CINEINSITE
Cineasta baiano André Luiz Oliveira vem a Salvador apresentar parte de sua obra
Filmes de André Luiz terão exibições especiais nos próximos dias em Salvador
Por Rafael Carvalho
No final dos anos 1960, já com o declínio do Cinema Novo e com a pulsação de uma geração de cineastas inquietos e transgressores, um jovem baiano de apenas 21 anos fez um filme que acabou se tornando um marco da contracultura e do chamado Cinema Marginal.
André Luiz Oliveira se viu ganhando destaque e alguns detratores com a realização de Meteorango Kid – O Herói Intergalático (1969), lançado no Festival de Brasília, de onde saiu com o Prêmio do Público e o Prêmio Especial do Júri.
“O filme foi um escândalo na época. Eu tive muitos problemas de aceitação, inclusive entre os cinemanovistas, entre os conservadores do cinema também, independente do filme ter sido preso e censurado. Mas teve também uma explosão de prestígio adquirido, especialmente entre a juventude no Festival de Brasília”, afirmou André Luiz em conversa com A TARDE.
A partir daí, em plena Ditadura Militar pós-AI 5, a vida pessoal e artística do jovem cineasta passa a ser feita de altos e baixos, mas o filme sacramentou uma voz original e inquietante no cinema brasileiro a partir da Bahia.
“A gente vivia muito ilhado na Bahia. Quem quisesse fazer alguma coisa, tinha que sair dali. Desse tipo de filme, eu só tinha assistido ao Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla, e Viagem ao Fim do Mundo, de outro baiano, Fernando Coni Campos. O resto era o discurso hegemônico do Cinema Novo. E como éramos rebeldes, a gente queria derrubar a Ditadura, os costumes conservadores da época, mas estávamos sob uma pressão violenta do Estado”, relembrou o cineasta.
Esse e outros filmes de André Luiz terão exibições especiais nos próximos dias em Salvador, com a presença do diretor neste final de semana para debater sua obra com o público. Já na sexta-feira, às 19h20, no Cine Glauber Rocha, será exibida a cópia restaurada de Meteorango Kid, dentro do Ciclo de Cinema da Bahia, que resgata obras fundamentais da filmografia local.
Essa sessão é também uma homenagem ao ator protagonista Lula Martins, que faleceu em julho deste ano, figura icônica das artes e da contracultura na Bahia, também artista plástico. Sua atuação e presença no filme são pulsantes.
“O personagem principal não faz concessão nenhuma, nem para a esquerda, nem para a direita, nem para o patrão ou o empregado. Ele é um cometa que passa arrasando com tudo. Jorge Amado escreveu no jornal A TARDE que o filme é um ‘soco violento que comove e revolta’. É quase uma catarse coletiva que eu catapultei com as forças da juventude”, definiu o diretor.
Cinema plural
No próximo sábado, às 19h, com a exibição de O Outro Lado da Memória (2018), o Circuito Saladearte passa a abrigar uma mostra dedicada à filmografia do diretor baiano, exibindo um filme por semana até o final de novembro – nas demais datas, as sessões acontecem sempre às quintas-feiras, em cinemas variados do Circuito.
Nesta obra de 2018, André Luiz retorna à Bahia para falar da tentativa fracassada de adaptar a obra-prima de João Ubaldo Ribeiro, Viva o Povo Brasileiro. Foram anos de preparação para o longa ficcional que acabou ficando sem recursos financeiros.
“Eu fiz um documentário para tentar investigar o que havia acontecido. Amarguei o sabor da derrota, mas transformei em sucesso porque investi na realização desse outro filme. Eu não quis apontar culpados. Me interessava mais mostrar o processo do que a gente conseguiu fazer e pensar para a adaptação”, afirmou.
André continua em Salvador no domingo e vai acompanhar a exibição de Meu Amigo Lorenzo, um de seus últimos trabalhos. O filme será exibido no domingo pela manhã, no Cinema da UFBA, em sessão especial dentro do Congresso Labirinto de Autismo, promovido pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. O filme será reprisado na programação da mostra. Nesta obra, André Luiz acompanhou e documentou por 15 anos um garoto autista em suas sessões de musicoterapia.
Além deles, outras obras do diretor merecem destaque na programação, como Louco por Cinema (1994). “Na década de 1970, eu fui abandonando o cinema aos poucos, me aventurei em outras expressões, como a música. Mas eu voltei quase vinte anos depois com Louco por Cinema, em que eu exorcizei minhas próprias vivências como cineasta”, explicou André.
Completam a seleção da mostra os filmes O Cozinheiro do Tempo – Bené Fonteles, sobre o artista e ativista que é figura central do movimento “Artista pela Natureza”; Mito e Música – A Mensagem de Fernando Pessoa, investigação poético-musical sobre a obra do grande escritor português; e ainda o documentário Procura-se Meteorango Kid: Vivo ou Morto, dirigido por Marcel Gonnet e Daniel Fróes, sobre o cultuado filme de André Luiz.
Mostra André Luiz Oliveira / Abertura amanhã, 19h / Saladearte Cinema do Museu / Demais exibições ocorrerão às quintas-feiras, 19h / Salas e horários: cinema.atarde.com.br
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