A economia verde: um novo paradigma
Confira a coluna ACB em Foco desta quarta-feira
A economia verde emerge como o ponto de inflexão entre o capitalismo industrial do século XX e a civilização sustentável que se insinua no horizonte. Não é uma utopia lírica, mas uma mutação prática e conceitual: um sistema econômico capaz de reconciliar crescimento e finitude, lucro e responsabilidade, técnica e natureza. Como observa Othmar Lehner, o financiamento verde busca corrigir as falhas históricas do mercado, criando instrumentos que remuneram a sustentabilidade, transformando-a em ativo e não em custo.
As engrenagens dessa nova economia se movem sobre três eixos: inovação tecnológica, regulação e consciência social. Jeffrey Rissman demonstra que a descarbonização industrial é não apenas possível, mas economicamente vantajosa. Três setores – aço, cimento e química – concentram 59% das emissões industriais, e sua transformação pode redefinir todo o metabolismo energético global. Tecnologias de eletrificação, hidrogênio verde e captura de carbono, aliadas a políticas de precificação de emissões e compras públicas sustentáveis, já delineiam o roteiro para uma indústria de ciclo limpo.
No campo financeiro, Artie Ng e Jatin Nathwani, destacam que a inovação não é apenas tecnológica, mas institucional. Os mecanismos de financiamento – de green bonds a fundos ESG – tornam-se alavancas de transformação estrutural, ao orientar o capital para modelos regenerativos e de baixo carbono. Essa arquitetura financeira global não busca apenas retorno monetário, mas valor social e reputacional, reconhecendo que a solidez de uma empresa está hoje medida também por sua contribuição climática e humana.
A dimensão marítima, por sua vez, é elo essencial dessa transição. Shuo Ma mostra que o transporte marítimo, responsável por 90% do comércio mundial, já se reposiciona como vetor da economia verde: digitalização, combustíveis alternativos e rotas otimizadas redesenham o equilíbrio entre eficiência e emissões. O mar – antes espelho do comércio fóssil – torna-se laboratório de inovação verde.
A economia verde, portanto, não é um setor, mas uma lógica. Ela reconfigura o que entendemos por competitividade e prosperidade, substituindo o paradigma da exploração pelo da regeneração. Como lembram Tracy Dathe e René Schmidpeter, empresas que integram a sustentabilidade ao núcleo estratégico não apenas reduzem riscos, mas criam valor duradouro em cadeias produtivas resilientes.
Vivemos, assim, o início de uma nova racionalidade econômica — uma que entende que o futuro não é um bem a ser explorado, mas um patrimônio a ser cultivado. A economia verde é, em essência, o reencontro entre o humano e o planeta, entre o cálculo e o cuidado.
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