O impacto das tarifas na economia será pequeno
Confira a coluna desta quinta-feira

Tudo indica que nesta sexta-feira o presidente Donald Trump vai manter a tarifa de 50% para os produtos exportados para os Estados Unidos. É uma má notícia, mas, diferente do que se apregoa, o impacto dessas tarifas é pequeno e está sendo superestimado. Para começar, é preciso dizer que o PIB brasileiro em 2024 foi da ordem de US$ 2,3 trilhões - o décimo maior do mundo - e as exportações para os Estados Unidos foram de apenas US$ 49,7 bilhões, representando pouco mais de 2% do PIB. É verdade que por trás desse percentual, existem inúmeras cadeias produtivas, mas, ainda assim, elas representam apenas 12% do total exportado pelo Brasil em 2024.
Embora afete duramente alguns setores, a tarifa imposta por Donald Trump não tem o condão de afetar drasticamente a economia brasileira e os principais bancos do país estimam uma queda no PIB em 12 meses de apenas 0,2% ou 0,4%.
E isso pode não ocorrer, afinal, um mercado interno do tamanho que dispõe o Brasil, um dos maiores do mundo, abre espaço para que muitos produtos que atualmente são direcionados para os Estados Unidos, optem por aumentar a oferta nas lojas e supermercados brasileiros. Aliás, isso vai beneficiar o controle da inflação, pois o café, as frutas, a carne e outros produtos, que antes iriam para o exterior podem aumentar a oferta no mercado interno e reduzir os preços dos produtos. Concretizada a imposição da tarifa, as empresas brasileiras vão, enquanto buscam novos mercados no exterior, colocar sua produção no mercado interno gerando um efeito deflacionário em grande parte da economia.
Com isso, virá outro efeito benéfico, pois o impacto deflacionário permitirá ao Banco Central dar início ao ciclo de queda nas taxas de juros. Ora, esse movimento vai estimular o crédito, incrementando o consumo e dinamizando o investimento. Assim, é possível que a redução da inflação e o início do ciclo de queda na taxa de juros possa compensar a queda nas exportações e fazer com que o PIB, ao invés de cair, cresça mais do que o esperado.
É verdade que, em alguns segmentos, especialmente na base industrial, o impacto será maior e por isso torna-se necessário o plano de apoio às empresas afetadas que vem sendo estruturado no Ministério da Fazenda. Já em relação à cotação do dólar, o impacto não parece significativo, até porque a moeda americana vem se desvalorizando em todo mundo.
Mas aqui é preciso estar atento ao fato de que a maior dependência do Brasil ao mercado americano não está no setor exportador, mas nas importações brasileiras, cerca de 15% delas vindas dos Estados Unidos e fundamentais para o processo de produção e os novos investimentos. Em poucas palavras: não pode haver qualquer tipo de retaliação aos produtos americanos, a não ser retaliação cruzada, focada em determinado segmento, e ainda assim se for estritamente necessário.
A verdade é que o monstro tarifário americano não é tão feio quanto parece e seus efeitos serão restritos a alguns setores específicos e que fique a certeza: quem tem um mercado interno do tamanho do brasileiro, não pode se desesperar com imposição de tarifas.
E as tarifas chegaram
Esse artigo já estava pronto, quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou a tarifa de 50% com várias exceções. Foram tantas as exceções, que 47% das exportações brasileiras para os Estados Unidos não foram tachadas. O artigo permanece correto: os produtos que foram taxados, café, cacau, carne e frutas e outras, vão para o mercado interno e ajudarão a baixar a inflação, enquanto buscam outros mercados. E o Banco Central poderá baixar os juros com o efeito deflacionário resultante. Por outro lado, o número de exceções demonstra a importância da produção brasileira para o mercado americano, mas foi também um aceno à abertura de uma relação mais construtiva.
Deus ex machina
Escrevi este artigo na expectativa do “Deus ex machina". A expressão latina significa “deus surgido da máquina" e tem origem no teatro grego antigo, onde um ator representando um deus era içado ao palco por meio de um mecanismo (a "máquina") para resolver um conflito e encerrar a peça. Preferia que o “Deus ex machina” aparecesse na forma do diálogo e com o adiamento das tarifas. Mas estava preocupado pois o “Deus ex machina" podia vir travestido de radicalismo, com Trump usando o comércio para atacar a soberania brasileira, o que daria lugar a retaliações e até a uma guerra comercial. Felizmente, nada disso aconteceu e o “Deus ex machina" veio forte, “ma non tropo”.