Menu
Pesquisa
Pesquisa
Busca interna do iBahia
HOME > CINEINSITE
Ouvir Compartilhar no Whatsapp Compartilhar no Facebook Compartilhar no X Compartilhar no Email

ESTREIA

Com ‘Baby’, o cineasta Marcelo Caetano investiga as relações afetivas

Hoje tem sessão no Cine Glauber com o diretor

Por Rafael Carvalho - Especial para A TARDE

09/01/2025 - 2:00 h
Imagem ilustrativa da imagem Com ‘Baby’, o cineasta Marcelo Caetano investiga as relações afetivas
-

Ao iniciar um bico como garoto de programa em uma sauna gay de São Paulo, o jovem Wellington (João Pedro Mariano), quando está sendo apresentado a um possível cliente, resolve se nomear apenas como Baby. É, portanto, o próprio personagem quem se autobatiza, ciente do quão atrativo isso é naquele espaço, por conta de sua pouca idade.

Baby, filme de Marcelo Caetano, é a história desse rapaz em busca de um lugar no mundo, a partir da necessidade de se conectar com as pessoas e muito menos interessado pelo mundo do sexo. A trama começa com o rapaz saindo da Fundação CASA (a antiga Febem), destinada a jovens infratores. Não sabemos exatamente qual motivo o levou ali, mas ao filme importa muito mais acompanhar esse jovem tentando refazer seus caminhos depois de sua família biológica o abandonou.

O filme estreia hoje nos cinemas brasileiros e, em Salvador, ganha sessão especial hoje à noite, às 20h, no Cine Glauber Rocha, com a presença do diretor do filme para debater com o público ao fim da sessão. Marcelo Caetano também conversou com A TARDE sobre a produção.

“A ideia inicial do filme era de um menino que optava por sair de casa. Mas durante a pandemia, no governo Bolsonaro, se discutia muito o que era a família brasileira. Havia uma defesa muito conservadora de que a família era a constituição mononuclear, com pai e mãe biológicos e de caráter religioso. Mas nas minhas observações percebo outras possibilidades. Têm famílias homoafetivas, famílias de amigos, tem os casais, aqueles que são os vínculos amorosos e sexuais”, pontuou o diretor.

No caso de Baby, o personagem, ao ganhar as ruas, reencontra seus amigos, grande parte deles da comunidade LGBT+ de certo underground do centro de São Paulo. Mas é ao conhecer Ronaldo (Ricardo Teodoro) que as coisas mudam. Mais velho que Baby, ele trafica pequenas quantidades de drogas nas ruas e também se prostitui em saunas e esquinas da cidade. Carrega Baby para esse universo, ao mesmo tempo que ambos estabelecem uma relação afetiva, mas também de dependência, emocional e financeira.

“Essa mudança foi muito importante na perspectiva no filme, e a ideia de família ganhou um lugar principal porque essa família biológica que abandona o Baby é formada por um pai policial e uma mãe extremamente religiosa. Mas eles são incapazes de acolher o filho no momento mais difícil da vida dele. Então, que família é essa que obriga esse garoto a buscar e eleger novos tipos de laços afetivos?”, questionou o cineasta.

Amor e dor

Baby encontra, portanto, uma nova saída que passa pelo vínculo com esses indivíduos, em um meio caminho entre o amor e a dor. Passa também, inevitavelmente, pela via da criminalidade. Sobre isso, o cineasta consegue relativizar e dar maiores nuances.

“Aquilo que identificamos como crime, porque assim é colocado nos manuais de Direito, podemos chamar também de trabalho. São as possibilidades de trabalho que existem para aquele personagem no momento em que sai do sistema prisional.

Caetano faz um paralelo entre esse filme e seu longa anterior, o também ótimo Corpo Elétrico, ambos protagonizados por jovens em busca de oportunidades de trabalho no centro de São Paulo. Mas aqui em Baby há uma discussão muito maior sobre as dimensões sociais e políticas que envolvem as identidades individuais, acrescidas das questões de gênero e sexualidade que envolvem tais personagens queer.

A relação de Baby e Ronaldo é muito complexa nesse sentido. Tanto a dimensão afetiva quanto a sobrevivência através da informalidade do trabalho escuso aproxima os dois. Mas também o comportamento dominador e mesmo tóxico de Ronaldo torna essa relação um tanto perigosa para Baby.

“Eu acho que ninguém é uma coisa só. Nenhuma relação pode ser determinada por um rótulo apenas. A gente vive um momento de simplificação das relações e da construção dos personagens. Eu não tenho uma resposta sobre os personagens de Baby. Eu não sei se eu queria o Ronaldo vivendo aqui na minha casa. Mas eu adoraria tomar uma cerveja com ele, às vezes”, brincou o cineasta.

Liberdade de ser quem é

Ao mesmo tempo, há uma dimensão de liberdade também evocada pelo filme. Baby se relaciona com outros homens – ele não está preso a Ronaldo, ainda que passe a morar na casa dele. Também se diverte com os amigos, antigos e novos, como o casal lésbico que a antiga companheira de Ronaldo formou, e com quem têm um filho (elas são interpretadas por Bruna Linzmeyer e Ana Flavia Cavalcanti).

Com isso, o filme formata um ambiente de possibilidades afetivas e familiares de modo muito natural. Ainda assim, Baby busca contato com sua família biológica, e o filme consegue ampliar as discussões sobre relações fragmentadas e muitas vezes frágeis de que se constituem muitos lares brasileiros.

Narrativamente, Baby segue a mesma linha de Corpo Elétrico. São trabalhos que seguem pelo viés do naturalismo, a ponto de parecerem criados em cima de diálogos improvisados. Porém, o diretor contou que os atores trabalharam em cima de um roteiro muito bem definido.

Ajuda muito o fato dos dois atores virem do teatro – mesmo jovem, João Pedro Mariano está nos palcos desde os 10 anos de idade (hoje, tem 21) – e foi selecionado para o papel depois de fazer testes com cerca de dois mil outros inscritos. Ricardo Teodoro, por sua vez, já atua no teatro há muito mais tempo. No entanto, Baby é o primeiro longa de ficção de ambos.

O longa iniciou sua caminha no Festival de Cannes, na Semana da Crítica, de onde saiu com o prêmio de ator revelação para Ricardo Teodoro.

Ao passar depois pelo Festival do Rio, foi a vez de João Pedro Mariano ser escolhido como melhor ator, além de Baby sair de lá com o prêmio de melhor filme. Essas e muitas outras participações e vitórias coroam um filme especial pela sensibilidade em lidar com temas duros, mas sem nunca punir seus personagens.

Sessão Especial: exibição seguida de bate-papo com o diretor Marcelo Caetano, com mediação de Letícia Santinon / Hoje, 20h10 / Cine Glauber Rocha (Praça Castro Alves, 5 - Centro) / R$ 28 e R$ 14

Baby / Dir.: Marcelo Caetano / João Pedro Mariano, Ricardo Teodoro, Ana Flavia Cavalcanti, Bruna Linzmeyer, Luiz Bertazzo, Marcelo Varzea, Mauricio de Barros, Kyra Reis, Patrick Coelho, Baco Pereira, Sylvia Prado, Ariane Aparecida, Victor Hugo Martins, Kelly Campello, Cleo Coelho / Salas e horários: cinema.atarde.com.br

Compartilhe essa notícia com seus amigos

Compartilhar no Email Compartilhar no X Compartilhar no Facebook Compartilhar no Whatsapp

Cidadão Repórter

Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro

ACESSAR

Siga nossas redes

Siga nossas redes

Publicações Relacionadas

A tarde play
Play

Globo de Ouro: reação de atrizes que perderam para Fernanda Torres surpreende

Play

VÍDEO: Fernanda Torres chega ao tapete vermelho do Globo de Ouro

Play

"Malês" participa do Festival Internacional do Audiovisual Negro do Brasil, em Salvador

Play

VÍDEO: Atores de série americana visitam Pelourinho e Arena Fonte Nova

x

Assine nossa newsletter e receba conteúdos especiais sobre a Bahia

Selecione abaixo temas de sua preferência e receba notificações personalizadas

BAHIA BBB 2024 CULTURA ECONOMIA ENTRETENIMENTO ESPORTES MUNICÍPIOS MÚSICA O CARRASCO POLÍTICA