2 de Julho: o grito que ainda ecoa dentro de nós
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Muito se fala do 7 de setembro de 1822 como a data da independência do Brasil. Mas a verdade é que essa independência foi mais formal do que real. Enquanto Dom Pedro I gritava às margens do Ipiranga, as tropas portuguesas ainda ocupavam a Bahia com mão de ferro, e o povo seguia sem liberdade, respeito ou participação.
Foi somente um ano depois, em 2 de julho de 1823, que o Brasil, enfim, começou a se tornar independente de verdade. Com sangue, suor, coragem e consciência de um povo que se levantou contra a injustiça, a Bahia não aceitou ser colônia de um país que dizia ser novo, mas mantinha práticas velhas. E foi nas ruas de Salvador, nos campos do Recôncavo, nas águas da Baía de Todos os Santos, nas batalhas travadas por negros, mulheres, sertanejos, índios e tantos outros, que o Brasil nasceu de fato.
Foram muitos episódios simbólicos que contribuíram para a nossa verdadeira independência. Ações que nasceram da consciência, da resistência, da educação, da participação e da eficiência cidadã.
E a ação fez história. Hoje, vivemos sob nossa própria bandeira, elegemos governantes e pagamos nossos impostos. Mas isso basta? Para quem, afinal, estamos trabalhando? Para quem entregamos o fruto do nosso esforço?
Na época da Coroa Portuguesa, o povo se revoltou por pagar o “quinto”, que representava 20% de tudo o que produzia. Hoje, pagamos muito mais do que isso em tributos diretos e indiretos, e não recebemos em troca serviços públicos eficientes nem respeito à nossa dignidade.
A insatisfação continua a mesma. E não importa quem esteja no comando: se não houver reciprocidade, eficiência e respeito ao cidadão, o sentimento de submissão permanece. Não é a cor da bandeira ou o sotaque de quem cobra o imposto que define liberdade. É a justiça na cobrança e a dignidade no retorno.
Em 1988, aprovamos uma Constituição que diz que todo poder emana do povo. Mas um povo que não se sente parte da sua nação, que não entende seus direitos, que não tem educação cívica, que vive refém do assistencialismo ou do consumo alienado, continua escravizado, mesmo que de outra forma.
Agora, a nova escravidão não usa correntes; usa promessas. Ela não bate com o chicote; embriaga com narrativas. E o povo, achando que está sendo amparado, muitas vezes está sendo manipulado e mantido em dependência.
Por isso, o 2 de Julho não é apenas uma data da Bahia: é um alerta para o Brasil inteiro. A independência verdadeira não é um ato político isolado. É um processo afetivo, educativo, comunitário e consciente. É quando cada cidadão entende que liberdade se constrói com responsabilidade, atitude, unidade, consciência.
E isso vale também para quem tem influência, poder econômico e capacidade de mobilização. A classe empresarial não pode se isentar da construção de um país mais justo. Não basta produzir riqueza: é preciso defender a cidadania, cobrar resultados, participar das decisões e romper com a lógica da indiferença. A omissão de quem pode mais só reforça a dependência de quem pode menos.
O momento é agora. Ou nos tornamos, de fato, cidadãos de uma nação livre, ou continuaremos sendo súditos de sistemas que se revezam no poder, mas não servem ao povo.