A Bahia, a Argentina e o turismo
Confira a coluna do economista Armando Avena desta quinta-feira, 9
A Argentina está em crise, mas o Rio de Janeiro recebeu este mês milhares de turistas argentinos que vieram assistir a final da Taça Libertadores da América. Isso acontece porque, assim como no Brasil, uma parcela expressiva da classe média argentina não é afetada pela crise, tem seus recursos em dólar ou em investimentos que protegem suas aplicações. Entre janeiro e julho deste ano, o país que mais enviou turistas ao Brasil foi a Argentina, quatro vezes mais que o segundo lugar, os Estados Unidos.
Ora, um mercado emissor de turistas desse porte não pode ser menosprezado e está na hora da Bahia, especialmente Salvador, voltar a ser um grande mercado receptor de argentinos.
Em 2019, por exemplo, dos 2,7 milhões de argentinos que vieram ao Brasil, 200 mil aportaram na Bahia. E pelo menos metade deles por via aérea, através dos aeroportos de Salvador e Porto Seguro. Ora, isso significa que, em 2019, a Bahia recebeu duas vezes mais turistas argentinos do que portugueses e três vezes mais do que espanhóis. Nesse ano, decolaram da Bahia em direção à Buenos Aires o dobro de aviões que foram para Lisboa, a maioria deles da Aerolíneas Argentinas, mas também da Tam e da Gol. Os dados são da Anac e Ministério da Justiça.
Infelizmente, a pandemia paralisou esse fluxo turístico que só agora começa a se recompor. Mas, ainda assim, em 2023, a Aerolíneas Argentinas registrou duas vezes mais decolagens do que a Air Europa e já se aproxima da Tap. Em 2023, o fluxo de turistas entre Salvador e Buenos Aires já atingiu 30 mil pessoas, próximo aos números da TAP. Os voos diretos entre Salvador e Buenos Aires e outros com escalas rápidas são fundamentais, mas muitos argentinos entram por outras cidades e depois se dirigem à Bahia. Para se ter uma ideia do potencial desse mercado emissor, no acumulado dos sete primeiros meses de 2023, os argentinos que chegaram ao Brasil somaram 1,4 milhão e a Bahia tem potencial de atrair cerca de 10% ou mais desse montante.
A verdade é que atraindo mais argentinos, Salvador pode se consolidar como principal portão de entrada de turistas estrangeiros na Região Nordeste e precisa cada vez mais do incentivo do poder público, não só com a divulgação mais efetiva do destino Bahia na Argentina, mas também com a busca de novos voos e de outras facilidades para o turista, como a isenção de ICMS nas compras. É verdade que o peso está desvalorizado, que os hermanos estão com a inflação nas alturas, que muitas mudanças econômicas virão, mas, seja com Massa ou Milei (vade retro!), os argentinos, especialmente a classe média e alta, continuarão viajando.
Junto com o Rio de Janeiro, o produto Bahia é o melhor do país em termos de turismo internacional e, se fosse ampliada a rede de voos, estaria entre os mais visitados destinos do mundo. Não vamos esquecer que o Ceará está sediando o hub da Air France-KLM e Pernambuco o hub da Azul, mas, ainda assim, a Bahia permanece como o 3º principal polo receptor de turistas estrangeiros do país por via aérea e porta de entrada no Nordeste.