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Mulheres também são filhas de Gandhy

Publicado domingo, 26 de janeiro de 2014 às 10:14 h | Autor: Maíra Azevedo
Com número menor de integrantes que o Filhos de Gandhy, a versão feminina desfila desde 1979
Com número menor de integrantes que o Filhos de Gandhy, a versão feminina desfila desde 1979 -

A necessidade de criar um bloco voltado essencialmente  para as  mulheres, mães, namoradas e até amantes dos associados do tradicional Filhos de Gandhy, deu origem ao primeiro afoxé feminino do Brasil. Em 2 de julho de 1979, nascia as Filhas de Gandhy.

De acordo com Glicélia Vasconcelos, 69 anos, uma das fundadoras, o bloco foi uma iniciativa de um antigo diretor do Filhos de Gandhy, o  já falecido Gilberto Nonato Sacramento, que era conhecido como Negão.

"As mulheres queriam acompanhar os parceiros, mas era proibido. Então, elas tinham que sair atrás ou nas cordas. Foi quando Negão pensou nisso. E é por isso que, até hoje, as Filhas de Gandhy saem no cortejo sempre seguindo o Gandhy, que é para marcar esse casamento", conta Glicélia.

Luta feminina

Prestes a completar 35 anos de história, o afoxé Filhas de Gandhy não tem a mesma notoriedade da versão masculina. O bloco tem 500 associadas, contra quase 10 mil dos Filhos.

Para a professora Cláudia Alexandra Santos,  mestre em estudos étnicos, a falta de visibilidade do bloco feminino é resultado do machismo. "A sociedade não deixa de ser racista, machista, sexista ou homofóbica durante o Carnaval. Muito pelo contrário, o preconceito aumenta, e isso é possível notar até mesmo com as políticas de incentivo", aponta a acadêmica.

A luta pelo reconhecimento do poder feminino faz parte do lema das Filhas de Gandhy. Este ano, o tema do afoxé é  "Roda Menina". Fala da conquista das mulheres em espaços que antes eram essencialmente masculinos. "A roda de samba, a roda de capoeira, a roda de candomblé são espaços de poder, e estamos nesses locais. Por isso o Roda Menina", explica Glicélia.

Vocalista da banda das Filhas de Gandhy, a cantora Dandara Baldez acredita que faltam incentivos para a estruturação das agremiações carnavalescas femininas. "Mesmo com a presença de cantoras, o espaço predominante ainda é dos homens. Falta organização", opina a cantora.

Mas, para Aline Conceição, 28 anos, que sai nas Filhas de Gandhy há quatro anos, o bloco consegue superar todas as dificuldades e fazer um belo trabalho. "O afoxé Filhas de Gandhy é tudo para mim, minha segunda família, sinto alegria enorme quando estou na avenida. Um orgulho tão grande que não sei como descrever", diz Aline, que, como manda a tradição, é casada com um Filho de Gandhy.

O bloco desfila três dias no Carnaval. Sábado no circuito Batatinha (Pelourinho), segunda no Dodô (orla) e terça no Osmar (Centro). E sempre atrás do tapete branco formado só por homens.

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