AUDIOVISUAL
Festival gratuito em Salvador exibe cuidadosa seleção de longas
'Os Filmes Que Eu Não Vi’ traz os filmes que deveríamos ver
Por Chico Castro Jr.
Nos últimos meses temos visto alguns filmes brasileiros sendo exibidos com grande destaque nos cinemas, recebendo prêmios e ensejando debates. Mas nem só de Ainda Estou Aqui, Auto da Compadecida 2 e Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa vive o cinema nacional. Todos os anos, entre 150 e 200 longas-metragens são produzidos no Brasil, mas apenas uma pequena parcela disto chega efetivamente às salas exibidoras: é o gargalo da distribuição, um problema antigo. Por isto, festivais como o baiano Os Filmes Que Eu Não Vi, que começa hoje e vai até domingo na Sala Walter da Silveira, são tão importantes.
Idealizado por Sol Moraes e com produção da Água Doce Produções, o evento busca dar visibilidade a filmes brasileiros independentes que enfrentam desafios na distribuição, permanecendo desconhecidos do grande público.
Durante cinco dias, o público interessado poderá assistir, de forma gratuita, à diversos filmes – longas e curtas-metragens – aos quais dificilmente teriam acesso nas salas de cinema comercial, ou mesmo em serviços de streaming ou canais de TV.
Exemplo: Doidos de Pedra, o paraíso ameaçado, documentário de Luiz Eduardo Ozório, sobre um recanto pouco comentado do Rio de Janeiro (zona oeste), antiga colônia de pescadores que, entre os anos 1960 e 70, passou a ser habitado por artistas. Um paraíso ambiental e cultural que hoje está ameaçado pelo avanço da especulação imobiliária.
Outro – e que nos diz respeito, pois é sobre um mestre da cultura baiana: Alapini: A Herança Ancestral de Mestre Didi Asipá, média-metragem de Silvana Moura, Emilio Le Roux e Hans Herold, sobre a trajetória de Mestre Didi, sacerdote do culto aos eguns, artista visual, educador e descendente da família Asipá. Um dos maiores conhecedores da cultura afro-brasileira.
Já Estranhos, de Paulo Alcântara, traz Cyria Coentro, Jackson Costa e Caco Monteiro em um drama urbano ambientado em Salvador.
“A seleção dos filmes do festival é resultado de um trabalho em equipe”, conta a curadora Sofia Federico.
“Além de mim, a curadoria contou com o olhar de Kinda Rodrigues e de José Araripe Jr. Com a premissa da diversidade – seja de temas, de vozes, de origem e ano de produção, entre outros aspectos – a gente acabou conseguindo reunir uma mostra super interessante, que expressa a força e a pluralidade do cinema feito no Brasil”, acredita Sofia.
Repescagem
Guerreira do audiovisual baiano, a produtora e idealizadora do festival, Sol Moraes, profissional de larga experiência na área, classifica a exibição dos filmes selecionados para o evento como uma “repescagem”, uma segunda chance para obras que merecem ser conhecidas pelo público.
“Queremos convocar a todos para essa semana de imersão no nosso festival, que se propõe a repescagem de filmes que não conseguiram distribuição. Os Filmes que eu não vi está na primeira de suas muitas (futuras) edições, pois temos muitos filmes não vistos, muitas histórias que precisam ser conhecidas dentro e fora do Brasil”, afirma.
“O audiovisual, além de ser uma indústria que gera emprego e renda e potencializa a economia criativa, é um espelho social. Nele, apreendemos no espaço/tempo, nosso modo de viver, sonhos e histórias. Através da ficção ou do documentário, registramos histórias de amor, protestos de uma época, brincadeiras de infância, etc”, acrescenta.
Além da exibição dos filmes, haverá debates após cada sessão, além de mesas de conversa e uma imperdível master class com Fabiano Gullane, da poderosa Gullane Filmes, produtora de filmes e séries de sucesso, como Motel Destino, Senna, Arca de Noé, Sintonia, Que Horas Ela Volta? e muitos outros, no sábado (18).
“A importância do audiovisual é estratégica para a imagem de uma nação”, lembra Sol Moraes.
“Como identidade de um povo e forma de registro de seus sonhos e lutas. Além de transcender as barreiras linguísticas e socioeconômicas, transcende as fronteiras do nosso país, levando nossas imagens, nossa forma de viver para outros povos”, acrescenta a produtora.
Cineclube e plataforma
Ambicioso, o projeto do festival Os Filmes Que Eu Não Vi quer deixar sementes após seu término no domingo.
O primeiro é o cineclube Cine GeraSol, na Sala Alexandre Robatto, onde será possível ver e debater filmes em periodicidade mensal.
O projeto também consolida uma parceria com a plataforma digital CINEBRASILJÁ, que funciona como uma cinemateca virtual, permitindo acesso contínuo a filmes brasileiros fora do circuito comercial. Conheça: cinebrasilja.com.
O festival Os Filmes Que Eu Não Vi foi contemplado nos editais Paulo Gustavo Bahia através da Secretaria de Cultura via Lei Paulo Gustavo, direcionado pelo Ministério da Cultura, Governo Federal.
Festival Os Filmes Que Eu Não Vi / A partir de hoje até domingo (19) / Sala Walter da Silveira (Biblioteca Central dos Barris, R. Gen. Labatut, 27 - Barris) / Gratuito / Mais informações e programação completa: osfilmesqueeunaovi.org
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