DA BAHIA PARA O MUNDO
Panorama Coisa de Cinema celebra 20 anos com vasta programação
Evento homenageia o baiano Sérgio Machado
Por Maria Raquel Brito*

Completar 20 anos é um marco especial que merece uma celebração à altura. O Panorama Coisa de Cinema entendeu o recado: mais antigo festival de cinema em atividade na Bahia, o projeto comemora duas décadas com uma rica programação, em Salvador e Cachoeira, de amanhã a 9 de abril.
Na capital baiana, a programação se divide entre o Cine Glauber Rocha e a Sala Walter da Silveira. Em Cachoeira, as atividades acontecem no Cine Theatro Cachoeirano. No Glauber Rocha, os ingressos custam R$7 (meia) e R$14 (inteira), com passaporte individual para 10 sessões por R$60. Já na Walter da Silveira e no Cine Theatro Cachoeirano, a programação é gratuita.
A edição marca também o retorno do festival para Cachoeira, depois de um ano sem a cidade do recôncavo no roteiro devido a questões com patrocinadores. Este ano, a programação conta com a exibição de mais de 100 filmes em mostras competitivas, sessões especiais e mostras não-competitivas, além de oficinas, laboratórios e debates com cineastas. Uma itinerância na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, completa o festejo, ampliando o alcance do Panorama Coisa de Cinema.
“A ideia é não se contentar apenas com Salvador. A gente sabe que tem outros lugares que precisam conhecer essa produção. Ir para o interior da Bahia é muito importante, Cachoeira e também as outras cidades que a gente faz itinerância. A gente está muito feliz de estar retornando para Cachoeira este ano e vai ser muito legal ir para São Paulo para mostrar um pouco do cinema baiano que não é visto por lá”, diz Cláudio Marques, idealizador e coordenador do Panorama.
Programação diversa
O festival também resgatará grandes momentos da sua história. Um exemplo é a exibição de O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho, longa vencedor da Competitiva Nacional do VIII Panorama. O diretor estará presente e debaterá com o público ao final da exibição.
“A gente está trazendo quase 50 exibidores do Brasil todo para discutir a exibição e falar um pouquinho para quem vai estar conhecendo o cinema que está sendo feito aqui. Ou seja, a ideia do intercâmbio é a gente levar os filmes, mas também trazer as pessoas para conhecer o cinema aqui, em boas condições”, afirma Marques.
O festival é a pedida perfeita para os amantes do cinema brasileiro, com mostras variadas e sessões de curtas e longas metragens, filmes de ficção e documentários. A abertura será uma amostra dessa variedade. Serão duas sessões gratuitas de filmes com temática indígena, lançados em um intervalo de 50 anos: Iracema, uma transa amazônica, de Jorge Bodanzky, lançado em 1974, e A queda do céu, documentário dirigido por Gabriela Carneiro Cunha e Eryk Rocha.
As sessões que têm início às 20h desta quarta-feira são gratuitas. Os ingressos podem ser retirados a partir das 18h na bilheteria do Cine Glauber Rocha (Praça Castro Alves).
“Será a estreia baiana do filme, a primeira exibição do filme na Bahia, e isso é muito gratificante para a gente, é muito emocionante, por se tratar da abertura de um grande festival, onde a gente assiste o que há de melhor do cinema brasileiro. E também um festival que tenho uma relação desde meu primeiro longa, Rocha que voa, que foi exibido, se não me engano, na primeira edição do festival, e desde então a história do festival e a minha trajetória no cinema se misturam”, diz Eryk Rocha.
O documentário, produzido ao longo de sete anos, acompanha o ritual sagrado Reahu convocado pelo xamã Davi Kopenawa na comunidade Yanomami de Watorik?. Diante da ameaça da ‘queda do céu’ e cercados por garimpeiros e epidemias, eles se reúnem para confrontar o ‘povo da mercadoria’.
Nos dias seguintes, acontecem mostras como a de Filmes Restaurados, a de Clássicos e o Programa Infantil, nos quais o público poderá assistir a filmes como Bye, Bye Brasil, que ganha um tom de homenagem após a morte do diretor Cacá Diegues, em janeiro deste ano; A História de Adèle H., de François Truffaut; e A História Sem Fim, de Wolfgang Petersen.
Além das exibições, o festival tem também as tradicionais premiações, que gratificarão títulos entre os 62 selecionados nas competitivas Nacional, Baiana e Internacional. As produções foram escolhidas entre os 1203 longas e curtas inscritos para esta edição do Panorama.
Mostra especial
Nestes 20 anos, o Panorama Coisa de Cinema tem também um espaço reservado para homenagear a obra de Sérgio Machado, reconhecido internacionalmente por dirigir filmes como Cidade Baixa (2005), Quincas Berro D’Água (2010) e, mais recentemente, a animação Arca de Noé (2024). A partir de uma mostra especial no festival, o tributo realçará outro lado do cineasta baiano: sua produção documental.
“Minha trajetória, de algum modo, se confunde com a do festival e do Cláudio Marques. Nós começamos na mesma época e me lembro dele como jornalista, acompanhando as filmagens no set de Central do Brasil (1998), longa que marcou o início da minha vida no cinema”, comenta Sérgio.
E emenda: “depois disso, participei do festival inúmeras vezes e acho que todos os meus filmes já passaram por aqui. Marília (Hughes) e Cláudio, ao longo dos anos, se tornaram uma referência na Bahia como cineastas e organizadores do festival e, sempre que posso, venho prestigiar”, diz o cineasta, que marcará presença nas primeiras exibições da mostra. Depois, parte para a Espanha para prestigiar os Prêmios Platino, em que concorre com A Arca de Noé e a minissérie Cidade de Deus: A Luta Não Para (2024), na qual foi roteirista.
No ano em que o Panorama completa duas décadas, o primeiro longa de ficção de Machado, Cidade Baixa, também celebra 20 anos de lançamento. Estrelado por Alice Braga, Lázaro Ramos e Wagner Moura, o filme traz a relação inusitada e intensa que surge quando dois amigos que dividem um barco a vapor na Cidade Baixa, em Salvador, dão carona à stripper Karinna até a capital baiana.
“Foi nessa época que iniciei uma parceria com a [produtora] Janela do Mundo e com [sua diretora] Cláudia Lima, o que se tornou fundamental para o sucesso do filme em Salvador. Desde então, criou-se uma relação de trabalho e amizade que resultou em vários filmes, entre eles, os quatro que vão ser exibidos na mostra”, conta Machado.
Serão apresentados durante o festival os documentários A Luta do Século (2016), Neojiba - Música que Transforma (2020), 3 Obás de Xangô (2024) e A Bahia me fez Assim (2025). Os dois últimos ainda estão inéditos e serão exibidos pela primeira vez para o grande público.
Em 3 Obás de Xangô, Machado aborda a icônica amizade entre Jorge Amado, Dorival Caymmi e Carybé, e mostra como a união desses três gênios ajudou a construir a identidade da Bahia como é conhecida hoje em dia. O documentário foi premiado no Festival do Rio, Mostra de São Paulo e Festival de Tiradentes, e será lançado nos cinemas nos próximos meses.
Já A Bahia me fez Assim (2025), também inédito, é um encontro entre gerações da música baiana. O documentário acompanha o processo de elaboração de releituras de novos artistas, como Rachel Reis, Larissa Luz e Afrocidade, para composições clássicas da Bahia, interpretadas originalmente por veteranos como as Ganhadeiras de Itapuã, João Gilberto e Ilê Aiyê.
“Os quatro filmes têm em comum a Bahia, que é o cenário principal da maioria dos meus filmes, docs e séries. Costumo dizer que, por haver nascido e crescido aqui, a Bahia é o lugar onde eu não preciso pedir licença para falar. Costumo também vir escrever os roteiros diante do mar da Bahia, pois é em minha casa que tenho mais inspiração”, conclui.
Festival Panorama Coisa de Cinema / 2 a 9 de abril / Cine Glauber Rocha, Sala Walter da Silveira e Cine Theatro Cachoeirano / mais informações: panorama.coisadecinema.com.br
*sob supervisão do editor Eugênio Afonso
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