ACB na COP 30
Coluna desta quarta-feira, 26

A 30ª Conferência das Partes (COP 30) sobre Mudanças Climáticas, realizada em Belém do Pará, encerrou-se recentemente em um cenário de avanços parciais e desafios persistentes, marcado por um incêndio simbólico na Zona Azul que interrompeu as negociações finais. A ACB participou ativamente, em painéis com a participação da presidente Isabela Suarez e do Vice-presidente Georges Humbert, como também com uma cobertura completa e crítica, deste, em parceria com o A Tarde e o Ibrades, destacando e consolidando, ainda mais, a proeminência da ACB no debate, formação de opinião e políticas públicas e privadas, regional e nacional sobre sustentabilidade.
A postura da ACB foi bem recebida pelos diversos atores envolvidos, notadamente pelo caráter técnico e científico de suas intervenções, perspectiva, equilibrada entre otimismo e crítica construtiva, que reflete não apenas uma análise de interesse empresarial, mas também de toda a sociedade, sem olvidar a urgência de alinhar ações globais com as realidades sociais e econômicas do Brasil.
Paralelamente, o empresariado baiano, representado pela ACB, teve na COP 30 uma oportunidade estratégica para impulsionar a economia verde, integrando desenvolvimento sustentável à competitividade global.
Destaca-se que a COP 30 posicionou o Brasil como uma ponte essencial entre o Norte Global e o Sul, enfatizando temas como bioeconomia, multilateralismo e justiça climática. De se elogiar os avanços iniciais, como a adoção rápida da agenda sem disputas prolongadas, permitindo foco em adaptação, finanças sociais e transição energética. Entre os pontos positivos, aponta-se o lançamento do Plano de Ação de Saúde de Belém, uma iniciativa internacional para combater os impactos da crise climática na saúde pública, incluindo o aumento de 63% nas mortes por calor desde os anos 1990. A Declaração de Belém sobre Justiça Climática, endossada por 44 nações, prioriza direitos indígenas e financiamento para comunidades vulneráveis, enquanto a proposta brasileira do Fundo para Florestas Tropicais Eternas, com US$ 125 bilhões iniciais, recompensa a conservação sem commoditizar a natureza.
No entanto, não se hesita em criticar as divisões profundas que marcaram o evento. As negociações sobre finanças climáticas, especialmente o Artigo 9.1 do Acordo de Paris, patinaram diante da insuficiência do fundo de US$ 300 bilhões proposto – valor considerado irrisório frente às demandas de trilhões por nações vulneráveis. Vê-se a ausência de liderança dos Estados Unidos, as divisões na União Europeia e a relutância da China em assumir metas absolutas de emissões como obstáculos ao progresso real.
Não se pode deixar, ademais, de criticar radicais e extremistas os protestos de ativistas, incluindo figuras como Greta Thunberg, sem base científica, racional e reveladora de uma postura hipócrita, pois ignoram o crédito ecológico do Brasil – que preserva 65,6% de seu território em vegetação nativa, com a agropecuária guardando 29% dessa área – e desconsideram as pautas sociais de países em desenvolvimento.
Críticas sem base científica servem a interesses internacionais que visam limitar o desenvolvimento sustentável brasileiro, tratando a floresta como reserva de mercado.
Em relação à Declaração de Belém sobre Combate ao Racismo Ambiental, considera-se bem-intencionada, mas equivocada, argumentando que as desigualdades ambientais são mais econômicas do que raciais, enraizadas na pobreza e no colonialismo histórico.
Em suas manifestações, a ACB se pautou e Defendeu soluções práticas, como investimentos em empregos, saúde e infraestrutura, e propõe-se a integridade da informação climática como um novo direito humano, baseado em ciência, ética e transparência.
O fim da COP 30, paralisado por um incêndio, simbolizou a fragilidade do processo: um mundo vulnerável onde consensos tardios não atendem às urgências do povo brasileiro, marcado por fome, violência e desigualdades.
Do ponto de vista do empresariado, representado pela ACB, a COP 30 foi como um marco para reposicionar a Bahia na economia verde. A sustentabilidade não é um custo, mas uma vantagem competitiva. As empresas baianas, líderes em energia eólica e solar, preparam-se para avançar no hidrogênio verde, bioeconomia e modelos sustentáveis no agronegócio e na economia do mar. A ACB busca parcerias internacionais para projetos em inovação tecnológica, financiamento verde e capacitação, alinhando crescimento econômico com responsabilidade socioambiental. Sob a liderança da presidente Isabela Suarez e do conselho presidido por Paulo Cavalcanti, a associação visa construir uma governança climática sólida, integrando setor produtivo, academia e poder público para traduzir metas globais em ações locais.
Na visão do empresariado baiano há uma oportunidade histórica para o Brasil liderar com base em ciência e prosperidade, mas condicionada à superação de hipocrisias globais e ao foco em soluções inclusivas. A Bahia, com seu potencial em energias renováveis e bioeconomia, está pronta para se destacar, desde que as promessas da conferência se convertam em ações concretas. Sem isso, não só o evento, mas a sustentabilidade corre o risco de ser confundida com mera ecologia ou, pior, com o radicalismo de ambientalistas que não resolvem, mas sim agravam a situação humana no planeta.
*Por Georges Humbert - Vice-Presidente de Sustentabilidade da Associação Comercial da Bahia (ACB), Presidente do Instituto Brasileiro de Direito e Sustentabilidade (Ibrades), advogado, professor e pós-doutor em direito
Siga o A TARDE no Google Notícias e receba os principais destaques do dia.
Participe também do nosso canal no WhatsApp.
