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Documentário sobre Revolução dos Cravos tem exibição única
Carlos Pronzato é, sobretudo, um viajante
Por Albenísio Fonseca
O 25 de abril demarca uma era. Um “antes” e “depois”, consolidando-se como uma data fundadora da democracia em Portugal. Marco incontornável da história do século XX, assinala o inicio da terceira vaga de transições para a democracia que, depois, se estenderia à Grécia, Espanha, países da América Latina como Brasil e Argentina e até, na década de 1980, à Europa do Leste.
A forma como em Portugal se operou a passagem da ditadura à democracia assumiu contornos tão particulares que rapidamente se transformou num estudo de caso que atraiu acadêmicos e analistas políticos de todo o mundo. Um destes estudos, o mais recente - vale destacar - é o livro Capitães de Abril, a Conspiração e o Golpe, de Rui Cabral e Luís Pinheiro de Almeida (Edições Colibri, 2024).
Hoje, antecipando a exibição de lançamento em Salvador do documentário Memórias do 25 de Abril, 50 Anos da Revolução dos Cravos, do cineasta argentino radicado na Bahia Carlos Pronzato, às 19h, haverá o lançamento, às 18h, no Circuito de Cinema Sala de Arte / Cinema da UFBA, do livro do mesmo autor: As duas mortes de Barbosa e outros contos no Rio de Janeiro, escrito durante viagem de navio do Brasil a Portugal, ambos, documentário e livro, já lançados em Lisboa em outubro deste ano.
O documentário, na verdade, teve estreia itinerante em Portugal (Lisboa e Porto) entre setembro e outubro, por mais de 20 locais e, no dia 25 de novembro, foi disponibilizado nas redes, como protesto ao ato da Assembleia Nacional marcar a data como ato meramente solene.
O filme continua a ser exibido naquele país, em diversas outras cidades.
Produzido em 2024, com 90 minutos de duração em sistema digital pela La Mestiza Audiovisual, do Rio de Janeiro, sob direção de Pronzato, o documentário foi construído à base de entrevistas com personagens vinculados ao evento, tais como os capitães Vasco Lourenço, Rosado da Luz, Duran Clemente, o major Tomé, os historiadores Luís Farinha, Raquel Varela, José Pereira e a ativista Ana Barradas.
Conta, também, com o ex-deputado João Soares, economista Francisco Louçã, pesquisadora Irene Pimentel, antropóloga Paula Godinho, jornalista Mário Carvalho, sociólogo José Maria Ferreira de Carvalho, entre outros, que retratam o que foi este episódio singular da História Mundial.
Reverso dos cartões-postais
A Revolução dos Cravos, última das rebeliões ocorrida na Europa, se estendeu por 19 meses desde a insurreição popular do PREC (Processo Revolucionário Em Curso) até a reação da direita em 25 de novembro de 1975.
Carlos Pronzato é, sobretudo, um viajante. Um artista (escritor, cineasta) que não deixa a poeira assentar sobre sua vida, suas imagens ou palavras. Move-se para ver as coisas sem que o bolor do hábito avelude a crueza da realidade, resgatando verdades inquietantes.
Assim, aberto ao estranhamento que permite ir além de lugares-comuns, foi a Roma e escreveu sobre o Trastevere. Em São Paulo e na Bahia, realizou diversos documentários. Agora, ele nos presenteia, também, com estes contos cariocas, que são, de um mesmo modo, testemunhos de um olhar cortante, em que se podem distinguir a crítica às injustiças sociais e o que é aparentemente irreal, mas igualmente revelador.
Em seu lado escritor, nos remete ao realismo fantástico de autores como Juan Rulfo, García Márquez, Cortázar e tantos outros que mesclaram denúncia e magia em suas tessituras literárias. "O leitor encontrará desde um goleiro famoso da seleção brasileira que morre duas vezes; a estátua do poeta famoso conversando com um fantasma também célebre; a empregada doméstica cuja sede de cultura lhe abre as portas da rua, para ir atrás de si mesma", adianta.
"Nos escritos de Carlos Pronzato, nos deparamos, ainda e sobretudo, com um Rio de Janeiro que só poderia estar no reverso dos cartões-postais, na escrita rápida e aguda de um viajante que vê o avesso dessa anódina paisagem que nos é oferecida pelas arquiteturas do poder", como enfatiza Marcos Pamplona, editor da Kotter Portugal, na apresentação do livro.
Carlos Pronzato é argentino brasileiro. Cineasta/documentarista, articulista colaborador de A TARDE, diretor teatral, poeta e ficcionista. Reside no Brasil desde 1989, já realizou mais de 90 documentários no Brasil e na América Latina e publicou mais de 30 livros.
Estreia MEMÓRIAS DO 25 DE ABRIL, 50 ANOS DA REVOLUÇÃO DOS CRAVOS, de Carlos Pronzato / Hoje, 19h / Saladearte Ufba (Faculdade de Educação, Vale do Canela) / R$ 15
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