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Cineinsite no Oscar: da desigualdade a sordidez humana em Parasita

Publicado quinta-feira, 06 de fevereiro de 2020 às 17:38 h | Atualizado em 21/01/2021, 00:00 | Autor: Da Redação e Patrick Bastos*
Parasita concorre à seis categorias do Oscar 2020 | Foto: Divulgação
Parasita concorre à seis categorias do Oscar 2020 | Foto: Divulgação -

Além ter sido indicado a diversos prêmios e levado alguns pra casa, a repercussão de Parasita foi tão positiva que em breve o filme se tornará série exibida no canal HBO. Dirigido por Bong Joon-Ho, a obra sul-coreana concorre nas categorias Melhor Filme, Melhor Filme Internacional (estrangeiro), Direção, Roteiro Original, Edição e Desenho de Produção, no Oscar 2020.

Parasita conta a história da família de Ki-taek que está desempregada e vive em um porão sujo e apertado. Porém, tudo muda quando o filho adolescente começa a dar aulas de inglês a uma garota de família rica. Fascinados com a vida luxuosa destas pessoas, pai, mãe, filho e filha bolam um plano para se infiltrarem também na família burguesa, um a um. No entanto, os segredos e mentiras necessários à ascensão social custarão caro a todos.

Confira as nossas impressões do filme

O conhecido “jeitinho brasileiro” apesar de ser bastante complexo do ponto de vista analítico, é uma prática social partilhada em escala nacional. O filme de Bong Joon-Ho, Parasita, faz-nos perceber que o “jeitinho” é uma categoria que pode ser encontrada em outras culturas também. Mais do que isso, o diretor leva-nos a compreender o quanto esta categoria aparece como uma forma de sobrevivência daqueles que foram marginalizados, e que não obstante, aprendem a se virar como podem na vida e desenvolvem sua criatividade e seu tino sob a pressão da severa desigualdade social. Portanto, o jeitinho seria nada mais, nada menos, que o resultado deste abismo socioeconômico que pode ser visto na maioria dos países de economia capitalista – e nesse sentido que é possível traçar esse paralelo entre o Brasil e a Coreia do Sul.

Na obra, o cineasta demonstra seu brilhantismo e versatilidade ao entregar um filme tragicômico, frente a outras obras sob sua direção, como Mother – A Busca Pela Verdade (2009) e Okja (2017), e o faz com tremenda potência, de modo que sua narrativa é bem recebida tanto pelo público oriental, quanto ocidental, penetração característica dos clássicos. Vemos a história de uma família que vive à margem da sociedade sul-coreana, virando-se como pode, dia após o outro, mas quando um dos membros recebe a oportunidade, através de um amigo, de trabalhar para uma família da classe alta, não somente agarra-a, como vê nisso uma janela aberta para a prosperidade.

Fazendo uso de esquemas e manipulação, a família de quatro membros, pouco a pouco é contratada para a casa da família abastada. Bong Joon-Ho oferece ao público o retrato de dois mundos distantes e coloca em cena a reivindicação simbólica de direitos ao acesso aos bens produzidos pelo mundo capitalista. Sem, no entanto, estabelecer necessariamente mocinhos e vilões, mas exibindo um universo sórdido e radicalmente humano com bastante vividez, no qual, cada um cheira mal à sua maneira, mas uns usam perfume importado e outros, colônias falsificadas.

O roteiro, entretanto, não fica preso apenas a essa fórmula inicial, pois surpreende a cada curva. A obra consegue fugir dos clichês à medida que nos oferece uma complexa trama, cheia de reviravoltas que tiram o fôlego. Cada uma das cenas, marcadas pela fotografia intensa, acompanhada de uma edição precisa, é carregada de significado e acumulam-se, tal como as emoções dos personagens, que cada vez mais envolvidos e presos à teia de ambição tecida por eles mesmos, veem-se, a cada passo, num beco sem saída. O filme é labiríntico e consegue a proeza de oferecer risadas na mesma medida que oferece engolidas a seco.

Parasita está em cartaz em alguns cinemas de Salvador, confira os horários das sessões.

Assista ao trailer:

*Bacharel em Artes Visuais

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