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Acréscimos

Por Luiz Teles, jornalista

ACERVO DA COLUNA
Publicado sábado, 26 de outubro de 2024 às 5:39 h | Autor: Luiz Teles, jornalista

Sinal de alerta no futebol

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Pesquisa aponta que jogadores profissionais de futebol masculino têm 50% vezes mais chances de desenvolver doenças neurodegenerativas
Pesquisa aponta que jogadores profissionais de futebol masculino têm 50% vezes mais chances de desenvolver doenças neurodegenerativas -

O triste anúncio da morte do ex-boxeador Maguila, no meio desta semana, chamou a atenção de muita gente para a condição de convivência por 18 anos com a encefalopatia traumática crônica, doença neurodegenerativa causada por repetidas lesões na cabeça ou no crânio, conhecida também como demência pugilística, dada a alta incidência em lutadores pela natureza dos tipos de contato ocorridos no boxe.

O que poucos sabem, porém, é que já há algum tempo outros dois esportes estão também na mira de médicos, educadores físicos e especialistas por conta do risco de encefalopatia traumática crônica. Um deles, o futebol americano, está cada vez mais documentado e bem noticiado na imprensa, com protocolos cada vez mais rígidos a serem seguidos por atletas e médicos para que se evite a reincidência de concussões em curtos intervalos de tempo (o que é tido por estudos como uma das principais causas da doença).

O outro esporte, contudo, é uma surpresa para a maioria: o futebol. E se os traumas diretos e concussões são os principais responsáveis no boxe e no futebol americano, no ‘nosso’ futebol as pancadas fortes na cabeça são mais raras, mas um estudo publicado no ano passado na revista The Lancet Public Health concluiu que impactos leves na cabeça sofridos ao cabecear a bola, mas que acontecem de maneira contínua e repetitiva, podem também ser perigosos para o desenvolvimento de problemas neurológicos.

A pesquisa aponta que jogadores profissionais de futebol masculino têm 50% vezes mais chances de desenvolver Alzheimer e outras doenças neurodegenerativas do que o resto da população. Os dados foram baseados em mais de 6 mil atletas, que jogaram na primeira divisão sueca entre 1924 e 2019. No estudo, ao contrário dos jogadores de linha, os goleiros não tiveram um risco aumentado de demência, o que levou os pesquisadores a concluírem, com outros dados complementares, que a repetição dos toques de cabeça poderia, de fato, ser um fator importante também.

Um estudo anterior, publicado na Escócia, mas com uma base de controle menor, sugeriu também que os jogadores de futebol tinham 3,5 vezes mais chances de desenvolver doenças neurodegenerativas. A conclusão desse estudo levou a associação de futebol escocesas a proibir treinos com cabeçadas um dia antes e um dia depois das partidas oficiais, numa tentativa de minimizar a repetição frequentes dos impactos. A entidade também recomendou, mas não obrigou, que os clubes locais limitem exercícios que envolvam cabeçadas repetidas a uma única sessão por semana.

Outras organizações de futebol implementaram medidas para reduzir o cabeceio no futebol entre crianças. O Conselho da Associação Internacional do Futebol (Ifab, na sigla em inglês), passou a recomendar que as cabeçadas intencionais na bola fossem proibidas nas partidas que envolvam menores de 12 anos, com marcação de falta para o time adversário no caso de ocorrência.

Não sou médico e não tenho opinião formada sobre o assunto. Já há um bom tempo, por causa do boxe e do futebol americano, acompanho as discussões muito embasadas das concussões e dos traumas, mas os estudos que envolvem a repetição de baixo impacto, apesar de sérios, parecem-me ser poucos ainda para ameaçar, de alguma forma, o jogo como o conhecemos. Essas pesquisas também apontam que a prática por lazer e fora do alto rendimento não é impactada, até mesmo nos casos de concussões.

De qualquer modo, acho bom que a ciência esteja acompanhando isso tudo de perto, porque há muito sabemos quanto o esporte de alto rendimento pode ser prejudicial para a saúde física e mental de seus praticantes. É muito importante saber que um problema que ficou ‘invisível’ por muito tempo, como encefalopatia traumática crônica, é agora monitorado e tem seus sintomas mais conhecidos, com ações de prevenção cada vez mais constantes.

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