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Armando Avena

Por Armando Avena

ACERVO DA COLUNA
Publicado quinta-feira, 14 de agosto de 2025 às 2:36 h | Autor: Armando Avena - A TARDE

Medidas do governo e tarifaço para inglês ver

Confira a coluna de Armando Avena desta quinta-feira

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Presidentes do Brasil, Lula (PT), e do EUA, Donald Trump
Presidentes do Brasil, Lula (PT), e do EUA, Donald Trump -

Ao impor tarifas de 50% aos produtos brasileiros que são exportados para os Estados Unidos, Donald Trump fez um ato político. Sob o ponto de vista econômico, o tarifaço não faz sentido, afinal, o Brasil é deficitário no comércio com os EUA e as duas economias são mais complementares do que competitivas. O tarifaço foi para inglês ver. Ao prever uma lista de exceções de 700 produtos – aviões, petróleo, celulose, suco de laranja e outros –, o impacto na economia brasileira será de apenas 1,7% do PIB. Em termos macroeconômicos, Trump não taxou uma república de bananas, mas um país com um PIB de US$ 2,3 trilhões, o 10º maior do mundo.

A revista The Economist percebeu isso e avaliou que o Brasil exporta pouco em relação ao seu PIB e depende cada vez menos do mercado americano, que hoje representa 13% das vendas externas, contra 25% há duas décadas. Enquanto isso, a China sextuplicou suas importações, chegando a 28%. E aqui vale lembrar que muitas das empresas brasileiras taxadas têm condições de realocar seus produtos para outros mercados, seja por meio de acordos já existentes com parceiros comerciais, seja aproveitando novas oportunidades abertas pela própria tensão geopolítica criada por Trump e que desloca os fluxos de comércio.

A produção de café e carne, por exemplo, já está sendo realocada, com a China abrindo seus mercados. Por isso, pode-se dizer sem temor: o tarifaço de Trump foi para inglês ver, pelo menos sob o ponto de vista macroeconômico.

Mas, no universo microeconômico é diferente e muitas empresas e muitos setores serão fortemente afetados, além de que muitos produtos tarifados compõem cadeias produtivas que serão impactadas na produção e no emprego. Por isso, era fundamental que o governo apoiasse as pequenas empresas e os segmentos fortemente dependentes das exportações americanas, a exemplo da área de siderurgia, de alumínio, calçados, pescado, frutas, máquinas e outros.

Por isso, chegou em boa hora o chamado plano de contingência, batizado de plano “Brasil Soberano”, com as seguintes medidas: crédito de R$ 30 bilhões com taxas acessíveis, através do Fundo Garantidor de Exportações; prorrogação de prazos de suspensão tributária (drawback); diferimento de tributos federais para as empresas mais afetadas pelo tarifaço; e ampliação das regras de garantia à exportação. O plano inclui também um Novo Reintegra, que devolve aos exportadores parte dos tributos pagos ao longo da cadeia produtiva, na forma de crédito tributário, e outros aportes em fundos garantidores das exportações. Além disso, o governo vai monitorar o nível de emprego nas empresas e suas cadeias e viabilizar compras públicas de produtos pela União, estados e municípios.

São medidas importantíssimas e dão fôlego aos setores mais afetados. E podem ser ampliadas caso Trump expanda a chantagem política e obrigue outros países a comprar maior quantidade de produtos dos EUA, a exemplo de soja e algodão, tirando mercado dos produtos brasileiros e baianos.

De todo modo, se, em termos macroeconômicos, o tarifaço já não compromete a trajetória de crescimento do Brasil, agora, com as medidas adotadas, o impacto dele será menor ainda.

O tarifaço e a Bahia

No caso da Bahia, o impacto do tarifaço será pequeno, da ordem de 0,5% do PIB, mas vai afetar algumas cadeias produtivas, ainda que a maioria delas tenha capacidade de realocar seus produtos. A petroquímica foi afetada, mas tem espaço para mudar o destino de suas exportações. A Braskem calcula que o mercado americano representou 0,7% da receita no primeiro semestre, e os produtos mais relevantes na pauta de exportação estão na lista de exceção. Cacau e café não terão dificuldades de redirecionar suas vendas, já que há demanda e os preços estão altos. A fruticultura e os pequenos negócios vão sofrer mais e precisam do apoio dos governos federal e estadual.

A inflação e a taxa de juros

O Brasil é um país curioso. Esta semana, todo mundo destacou que a inflação de julho, que foi de 0,26%, subiu 0,02% (sic) em relação a junho. Mas ninguém disse que o IPCA vem despencando mês a mês desde fevereiro, quando atingiu 1,31%. Tampouco que, nos últimos três meses, a taxa de inflação ficou em 0,25% ao mês, o que significa que, anualizada, já atingiu o centro da meta de 3%, permitindo que o Banco Central dê início ao ciclo de redução da taxa Selic, que está em absurdos 15% ao ano. Alguém precisa dizer ao presidente do Banco Central que é irracional e não tem sustentação nos compêndios econômicos manter a Selic em 15% ao ano com inflação de 0,25% ao mês.

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