Bahia não pode perder o trem
Confira a coluna do economista Armando Avena
O futuro da Bahia e de sua economia está sendo montado agora e as lideranças políticas e empresariais e o poder público precisam se unir para enfrentar os desafios que estão postos e que, se não forem vencidos, podem fazer com que o estado perca o trem e fique a ver navios.
O primeiro desses desafios é a concretização do primeiro trecho da Ferrovia Oeste-Leste e do Porto Sul. É um desafio porque ambos os projetos estão paralisados e a Bamin, cuja subsidiária Bahia Ferrovias tem a concessão para construção e operação da Fiol 1 e do Porto Sul, atravessa um período de reestruturação, registrando prejuízo de R$ 30 milhões em 2023 e um alto grau de endividamento, que pode resultar na entrada de um novo sócio no projeto.
O desafio nesse caso é garantir a celeridade da construção e operação dos dois equipamentos de infraestrutura para montar o corredor ferroviário Oeste-Leste, já que a demora pode dar azo a implementação de outras rotas ferroviárias que a lijem os portos da Bahia.
Outro desafio está na montagem do corredor ferroviário Sudeste-Nordeste, operado pela Ferrovia Centro Atlântica. Ao que parece, já está definido que a VLI – Logística, controlada pela Vale, vai sair da operação do trecho baiano da ferrovia. Não será ruim para a Bahia livrar-se da Vale, que abandonou a malha ferroviária e pouco investimento fez. Mas é preciso garantir a operação em boas condições da malha atual da FCA até meados de 2026, como está previsto, e exigir recursos de monta da Vale para a Bahia, tanto na outorga quanto na indenização, superiores, numa primeira análise, a mais de R$ 10 bilhões para que, ao mesmo tempo, seja reabilitada e/ou construída a Linha Sul, que liga Salvador a Cori nto (MG). E aí será necessário discutir a questão da bitola ferroviária para que a Bahia possa estar integrada aos corredores nacionais.
O cenário atual estabelece a incerteza na montagem do Corredor Leste-Oeste, que prevê a integração da Fiol com a Fico – Ferrovia de Integração Centro-Oeste, e a incerteza no corredor Sudeste-Nordeste, já que não se tem ideia do futuro da ferrovia Salvador Corinto.
Se Bahia quiser pegar o trem do futuro, além das ferrovias terá de enfrentar o desafio dos portos e das rodovias. No caso dos portos, é preciso investimentos de modo a dotá-los de condições para receber os gigantes dos mares, navios que transportam de 12,5 mil TEUs até mastodontes que carregam 24 mil TEUs. Para isso, é preciso de no mínimo 16 m de calado. No âmbito privado houve avanços e investimentos e a Tecon/Salvador, por exemplo, já tem esse calado e pode receber tais navios, mas é preciso incluir o Porto de Aratu e todo o complexo portuário da Bahia de Todos os Santos.
No relacionado às rodovias, urge superar a saturação da BR-324, não só investindo e modernizando essa que é a única ligação de Salvador com sul e sudeste do País, mas também criando uma nova alternativa rodoviária, afinal a 5ª maior cidade do Brasil não pode ter apenas uma ligação com o sistema rodoviário nacional.