O novo mundo esportivo
Confira a coluna Acréscimos
Há uma semana, a Associação Internacional de Esportes da Mente (IMSA, na sigla em inglês), reconheceu o Poker oficialmente como uma modalidade esportiva, após dois anos de uma chancela provisória. Agora, a Federação Mundial de Poker (WPF) conquistou o status inédito de integrante definitivo da entidade, dividindo espaço com o tradicional xadrez e os cada vez mais gigantes eSports.
A IMSA cada vez mais se consolida como uma entidade de potencial incalculável no mundo do entretenimento, com alta representatividade comercial para essa indústria, não apenas em termos financeiros, mas também de engajamento e proximidade com o público jovem. O mundo inteiro dos negócios está de olho nesse mercado, inclusive o Comitê Olímpico Internacional (COI), que anunciou em julho desse ano, dias antes da Cerimônia de Abertura de Paris-2024, a criação dos Jogos Olímpicos de eSports.
O evento para games será realizado a cada dois anos a partir de 2025, na Arábia Saudita (olha aí outro player que tudo quer e de quem todo mundo deseja os dólares). Para não ficar atrás da IMSA ou da já consolidada Copa do Mundo de eSports, o COI tratou de abraçar a revolução digital e não pensou duas vezes em colocar nela sua marca olímpica e valores.
Tradicional até a alma, o COI negou por anos qualquer vínculo com os eSports, mas desde 2023, o cenário mudou, e a entidade passou a realizar eventos testes com jogos eletrônicos, contanto que estes simulassem esportes tradicionais ou envolvessem atividades físicas. Naquele ano, o COI promoveu, com sucesso, a 1ª Semana Olímpica de eSports, em Cingapura, com nove modalidades. Desde então, a entidade incentiva as Federações afiliadas a se apoderarem de eventos de eSports de seus esportes, ou até mesmo de criar alternativas que possam incluí-los no ambiente digital.
Para os primeiros Jogos Olímpicos de eSports, o COI ainda não definiu os jogos presentes. Sabe-se apenas que as modalidades serão divididas em três categorias: esportes físicos disputados em plataforma virtual; simuladores de esportes; e games de eSports, desde que alinhados aos valores olímpicos, sem violência exacerbada. Jogos de tiro populares como Call of Duty e Freefire, e até mesmo o maior de todos eles, o League of Legends (LOL), seguem afastados dessa aproximação do COI com os esportes digitais.
Mas eSports são esporte?
A pergunta serve como provocação e não vai ter resposta aqui nesse espaço, mas o que quero discutir aqui é a percepção do público quanto ao pertencimento dos jogos eletrônicos no mesmo universo do vôlei, futebol, atletismo, natação e boxe. Na última edição da Pesquisa Game Brasil (PGB), realizada esse ano, 75% dos brasileiros consideram que ‘sim’, os eSports são uma modalidade esportiva legítima e que as emoções assistindo a uma partida de eSports podem ser as mesmas de uma partida dos esportes tradicionais.
A PGB ouviu as opiniões de mais de 13 mil pessoas e os dados apurados pela pesquisa impressionam. Pesquisas similares em outros países apresentam resultados parecidos, com os consumidores e praticantes enxergando no esporte eletrônico muitos dos mesmos benefícios mentais e sociais que encontram ao acompanhar e praticar um esporte tradicional.
Que fique claro: não concordo com essa percepção! O esporte eletrônico tem seu lugar, propósito, benesses e males, assim como os tradicionais têm os seus. Contudo, não podemos deixar de observar e avaliar as consequências desses resultados. O COI percebeu o que está acont6ecendo no mundo e optou por não perder comercialmente o ‘bonde da história’, mesmo colocando em xeque sua tradição e credibilidade. Será que fez mesmo o movimento certo?