A economia em 2025 e a tautologia dos analistas
Confira a coluna do economista Armando Avena
Há uma regra básica para quem investe no mercado financeiro: o passado não garante o futuro. Ou seja, a rentabilidade de uma aplicação no ano anterior não garante o mesmo desempenho no ano futuro. Em macroeconomia é a mesma coisa e, daí, pode-se inferir: o bom desempenho da economia brasileira em 2024 não é garantia de que o mesmo vá ocorrer em 2025. Pelo contrário.
Em 2024, a economia registrou crescimento do PIB de 3,5%, taxa de desemprego da ordem de 6%, a menor já registrada, e superávit na balança comercial. Isso com a inflação fechando o ano em 4,8%, próxima ao teto da meta de 4,5%, e com um déficit primário – aquele que o mercado dizia que ia explodir – de 0,1%, ou seja, abaixo dos 0,25% previstos no arcabouço fiscal.
Mas não houve apenas aspectos positivos. A cotação do dólar oscilou muito, como era esperado, e o Banco Central, num acesso de pânico, elevou a taxa de juros para 12,25% ao ano e disse que vai aumentar a Selic em mais 2% nas próximas reuniões para fazer frente a uma inflação de apenas 4,8%. É como usar um canhão para matar o que ainda é uma formiga.
A justificativa do Banco Central foi, basicamente, a disparada da cotação do dólar, já que as medidas de corte de gastos foram aprovadas e o déficit primário já indicava ser menor que o esperado. Mas o aumento do dólar tem mais a ver com a incerteza internacional do que com o fiscal e, se aumentou em dezembro, caiu quase 3% nos primeiros dias de janeiro e pode subir outro tanto quando Donald Trump disser a que veio. Ou seja, por enquanto, as oscilações acentuadas na cotação do dólar não são estruturais, e o repasse imediato nos preços é apenas uma conjectura. Mas, de qualquer modo, não foi de todo mal o BC aumentar os juros para preparar o país para a nova ordem econômica mundial que será ditada por Trump. O que parece mal é anunciar um aumento futuro de 2% na Selic, sem sequer ver o comportamento da inflação.
O que parece mal é a posição dos analistas econômicos dos grandes jornais que, não tendo mais como criticar o déficit primário, passaram a trombetear que o déficit nominal do país será de 8,6% em 2025, um dos maiores do mundo. Ora, isso é uma tautologia, é como dizer que o sal é salgado, afinal, o cálculo do déficit nominal inclui o pagamento de juros pela rolagem da dívida, e esses analistas, os mesmos que pleiteavam aumento de 1% nos juros, deviam saber que isso aumentaria o déficit nominal em 2025, ainda mais com o Banco Central anunciando novos aumentos da Selic a priori. Foi isso que fez os juros futuros dispararem e a rolagem da dívida pública, que é 50% indexada à Selic, obviamente vai aumentar o déficit nominal em 2025.
Poder-se-ia dizer que as análises econômicas no Brasil estão parecendo o Samba do Crioulo Doido do saudoso Stanislaw Ponte Preta, não fosse o fato de o título gerar insuportáveis chiliques identitários.
De qualquer modo, 2025 trará desafios para a economia brasileira, afinal, o ambiente internacional estará tensionado, o PIB vai desacelerar por conta da política monetária fortemente contracionista, a arrecadação deve cair, e o governo precisará continuar adotando medidas para conter os gastos, num ano que é véspera de eleições.
Mesmo assim, e apesar do Relatório Focus, aquele que erra sempre, já está anunciando queda do PIB e Selic em 15% no final do ano, minando a credibilidade do mercado, é preciso dizer que certo nível de crescimento econômico já está contratado e o PIB deve crescer no 1º trimestre, não só pela resiliência da economia, mas também porque o impacto dos juros mais altos só se concretizará no segundo semestre.
De todo modo, não há dúvida de que 2025 será um ano mais difícil sob o ponto de vista econômico. Por isso, é fundamental que a sociedade exija, e o governo cumpra, o limite para crescimento real das despesas de 2,5% do PIB.