O imperativo do planejamento urbano nas grandes cidades
Confira coluna ACB em foco desta quarta-feira

A urbanização acelerada constitui um dos fenômenos mais expressivos da contemporaneidade, impondo às grandes cidades desafios de ordem estrutural, social e ambiental de proporções inéditas.
A densificação populacional, a expansão desordenada das periferias e o colapso de sistemas essenciais — transporte, saneamento, habitação e segurança — evidenciam a insuficiência de um desenvolvimento urbano desprovido de racionalidade e visão de longo prazo. O geógrafo e intelectual Milton Santos destaca que o planejamento urbano se erige não apenas como uma ferramenta técnica, mas como um verdadeiro instrumento civilizatório.
“Pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro.” Essa máxima de Heródoto, evidencia a relevância de se analisar os acontecimentos históricos como forma de compreender as origens e as dinâmicas dos problemas contemporâneos, oferecendo subsídios para decisões mais assertivas e para a construção de um futuro pautado na consciência e no planejamento.
Planejar é antever. E, nas cidades, essa capacidade de previsão e ordenamento traduz-se na arte de compatibilizar interesses diversos — públicos e privados, coletivos e individuais — em prol do bem comum e da sustentabilidade do território.
O planejamento urbano, quando dotado de rigor técnico e respaldo político, é capaz de converter o caos em ordem, a improvisação em diretriz e a segregação em convivência harmônica. Entretanto, o que se observa, em grande parte dos centros metropolitanos brasileiros, é a prevalência de um urbanismo reativo, conduzido sob o signo da urgência e do imediatismo.
A captura do planejamento por interesses episódicos comprometem a coerência das políticas públicas e fragilizam a cidade como organismo vivo. O planejamento urbano não pode restringir-se à mera disposição geométrica de ruas e edificações. Ele deve abarcar dimensões mais profundas, perseguindo construção de cidades inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis.
É imperioso, portanto, que o planejamento retome o lugar que lhe é de direito: o de pilar fundamental da governança urbana. Temos diante de nós a oportunidade de repensar nossa cidade. O momento de revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) representa uma oportunidade ímpar de enfrentar, com coragem e responsabilidade, os mais graves problemas urbanísticos.
Infelizmente, além dos desafios estruturais, Salvador ainda enfrenta um tipo de ambientalismo reacionário, pautado por interesses pessoais disfarçados de pureza ecológica idealizada. Trata-se de uma postura frequentemente desconectada da realidade socioeconômica e resistente a soluções inovadoras e tecnocientíficas, presa a um verdadeiro fundamentalismo ecológico.
Em síntese, é necessário promover o debate sobre a cidade com foco na sustentabilidade, na competitividade e na qualidade de vida, evitando que a visão de futuro de Salvador seja limitada por um movimento neo-ludista cada vez mais presente nas redes sociais. A ausência de planejamento é a antessala da decadência urbana; sua presença, o signo da maturidade civilizatória. Que Salvador projete seu futuro com lucidez e pragmatismo.
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