A Ponte Salvador-Itaparica
Ponte Salvador-Itaparica é um dos principais projetos econômicos do estado
Em meus artigos, sempre fui favorável à construção da ponte Salvador/Itaparica – sob o ponto de vista paisagístico, urbano e econômico –, mas tinha dúvidas quanto ao aspecto financeiro. Em termos paisagísticos, creio que a Baía de Todos-os-Santos vai ficar ainda mais linda com a ponte singrando suas águas. Será um cartão postal de Salvador, como a Golden Gate, em São Francisco, ou a ponte Vasco da Gama, em Lisboa.
É comum criticar obras como essas, em 1869, por exemplo, muitos foram contra a construção de um modal hidráulico cilíndrico de cimento que macularia o frontispício da bela cidade da Bahia e, no entanto, o Elevador Lacerda é o mais conhecido cartão postal da nossa cidade. No aspecto urbano, não vejo problema.
A engenharia é capaz de definir qual será o melhor ponto de engaste com a área urbana de Salvador e a movimentação de carga e passageiros se dará pela Via Expressa ao menos por 20 anos e depois virão novas vias. E Salvador precisa de carga e movimentação portuária para gerar renda e emprego, ou há quem acredite que o nosso futuro é ser um balneário turístico-musical, especializado em festejos, com uma ilha paradisíaca e uma baía bucólica, com algumas lanchas e iates, e rodeada de pobres por todos os lados.
Nova York, por exemplo, é uma cidade turística, mas tem ponte por todo lado, tem o maior porto de contêineres do país e a maior rodoviária do mundo, que fica no centro da cidade, na 41 street com a 8ª Avenida.
A ponte vai ter impacto urbano em Salvador e Itaparica. Mas ponte não cria favelas, elas já existem na ilha e refletem a ocupação urbana de Salvador. No entanto, ao conurbar as duas aglomerações urbanas, a ponte pode induzir uma ocupação mais ampla e mais desordenada e, por isso, será fundamental a implantação de um plano rígido de ocupação urbana no seu entorno, em Salvador, e nas localidades da ilha, definindo claramente o uso residencial e os demais usos.
Mas sem ilusões, Itaparica vai se tornar um bairro soteropolitano e repetir em maior ou menor grau a ocupação urbana da cidade, com áreas nobres e outras nem tanto, e com certeza a especulação imobiliária será intensa cabendo ao poder público ordená-la.
E a economia? Ora, a ponte trará benefícios a Salvador, que representa 25% do PIB baiano, mas é isolada, uma península com apenas uma saída rodoviária já saturada para a região Sudeste. Com a ponte, haverá mais dinamismo e integração econômica na Bahia.
Quanto à questão financeira, o projeto foi transformado em Parceria Público Privada, o que significa que não será custeado apenas com recursos públicos e o consórcio terá que tomar empréstimos e colocar dinheiro próprio. Mas é uma PPP com concessão patrocinada, assim, se o pedágio cobrado dos usuários não compensar os investimentos, o governo do Estado terá de complementar a remuneração com aportes regulares. É aí que o governo federal, que declarou apoio integral ao projeto, precisa entrar arcando com parte do custo.