O oeste e a Bahia Farm: oportunidades e desafios
Confira a coluna do economista Armando Avena
A Bahia é uma potência do agronegócio e o PIB do setor alcança quase R$ 100 bilhões, cerca de 25% do que o estado produz. É um montante maior do que o PIB total de vários estados do Nordeste. E a Bahia Farm Show, que começou na última segunda-feira na cidade de Luiz Eduardo Magalhães, é um símbolo da força e da pujança da região Oeste da Bahia. É a maior feira do agronegócio no Norte-Nordeste e uma das maiores do Brasil e deve gerar cerca de R$ 9 bilhões em negócios.
O oeste da Bahia é o principal polo produtor do Matopiba, formado pela área de cerrado dos estados de Tocantins, Maranhão, Piauí e Bahia, e já responde por 50% do total produzido nesta região. Nove entre os 100 maiores municípios agroindustriais do Brasil estão na Bahia e dois deles – Formosa do Rio Preto e São Desidério – estão entre os 10 maiores municípios produtores de grãos do Brasil. São Desidério está no top 5. Com esse potencial não há dúvida que a Bahia Farm Show vai ser um sucesso, mas é preciso estar atento à realidade do oeste, pois aí existem enormes potencialidades, mas também desafios.
Parafraseando Pero Vaz de Caminha, nos cerrados da Bahia em se plantando tudo dá, mas com irrigação. E não apenas soja, algodão ou milho, a região já produz café, arroz, fruticultura e feijão e já está sendo considerada a nova fronteira econômica do cacau. Em termos econômicos, a região vai bem, apesar da queda dos preços das commodities, que é um movimento conjuntural. Em 2024, a produção de soja deverá ter uma pequena queda, mas deve chegar a 7,5 milhões de toneladas. A produção de algodão terá aumento de 1,3% e a safra de milho terá uma queda em torno de 20%. Tudo dentro do esperado, afinal, o ano de 2023 foi de produção recorde e a safra de 2024 será menos expressiva.
Em relação à infraestrutura, a disponibilidade de energia, gargalo mais citado na última edição da feira, está sendo resolvido com uma ação mais efetiva da Neoenergia/Coelba. Mas outras demandas são importantes, a exemplo da viabilização mais rápida dos aeroportos de Barreiras e de Luiz Eduardo Magalhães e dá maior celeridade no projeto de duplicação do trecho da BR 242 entre Barreiras e Luiz Eduardo Magalhães e outras estradas previstas no DNIT. A logística para as exportações avança com o investimento privado de um novo berço no Porto de Aratu, mas a questão só será definitivamente resolvida com a Ferrovia Oeste-Leste. Há avanços também na ampliação na verticalização da produção e investimentos em usinas de beneficiamento e outros investimentos industriais, mas também aí se faz necessário estímulos, incentivos e logística. No Matopiba, a Bahia está se diferenciando do Maranhão, que exporta toda sua produção, porque beneficia uma parte dela agregando valor e isso tende a crescer. Além dos desafios econômicos, existem também desafios sociais e ambientais. Um deles é o avanço do desmatamento no cerrado. No Matopiba foram desmatados quase 500 mil hectares em 2023, o que representa 75% da área desmatada de todo o bioma Cerrado no ano. O cuidado com a disponibilidade de água, usada intensivamente na irrigação, também preocupa e foi bom ver na Bahia Farm Show a apresentação de estudo e avaliação do aquífero da região. Por fim, existe ainda a questão da segurança jurídica e dos problemas no âmbito da titulação de terras e as questões sociais. As prefeituras de Barreiras e Luiz Eduardo estão entre as 10 cidades da Bahia que mais arrecadam e precisam investir mais efetivamente na área social e de educação de saúde.
Há, como se vê, oportunidades e desafios para a mais importante província do agronegócio no Norte e Nordeste do país, mas já é possível afirmar que o futuro econômico da Bahia passa necessariamente pela região oeste.