Juros altos? E daí! – Keynes X ortodoxos
Armando Avena comenta sobre taxa de juros no Brasil

Entre maio de 2024 e maio de 2025, a taxa de juros no Brasil elevou-se de 10,5%, um patamar já excessivamente alto, para 14,75% ao ano. Nesse período, o país conviveu com juros reais em elevação e chegamos em maio a uma taxa de juros real da ordem de 9%. Esse patamar já deveria ter gerado uma brutal recessão, mas a economia brasileira se dá ao luxo de provocar: Juros altos? E daí!
E de tal maneira que o PIB – Produto Interno Bruto – continua a crescer como se não houvesse amanhã. Nesta sexta-feira, o IBGE vai divulgar os resultados do primeiro trimestre de 2025 e, ao contrário do que previa o mercado financeiro e o famigerado Boletim Focus, o PIB terá crescido entre 1,5% e 1,7% em relação ao trimestre anterior e mais de 3% em relação ao mesmo período de 2024.
Com isso, o crescimento econômico em 2025 já está contratado em torno de 3%, não só pelo efeito carry-over, mas também porque o crescimento está sendo puxado pelo setor agropecuário que, automaticamente, gera um efeito consumo, com o aumento de rendimentos de todas as atividades vinculadas ao segmento. Se isso se confirmar, a taxa de crescimento médio anual do período 2023/2025 será maior que 3%, disparadamente a maior taxa dos últimos dez anos.
Um economista ortodoxo diria: esse ritmo de crescimento não se sustenta; a economia está crescendo acima de sua capacidade potencial. E isso estaria consubstanciado na inflação de preços livres, que está excessivamente alta e, nos últimos 12 meses encerrados em abril, ficou em 5,83%.
Mas a inflação começou a recuar em maio e o IPCA-15 subiu 0,36%, após alta de 0,43% em abril, pressionada pela alta dos juros e pela grande safra de grãos. Embora lentamente, o juro fez cair a inflação, mas não o PIB, que desacelerou um pouco, mas voltou a crescer, e a taxa de desemprego caiu apenas 0,5%, ficando em 7%, a menor taxa da história.
Isso é fruto, dizem os ortodoxos, da existência de capacidade ociosa na economia, que logo se esgotará. É verdade, mas a capacidade produtiva está sendo reposta, nos últimos trimestres, pelo crescimento da Formação Bruta de Capital Fixo.
Ora, esse crescimento é fruto da política fiscal expansionista que injeta dinheiro no mercado. A política é expansionista, sim, mas mantém alguma responsabilidade fiscal, afinal, o déficit zero foi alcançado em 2024 e o governo está cortando e contingenciando gastos e aumentando impostos para, assim, viabilizar o fechamento das contas em 2025.
Um economista keynesiano diria que o crescimento é fruto do aumento da demanda interna, com a elevação real do salário mínimo e o efeito multiplicador do aumento do rendimento médio real efetivo das pessoas ocupadas.
É clássico: a propensão marginal a consumir é maior entre os mais pobres e, se o salário real sobe, ele consome tudo que ganha. É demanda na veia da economia. Diferente dos mais ricos, que poupam a maior parte do que ganham. Consumo extra aumenta a receita das empresas, que podem contratar mais, investir ou aumentar salários, e isso gera mais emprego e mais consumo, retroalimentando a economia. É Keynes puro! — e como o salário-mínimo tem peso maior nas regiões Norte e Nordeste, o crescimento econômico se espalha por áreas deprimidas.
Um economista ortodoxo argumentará que esse crescimento não é estrutural, que, sem ganhos de produtividade e investimento em capital humano, há um risco de estagnação estrutural e inflação persistente e, mais cedo ou mais tarde, a crise fiscal chegará. Já um keynesiano argumentaria que a produtividade de longo prazo será elevada com investimentos, inclusive do Estado, em infraestrutura e tecnologia e em saúde e educação e que essa é a forma de inserir a população pobre na economia.
Um keynesiano tem ojeriza a ajustes drásticos, ao contrário dos ortodoxos. Mas keynesianismo sem responsabilidade fiscal é tiro no pé. Por isso, eles defendem uma política anticíclica gradual: se for detectado excesso de demanda e inflação, pisa-se no freio, mas devagar, com ajustes localizados.
O Brasil, neste momento, está crescendo via Keynes, mas em breve o leitor poderá escolher – nas eleições – se prefere um modelo ortodoxo ou um keynesiano.
Bahia Oil & Gas Energy
Começou ontem e vai até sexta-feira a 3ª edição do Bahia Oil & Gas Energy, que está sendo realizada no Centro de Convenções de Salvador. A programação incluiu palestras sobre todos os segmentos do setor de óleo e gás, eventos paralelos e uma arena comercial com rodadas de negócios que estão sendo realizadas diariamente com compradores como Acelen, Petrobras, PetroReconcavo, Transpetro e muitos outros.
O evento deve atrair mais de 12 mil participantes e é considerado o maior evento do setor de óleo e gás do Norte e Nordeste do Brasil e já está consolidado nos calendários nacional e internacional, refletindo a pujança do setor nessas regiões.