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ORIGENS

Toques de mestres marcam formação da axé music

Base da música no Carnaval, a percussão é fundamental no gênero que seduziu o mundo

Por Ana Cristina Pereira

04/03/2025 - 5:30 h
O Olodum é um dos principais ícones do samba-reggae
O Olodum é um dos principais ícones do samba-reggae -

No auge da axé music, nos anos 90, duas estrelas internacionais vieram conhecer de perto a efervescência musical de Salvador: Paul Simon e Michael Jackson, respectivamente, em 1991 e 1995, seduzidos pelo samba-reggae do Olodum. Nos clipes The Obvious Child, de Simon, e They Don’t Care About Us, de Michael, a percussão afro-baiana ganha destaque e, consequentemente, projeta o bloco, sua batida e o maestro Neguinho do Samba (1955-2009), uma figura fundamental para se entender a cena cultural da cidade nos últimos 50 anos.

Antes de chegar no Olodum, em 1983, Neguinho do Samba foi um dos jovens que ajudaram a estruturar a base musical do Ilê Aiyê. Ficou 11 anos por lá, antes de se juntar a outros mestres do bloco do Pelourinho e chegar na fusão entre o samba e o reggae, que virou a marca principal de blocos como o Olodum e o Muzenza e se firmou como um dos ritmos que definiu a axé music.

Em 1993, Neguinho deu outro passo à frente e criou a Banda Didá, abrindo espaço para a presença feminina na percussão.

“O samba-reggae foi uma revolução que impactou a música mundial. Algo que poucas vezes aconteceu com a música brasileira. Isso fez do Olodum a grande ponta de lança, a catapulta de todo movimento musical da Bahia. É um patrimônio que eles preservam e que precisa ser reconhecido”, afirmou o maestro Letieres Leite em entrevista ao A TARDE em 2019. Ele próprio fez sua parte e trouxe a percussão afro como destaque da Orkestra Rumpilezz, pelas mãos de mestres como Luizinho do Jêje e Gabi Guedes, ambos formados nos terreiros de candomblé.

Régua e compasso

A solidificação do que acontecia nos ensaios dos blocos afro está diretamente ligado ao sucesso da axé music. “Cada bloco tinha sua própria batida, misturando influências das rodas de samba, da percussão das escolas de samba, que ainda existiam em Salvador, do merengue e do reggae que estava chegando”, explica o cantor, compositor e percussionista Tonho Matéria. Ele recorda de blocos extintos como o Melô de Banzo e Ébano, por onde jovens negros e periféricos como ele começaram a se formar.

Tonho iniciou no Ébano, passou pelo Ara Ketu, Olodum e outros, seguindo carreira como um dos compositores mais gravados da axé music. Atualmente, se apresenta com o projeto Autorais e está à frente do Bloco da Capoeira. “Escolhi como meu direcionamento musical o bloco afro, o afoxé e o samba junino”, resume o artista, acrescentando que “ foi o compositor de bloco afro que ajudou a transformar artistas locais em nacionais e até internacionais”.

Um bom exemplo foi a Banda Reflexu’s, primeira da cena da axé a vender mais de um milhão de discos e conquistar fama nacional. “Nós tínhamos uma ligação direta com os blocos afro e recebíamos os compositores que levavam suas músicas para a gente conhecer”, recorda o maestro Ubiratan Marques, que foi tecladista e arranjador da Reflexu’s.

“Tudo que aconteceu na axé music só foi possível por conta dos blocos afro, que, por sua vez, estão diretamente ligados aos terreiros de candomblé”, hierarquiza Ubiratan, que comanda a Orquestra Afrosinfônica, onde a percussão também está na linha de frente..

Movimento intenso

Nesse movimento intenso que acontecia pelos bairros populares da cidade, o Engenho Velho de Brotas foi outra usina onde a percussão gerou muitos frutos. Foi lá que os mestres Jorjão Bafafé e Moa do Katendê (1954-2018) criaram o Badauê em 1978, dando novo impulso aos afoxés da cidade. Do Badauê, Jorjão foi convidado para fortalecer o Ara Ketu, que nascia em Periperi. Acabou entrando para a banda – a primeira e eletrificar a sonoridade percussiva dos afro – e depois passou por outros blocos e acompanhou vários artistas, como o astro internacional Jimmy Cliff.

“A força da percussão está na ancestralidade que vem do terreiro de candomblé, ela é a base da música baiana”, diz Jorjão, que é ogã do Terreiro do Jagum e aprendeu a tocar na casa. Para ele, inclusive, os 50 anos de vida dos blocos afro, que se comemoram também este ano, deveriam ganhar mais espaço nas celebrações. “Somos a base disso tudo que está aí hoje”, reforça Jorjão, que em 1982 criou o bloco afro Ókánbí. “O Carnaval nos deu muitas vivências”, resume o mestre, que depois da folia vai se dedicar às aulas de percussão com crianças do bairro.

Esse movimento de aprender e ensinar também move Mário Pam, outro destaque da percussão baiana. Cria do Ilê Aiyê, como ele mesmo se define, entrou no bloco 1991 na infantil Band'Erê, foi se formando e ganhando espaço, e hoje é um dos mestres do Ilê. “A batida do Ilê, que chamamos de samba-afro, é um mix de música de candomblé, com samba duro, e dos blocos de índio e escolas de samba”, diz Mário, que faz mestrado em música na Ufba.

Tudo que aprendeu com o Mestre Senac e outros do Ilê estão na base de seu trabalho no projeto Tambores do Mundo, que leva a experiência percussiva baiana para vários países. E reúne em Salvador, a cada Carnaval, interessados em aprender e conhecer de perto o universo musical da cidade. Este ano, eles desfilaram sexta, domingo e segunda, com 50 pessoas vindas da França, Austrália, Chile, Japão e Estados Unidos, além de outros estados brasileiros. “Queremos preservar a arte da percussão e levá-la para outros lugares, mas respeitando os criadores e não pensando só em ganhar dinheiro, como aconteceu na axé music, quando a percussão serviu para enriquecer muitos empresários brancos”.

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