A quantas anda a Argentina de Milei
Confira a coluna do economista Armando Avena
Estive em Buenos Aires para participar de uma “charla” sobre a política econômica de Javier Milei. E foi possível avaliar como está a Argentina neste momento. A política econômica de Milei teve uma vitória e uma derrota nesses primeiros seis meses de governo e agora está frente a um desafio. A vitória foi o corte drástico nos gastos do governo, que lhe permitiu alcançar um superávit fiscal nas contas públicas, e a desaceleração da inflação, que vem caindo, mas está na casa de 8% ao mês, lembrando ao leitor que no Brasil ela está em cerca de 3% ao ano. A derrota é que o resultado dessa política foi que o consumo despencou e caiu mais de 7% no acumulado de 2024. Assim, o PIB caiu 5,1% no 1º trimestre de 2024 e continua caindo, empurrando a Argentina para uma forte recessão. Isso está representado no dia a dia pela redução drástica dos gastos das famílias e pela frase: “No hay plata”.
Com isso os argentinos querem dizer que não há dólares suficientes para uma dolarização e que, a inflação corrói o poder de compra do peso diariamente, enquanto os salários permanecem congelados. Esse cenário não afeta os mais remediados que se refugiam no dólar, mas sim os pobres, que na Argentina representavam 55% da população no 1º trimestre deste ano, sendo 18% em extrema pobreza. Essa, pobreza, que já existia quando Milei assumiu, segue pagando a conta e quem olhar vai vê-la nas ruas de Buenos Aires.
“No hay plata” e isso refere-se as reservas em dólar do país que ainda estão negativas e ao dólar do dia a dia que está se desvalorizando oficialmente em torno se 2% ao mês, mas se desvaloriza muito mais no mercado negro, no câmbio blue que, sem ser, é a verdadeira moeda do país. E o grande desafio da política econômica de Javier Milei é acabar com “el cepo”, o controle rígido ao câmbio, apelidado assim pela população. O cepo é um instrumento de tortura no qual os escravos e os condenados ficavam presos à madeira, pela cabeça, mãos e pés. O “cepo” cambial, criado por Cristina Kirchner, prende e tortura a economia, pois limita os movimentos de capitais fora e dentro do país, como na importação de bens e serviços e na limitação a compra de dólar no mercado oficial. As empresas não podem transferir, nem receber os dólares do exterior, sequer pagar dívidas com suas matrizes. As pessoas só podem comprar até 200 dólares no câmbio oficial e com imposto alto. E assim tudo é feito no mercado paralelo. Sem acabar com o “cepo”, a política econômica não tem futuro, afinal quem vai acreditar numa política liberal em que o câmbio e as importações são taxadas e estão sob controle do Estado. O problema é que Milei não pode acabar com “el cepo” imediatamente, não só porque quando o fizer haverá uma maxi desvalorização do peso, mas também porque a Argentina não tem reservas para atender a demanda que virá. Milei se diz um arauto do liberalismo total, avesso a Keynes para quem a intervenção do Estado é fundamental, mas por enquanto ainda está com ele e não sabe o que fazer sem ele.