INVASÃO FRANCESA
Cannes na Bahia: Festival de Cinema Francês traz 21 filmes inéditos
Estrela mundial Isabelle Huppert participa de evento em Salvador

Por João Paulo Barreto | Especial para A TARDE

Começa amanhã, dia 27, e segue até o 10 de dezembro, mais uma edição do já tradicional Festival de Cinema Francês, antes conhecido como Festival Varilux. Com um total de 21 filmes que serão exibidos em mais de 60 cidades, a mostra é uma excelente oportunidade para o cinéfilo ficar por dentro do que de mais recente foi produzido na França, além de revisitar (ou conhecer) produções clássicas.
Em Salvador, o festival tem exibições já garantidas no Circuito SaladeArte e no Cine Glauber Rocha, que receberá na próxima semana a veterana e consagrada atriz Isabelle Huppert para a pré estreia do seu novo filme, A Mulher Mais Rica do Mundo.
Baseado em fatos reais envolvendo o conflito entre Liliane Bettencourt e sua filha, Françoise Bettencourt Meyers, donas da fortuna oriunda da marca L'Oréal, o filme protagonizado por Huppert a traz no papel de Marianne Ferrère, idosa que se torna amiga do fotógrafo Pierre-Alain Fantin (Laurent Lafitte), cuja personalidade magnética atrai não somente a amizade de Marianne, mas uma soma exorbitante de dinheiro com o qual a mulher decide presentear o “novo amigo”.
Abordando não somente as intrigas geradas entre os familiares, o filme com Isabelle Huppert também traz uma reflexão sobre a fragilidade física e mental que acompanha a terceira idade, bem como apresenta uma crítica à frivolidade atrelada ao mundo dos super ricos. Emmanuelle Boudier, da Bonfilm, curadora do Festival de Cinema Francês ao lado de Christian Boudier, conversou com o jornal A TARDE sobre a seleção da obra.
“O filme é, de fato, inspirado em uma história real, ambientado em um contexto político bastante atual, pois aborda o tema dos ultrarricos. Em um momento em que a França e o Brasil debatem a questão da tributação das grandes fortunas, o longa ressoa com a atualidade. Mas esse não é o seu tema principal”, explica.
“O que ele aborda diretamente é uma questão humana, ao retratar uma mulher poderosa e rica que, no entanto, cai sob a influência de alguém que busca explorar sua fortuna. A beleza e o encanto reside na observação desse mecanismo de manipulação e na maneira como a personalidade interior de uma mulher aparentemente fria e calculista é gradualmente revelada”, destaca a curadora e produtora.
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Homenagem

Homenageando com uma retrospectiva de seus filmes o ator e diretor francês Pierre Richard, cuja popularidade no país europeu é imensa, o festival também servirá de uma porta de entrada para muitos cinéfilos brasileiros que não têm muita familiaridade com a obra do veterano artista de 90 anos. Richard, inclusive, virá ao país para divulgar seu novo trabalho como cineasta, o longa Sonho, Logo Existo, seu retorno à cadeira de diretor após um hiato de quase 30 anos.
Na entrevista, a curadora do festival também destacou a importância de Richard e a oportunidade que o público terá de conhecer a sua obra em uma seleção especial de cinco de seus filmes como ator.
“Pierre Richard é, sem dúvida, um dos atores franceses mais famosos e certamente o mais popular e amado. No início de sua carreira, o diretor Yves Robert lhe disse: 'Você não é um ator, você é um personagem'. Esse personagem distraído, azarado e atrapalhado arrancou risos e empatia de toda uma geração de franceses, mas não temos dúvidas de que ele também é atemporal, como Danny Kaye e Jerry Lewis, suas fontes de inspiração”, pontua Emmanuelle Boudier.
A curadora, na conversa, comentou sobre essa oportunidade do espectador brasileiro conhecer mais a obra do ator e diretor. “Embora Pierre seja muito conhecido na Europa e até mesmo na Ásia, ele não é tão conhecido pelo público brasileiro. Queríamos que esse público o conhecesse um pouco melhor por meio de uma retrospectiva de cinco filmes e, também, graças ao longa que ele mesmo dirigiu recentemente, Sonho, Logo Existo, uma obra que, mesmo não sendo estritamente autobiográfica, revela a sensibilidade desse ‘personagem’”, destaca a curadora.
Nova leva
A oportunidade de conhecer ou revisitar filmes consagrados da França, juntamente a uma apresentação de uma leva de novos talentos é algo destacado por Emmanuelle Boudier em sua fala, definindo uma das metas do festival em sua curadoria.
“Nosso objetivo é ser uma vitrine representativa do cinema francês e, ao mesmo tempo, atender aos diversos gostos do público do festival. Nossos dois principais critérios são a qualidade e a diversidade. Também acreditamos ser importante transmitir uma imagem da França que evite clichês”, explica a curadora.
“Outro critério fundamental é dar visibilidade a talentos emergentes, sejam diretores ou atores, e por isso sempre incluímos filmes de estreia na seleção. Enfim, sabemos que o público gosta muito de comédias, por isso sempre apresentamos bastante, mas temos cuidado em escolhê-las de maneira que tenham um pano de fundo que faça o espectador refletir”, crava Emmanuelle.
Dentre as oportunidades, estão alguns dos filmes que foram exibidos no Festival de Cannes deste ano, como O Segredo da Chef, drama com tons de comédia e musical que traz sua protagonista, a chef vivida por Juliette Armanet, voltando à suas raízes familiares após problemas cardíacos de seu pai. Outro destaque é o novo filme dos Irmãos Dardenne, Jovens Mães, agraciado com o prêmio de Melhor Roteiro.
Importância das salas

Na entrevista com o jornal A TARDE, Christian Boudier, também curador e idealizador do festival, falou sobre a importância da divulgação do cinema francês no Brasil, e trouxe uma pertinente abordagem sobre a necessidade da regulação do streaming, cuja lei foi recentemente votada.
“Algo que sempre foi central e fundamental na França, que não é o caso, infelizmente, no Brasil, é a cronologia das mídias. Regras legislativas que garantam para cada mídia um período de exclusividade e uma ordem bem definida entre cinema, VOD, TV paga, TV aberta, etc. E isso é muito importante porque sempre garantiu a solidez e a força da exibição dos filmes nos cinemas. Isso porque as pessoas sabem que vão ter que aguardar muitos meses para poder ver um filme depois do lançamento no cinema”, compara Boudier, ao falar do trâmite legal em seu país natal.
Comparando os prazos nas janelas de lançamento entre as salas de cinema e os canais de streaming na França e no Brasil, é perceptível a importância da regulação. "Hoje, a cronologia das mídias até chegar ao VOD é de quatro meses", continua o curador do Festival de Cinema Francês. “Tem um canal chamado Canal Plus, um canal pago que é o maior financiador do cinema francês. Ele possui uma janela de seis meses depois do lançamento no cinema para exibição. A Disney Plus, por exemplo, negociou um acordo recentemente para um prazo de nove meses. O prazo da Netflix é de quinze meses. Ou seja, nenhum filme lançado no cinema pode aparecer na Netflix antes disso. Já na Amazon, são 17 meses. E os canais abertos ficam entre 22 e até 36 meses quando não têm coprodução", conta Boudier.
“Realmente, essa escala é muito importante porque cada negociação com cada ator, com cada operador audiovisual se faz com essa regra. Por exemplo, a Disney Plus, no ano passado, conseguiu diminuir a janela de quinze para nove meses porque o canal aceitou investir mais dinheiro na produção de filmes franceses. É isso que não existe no Brasil”, lamenta.
Ao falar sobre a presença massiva de blockbusters oriundos dos Estados Unidos nas salas, Christian Boudier destaca uma das missões do festival que organiza. “Os cinemas têm cada vez menos salas disponíveis para lançar um filme francês, um filme alemão, italiano, espanhol, etc. E essa é uma situação que eu acho grave. Reduzir a oportunidade e a diversidade de ofertas para o público brasileiro é muito triste. Não é uma situação legal. É a essa situação que estamos tentando resistir com a organização do Festival de Cinema Francês em todo o país, sem deixar de tentar convencer a um maior número de cinemas e cidades, para que o público brasileiro possa ter esse acesso a outro tipo de cinema nas salas”, finaliza.
Festival de Cinema Francês 2025 / A partir de amanhã (27) até dia 10.12 / Circuito SaladeArte e Cine Glauber Rocha / Programação no perfil @festcinefrancesbr
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