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Filme baiano marca presença na ‘Mostra de Cinema de Tiradentes’

‘O Mediador’, novo trabalho do diretor baiano Marcus Curvelo, traz uma análise do eleitor brasileiro, independente de ideologias

Por João Paulo Barreto*

29/01/2025 - 3:00 h
Imagem ilustrativa da imagem Filme baiano marca presença na ‘Mostra de Cinema de Tiradentes’
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Um dos destaques da Mostra de Cinema de Tiradentes 2025, O Mediador, filme de Marcus Curvelo, premiado diretor e ator baiano, traz em seu personagem título alguém que, inicialmente, surge em cena sem qualquer característica física ou de personalidade visível. Trata-se de um ser sem traços étnicos ou regionais.

Alguém cuja aparência em trajes brancos, etéreos e sem qualquer fisionomia aparente sugere a ideia de que sua suposta pureza está ali para ser preenchida. No Brasil de atual extremos ideológicos, essa proposta que O Mediador traz de uma suposta pureza de princípios ser tomada de modo gradativo por manipuladores em redes sociais repletas de notícias falsas e mentirosas, junto a discursos ufanistas vazios, gera uma ideia de que a ideologia política pode surgir ou ser plantada como uma semente de preenchimento para cada pessoa que é tocada por ela. “A forma como apresentamos o personagem, tirando dele qualquer traço físico identificável, é na verdade uma tentativa de piada para dizer que ele, o Mediador, é de fato um ser esvaziado de ideologia. Que este filme, portanto, poderia supostamente ser visto por qualquer pessoa", explica Curvelo em entrevista ao jornal A TARDE.

“Por isso também que os trajes brancos que cobrem o mediador são alterados durante o filme. Quando inserimos acessórios de peso ideológico e simbólico em sua aparência etérea e sem fisionomia, tentamos mostrá-lo como esse narrador ideologicamente mutante, portanto acessível a todos. Uma tentativa de piada, repito", salienta o autor.

Embate real

E se as redes sociais são citadas aqui justamente como um dos meios de transmissão desse modo de influência, uma das análises que Curvelo nos traz é a ideia de que o seu protagonista pode se tornar exatamente um multiplicador.

A partir dessa proposta inicial, de que o personagem passa a ser preenchido com as ideologias que o fazem refletir sobre o seu entorno social e sobre a política, o diretor acaba criando uma reflexão bem pertinente acerca da ideia dos bots virtuais e suas formas de influência dentro do cenário eleitoral. Essa questão simbólica do modo como inicialmente o protagonista é um ser sem uma identificação perceptível pode reverberar nessa análise.

Neste aspecto, Curvelo reflete sobre essa capacidade de seu personagem ser, ele mesmo, tal multiplicador de discursos. "Acho que o Mediador tenta ser mais um espelho daquilo tudo que recebe, do que uma tela em branco que vai ser preenchida. Claro que ele acaba se preenchendo à medida que vai espelhando o que está fora. Como se ele mesmo fosse um bot que só vai reproduzir aquilo que grita mais alto para ele", afirma.

Em uma cena tensa, o filme traz alguns embates entre pensamentos políticos divergentes, alguns deles acontecendo em frente ao quartel da Mouraria, durante uma manifestação na qual pessoas pediam intervenção militar no Brasil. Nesse momento, uma das falas centrais do filme aborda a ideia de que opiniões não podem se sobressair dos fatos.

Tal momento bate forte no espectador justamente por representa o abismo de ignorância oriundo da ideia de que a liberdade de expressão é a liberdade de mentir. E isso pesa ainda mais em um ano no qual um novo mandato de Donald Trump se inicia alinhado com a proposta do Instagram e do Facebook, em solo estadunidense, abertamente terem deixaram de usar o fact-checking para derrubar informações falsas.

"O que acontece é que já há algum tempo muita gente passou a acreditar que as informações verdadeiras vêm de fontes alternativas, não é? E aí fica difícil argumentar sobre o que poderia ser informação falsa, porque estas pessoas podem simplesmente dizer que você é ignorante, ou que está sendo enganado. E aí os algoritmos estão nos inundando o tempo inteiro com aquilo que a gente quer ver, então me parece que isso tudo deve piorar bastante nos próximos anos", lamenta Marcus Curvelo, que estava presente naquele momento de tensão e quase atrito com os manifestantes que pediam pela intervenção militar.

Em outro ponto do filme, O Mediador traz uma reflexão sobre a ideia da política pop, que pega símbolos importantes da luta social, como um boné do MST, e o transforma em um objeto da moda. A banalização de tais objetos, importantes dentro de uma causa social, se torna um forma de do próprio trabalho se parodiar.

“Na verdade, eu acho que é o filme que acaba banalizando especificamente este símbolo. E aí quando a gente faz uma crítica, faz uma crítica ao próprio filme. Como se o filme fizesse uma autocrítica. Uma tentativa de piada também", afirma o diretor.

Sem otimismo

Com filmes em seu currículo a trazer sempre uma irônica e mordaz crítica ao cenário de desespero social e econômico, como o excelente Eu, Empresa, filme de 2021, bem como abordando mudanças nocivas em uma cidade como Salvador, como Ótimo Amarel o, filme de 2016, e a excelente crítica política Mamata, filme de 2017, Marcus Curvelo traz em seu cinema não uma desesperança, mas, de algum modo, uma maneira de pensarmos esses aspectos citados acerca de nosso Brasil ao menos com um pouco de humor. Desde a pérola Mamata, no entanto, esse mesmo Brasil passou por muita coisa.

Quando perguntado sobre a possibilidade de manter um otimismo, Marcus Curvelo responde da melhor maneira a refletir a ideia, tanto de olhar para o Brasil com olhos críticos, quanto de fazer cinema nesse mesmo lugar. "Não sou muito otimista, por isso que eu faço estes filmes. Mas espero que as coisas melhorem e que eu faça filmes melhores também", finaliza o diretor.

Torcer que as coisas melhorem é imprescindível. Mas ainda bem que seus filmes melhores já estão disponíveis para o público atento.

*O jornalista viajou a convite da Universo Produção

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