Vila Vintém é terra de macumbeiro! No meu Egbé governado por mulher. Iyá Nassô é rainha do candomblé!”, diz trecho do samba da agremiação, que venceu a Série Ouro do Carnaval de 2024, voltando assim a desfilar no Grupo Especial após 52 anos.

Com 40 anos de trajetória no Carnaval carioca, esta é a primeira vez que o carnavalesco Alexandre Louzada trabalha com a UPM. Para o profissional, o que aproxima a escola de samba de Vila Vintém, no bairro de Padre Miguel (zona oeste do Rio de Janeiro), e justifica a preferência da diretoria da agremiação pela história do surgimento do candomblé no território nacional é que, assim como a Casa Branca, a Unidos de Padre Miguel é um grande egbé - palavra iorubá que significa “comunidade”.

“O que escrevemos é que ‘egbé’ significa casa, uma grande comunidade, e a Unidos de Padre Miguel não é diferente. Ela vive e respira dentro de uma grande comunidade”, ressalta o carnavalesco em entrevista à Agência Brasil. Além disso, assim como o início da religião afro-brasileira no Brasil, a escola é liderada principalmente por mulheres. De acordo com Lucas Milato, o outro carnavalesco da UPM, muitos pilares da escola são femininos, enquanto a Casa Branca é um terreiro de candomblé conduzido, criado e fundado por mulheres.

“Até hoje ela se sustenta por essa força feminina, então esse enredo conquistou o coração da nossa diretoria por isso, porque é um enredo que valoriza muito a figura feminina, não só nas religiões de matriz africana, mas também na comunidade como um todo”, aponta Lucas, enquanto Alexandre reflete sobre esse ser um exemplo que a nossa história oficial não conta.

“Na época colonial houve esse apagamento cultural, não só dos que vieram da África para o Brasil, como da própria África. Então hoje existe um movimento muito forte de resgate dessa cultura africana, porque somos um país de maioria com descendência africana”, explica Alexandre.

Homenagem

Após pesquisar sobre a história da Casa Branca e reunir inúmeros dados e informações, a Unidos de Padre Miguel entrou em contato com o terreiro para que pudessem fazer uma visita.

“Eles nos pediram autorização para contar nossa história em seu samba-enredo, para homenagear o terreiro e terem uma conversa com a nossa liderança, filhos e filhas da Casa, assim como uma visita técnica para poder entender nossa história e dinâmica a partir daquilo que nos foi contado por nossos ancestrais”, explica ekedi Isaura.

Ogã da Casa Branca, o professor, pesquisador e antropólogo Ordep Serra, presidente da Academia de Letras da Bahia, conta que ficou muito feliz e grato quando soube que a Casa Branca seria tema do samba-enredo da UPM.

“Sempre precisamos reafirmar a presença histórica dos negros no Brasil. A Casa Branca tem uma história linda, mas lembro da dificuldade que foi chegar ao seu tombamento, por exemplo, pois havia muita resistência, com as pessoas não querendo reconhecer, mesmo no Iphan, a historicidade desta Casa e o valor que ela tem como matriz de numerosos terreiros”, explica.

Com muitas lembranças dos povos de Oió, Ketu, Iorubás e tantos outros, o Ilê Axé Iya Nassô Oká, a Casa Branca do Engenho Velho da Federação, conta uma parte da história do Brasil que ficou esquecida “e posta debaixo do tapete o tempo inteiro, como se os negros não tivessem feito nada”, salienta Ordep Serra, que recorda ainda que um dos argumentos usados por eles durante o processo de tombamento do terreiro era que “não se pode fingir mais que os negros nada produziram de relevante culturalmente. É o contrário, é justamente o contrário”, afirma.

A Casa Branca é um monumento importante da história não só de Salvador e da Bahia, mas do Brasil.

“Por isso acho muito bonito o que a Unidos de Padre Miguel está fazendo. Fico realmente muito feliz, porque vai mostrar para um grande público o valor e a importância da Casa Branca do Engenho Velho da Federação. O terreiro frequentemente é desprezado e atacado, como o recente caso onde uma edificação comprometeu e ameaçou seu espaço sagrado. Agora, com a Casa Branca aparecendo aos olhos de todos no Brasil e no mundo, talvez as nossas autoridades se compreendam melhor com a importância que o terreiro tem”, aponta Ordep Serra.

Compartilhe essa notícia com seus amigos

Compartilhar no Email Compartilhar no X Compartilhar no Facebook Compartilhar no Whatsapp

Tags:

carnaval Casa Branca enredo Marquês de Sapucaí Rio de Janeiro

Cidadão Repórter

Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro

ACESSAR

Siga nossas redes

Siga nossas redes

Publicações Relacionadas

A tarde play
A Casa Branca é referência no processo de institucionalização do candomblé na Bahia
Play

VÍDEO: Cantor pede namorada em casamento no trio de Kannário

A Casa Branca é referência no processo de institucionalização do candomblé na Bahia
Play

VÍDEO: Tirulipa faz manobra arriscada em trio das Muquiranas

A Casa Branca é referência no processo de institucionalização do candomblé na Bahia
Play

Davi Brito revela planos para segunda de Carnaval: "Ficar doidão"

A Casa Branca é referência no processo de institucionalização do candomblé na Bahia
Play

Márcio Victor homenageia Olodum e blocos afro no Carnaval

x

Assine nossa newsletter e receba conteúdos especiais sobre a Bahia

Selecione abaixo temas de sua preferência e receba notificações personalizadas

BAHIA BBB 2024 CULTURA ECONOMIA ENTRETENIMENTO ESPORTES MUNICÍPIOS MÚSICA O CARRASCO POLÍTICA