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REAL INFÂNCIA

‘Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa’ é adaptação precisa para telona

Filme resgata o que é ser criança

Por João Paulo Barreto - Especial para A TARDE

12/01/2025 - 6:00 h
Imagem ilustrativa da imagem ‘Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa’ é adaptação precisa para telona
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Seria fácil se render ao sentimento de nostalgia ao citar as origens do interesse pela leitura e pelos quadrinhos como um todo que a minha geração teve com as histórias criadas por Mauricio de Sousa para falar de Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa, filme que transporta para uma versão de carne e osso o adorável personagem e sua turma da roça criados pelo desenhista há mais de meio século.

Sim, claro que há esse sentimento ao visitar o cinema acompanhado por um monte de crianças que conhecem o Chico Bento em meios digitais e já convivem com o mundo virtual muito à frente dos primórdios das histórias em quadrinhos que Mônica e cia. me trouxeram lá nos anos 1980.

Ver tal criação ainda alcançar gerações tão novas impressiona, realmente.

Mas, bem mais além, ver Chico, Zé Lelé, Nhô Lau, Rosinha, Hiro e outros em suas versões live action na sala repleta de crianças te faz perceber, feliz, como um adulto, o fato de que o filme de Fernando Fraiha consegue se conectar tão bem a uma geração de crianças e pré-adolescentes feita de contatos culturais tão fugazes e centrada em espiadelas constantes no smartphone e na necessidade deslocada e quase obsessiva de se existir socialmente na internet através de selfies inúteis e vídeos vazios.

Transposição minuciosa

Assim, traz um sorriso genuíno ao rosto reconhecer um diferencial daquelas crianças na figura do menino de chapéu de palha, cabelos desgrenhados e camisa amarela a sonhar com a pescaria e com a sua goiabeira preferida (Isaac Amendoim, personificando com exatidão a figura do Chico); seu melhor amigo, Zé Lelé (Pedro Dantas, funcionando bem como alívio cômico), a acompanhá-lo nas suas aventuras com pescarias e correrias do brabo dono da árvore de frutos deliciosos, o Nhô Lau, este, brilhantemente caracterizado na pele de Luis Lobianco, que soube destacar justamente a ideia rabugenta e cartunesca presente nas páginas de Mauricio de Sousa.

Destaque ainda para a professorinha trazida por Débora Falabella, em uma personificação física impressionante, e a personagem da Dona Goiabeira, que não existia nos meus tempos infantis de leitor dos gibis fenômeno de vendas e que, aqui, tem em Taís Araújo a ideia de consciência infantil da importância do meio ambiente.

Tais personagens infantis, a correr pelo campo e brincar de forma saudável, surgem na tela do cinema em um século XXI no qual crianças, como dito antes, não correm mais durante o recreio, preferindo olhar para telas de celular. E, ainda, dão ao filme de Fraiha uma autenticidade impar justamente pela fidelidade ao seu material original, no qual a ideia de infância era tão bem inserida quando a comparamos aos exemplos citados acima.

O cineasta Fernando Fraiha, após as versões anteriores em live action dos outros personagens de Mauricio de Sousa, e que foram dirigidas de forma bem eficiente por Daniel Rezende (aqui, assumindo a função de produtor), tinha um caminho já traçado quanto a ter em mãos uma oportunidade de utilizar a linguagem de cinema para transparecer a arte sequencial original.

O receio, pelo menos para mim, era de que seu trabalho se rendesse a artifícios publicitários, quando inserções literais de quadrinhos no cinema remetem às histórias impressas. O que é observado em A Goiabeira Maraviósa, porém, é uma referência minuciosa ao que vimos na bucólica roça, a Vila Abobrinha, onde vivem Chico Bento e sua turma.

Utilizando sua câmera e o ritmo de seus enquadramentos (a sequência de corrida do Nhô Lau atrás da dupla de "ladrões" de goiabas deixa isso evidente) fazem com que os cenários repletos de árvores e arbustos, juntamente com as casas baixas da roça, os cenários da escola, do riacho da pescaria e da famosa goiabeira do Nhô Lau, que são tão marcantes nas páginas dos gibis, surjam de maneira a permitir que os leitores relacionem os ambientes de maneira orgânica. Estão lá as versões físicas daquelas páginas e tudo é calcado em uma aparência real, valendo-se de uma direção de arte precisa que recria aquele universo sem necessariamente referenciá-lo de forma exageradamente estilizada, cartunesca ou que force uma relação às páginas, algo que vimos nos cenários de O Auto da Compadecida 2.

Caipira com orgulho

Dito isso, restava o desafio de encarnar seus personagens em crianças que tornassem a identificação com seu público alvo exata e, da mesma forma, viesse a dar a esses leitores adultos citados anteriormente a oportunidade de enxergar naquelas versões as mesmas características com as quais cresceram absorvendo.

Assim, em Isaac Amendoim, a figura do menino Chico se faz presente de maneira a criar uma identificação que vai além de seu figurino, mas, também, no carisma do pequeno ator. Sua química com Luis Lobianco traz as melhores cenas do filme, como quando vemos o dono do pomar criar as armadilhas para impedir que o menino se aproxime da árvore do fruto encantado.

Do mesmo modo, a construção do sotaque caipira, interiorano, demonstra um apuro do elenco infantil naquela transposição dos balões das HQs repletos de supostos erros gramaticais, mas, também, cheios de um valor próprio. Na voz de Isaac e de Pedro Dantas, as conversas entre Chico e Zé Lelé surgem tão orgânicas quanto na leitura das páginas clássicas criadas por Mauricio de Sousa.

E quando o filme se encerra se encerra, com a versão clássica de Romaria, música brasileira das mais lindas e cantada em sua versão original de 1978 por Renato Teixeira , seu autor, entende-se que o sentido da obra, aqui, é algo não somente de entretenimento infantil, mas de uma valorização cultural que, sim, é caipira, e, justamente por isso, é tão rica.

Na figura de Chico em sua paixão infantil por goiabas e por aquele lugar tão bucólico, a vontade é de permanecer mais um pouco naquele período tão mágico. Sim, é difícil não penetrar no território das lembranças infantis quando se trata de temas tão importantes quanto aquele período infantil de vida. Corrigindo a primeira linha do texto, adentrar nas lembranças nostálgicas nunca é fácil.

“Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa” / Dir.: Fernando Fraiha / Com Isaac Amendoim, Pedro Dantas, Anna Julia Dias, Lorena de Oliveira, Davi Okabe, Guilherme Tavares, Enzo Henrique, Augusto Madeira, Luis Lobianco, Livia La Gatto, Débora Falabella, Guga Coelho, Taís Araújo / Salas e horários: cinema.atarde.com.br

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Tags:

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