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Petrobras: entre o irrelevante e o essencial

Confira a coluna do economista Armando Avena

Publicado quinta-feira, 14 de março de 2024 às 00:00 h | Autor: Armando Avena
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O Brasil é um país curioso. Aqui os analistas preferem destacar o irrelevante em detrimento do essencial. Vejamos, por exemplo, os resultados da Petrobras em 2023. A empresa registrou um lucro líquido de R$ 124,6 bilhões, o 3º maior entre as gigantes petrolíferas do mundo. Foi um desempenho excepcional, mas o que teve destaque foi que isso representou uma queda de quase 34% em relação a 2022. Ora, a Exxon, maior petroleira do mundo, reduziu seu lucro em 35% e a Chrevon em 40% e assim foi com todas as gigantes petrolíferas que tiveram o preço do barril de petróleo inflado em 2022, por causa da guerra da Rússia contra a Ucrânia. Então, o pouco relevante – uma queda já esperada no lucro das petroleiras – foi o destaque em detrimento do fato de se ter alcançado o segundo maior lucro da história da empresa.

Os economistas gostam de siglas indecifráveis e dão o nome de Ebitda ao lucro obtido após abatidos os juros, impostos e depreciação. Pois bem, a Petrobras registrou em 2023 o segundo maior Ebitda da história. E para completar o bom desempenho, investiu quase US$ 13 bilhões e reduziu sua dívida financeira em US$ 1,2 bilhão. Isso é o essencial, mas o destaque foi o menos relevante: a decisão do Conselho de Administração de pagar neste momento os dividendos ordinários e adiar o pagamento dos dividendos extraordinários. Note-se que os dividendos extraordinários, terão de ser pagos mais cedo ou mais tarde, porque assim manda a lei, mas isso bastou para que o tema se transformasse em uma crise política, sob o argumento de que o governo estaria interferindo na gestão da empresa. Uma crise vazia porque não importa a vontade do governo, a estatal tem de obedecer a Lei das S/A e seu estatuto e está sujeita aos padrões de governança e compliance. Mudar isso tem de passar pelo Congresso.

Mas, de novo, destacando o pouco relevante em detrimento do essencial, o destaque foi que, em função da “crise”, a Petrobras perdeu R$ 55,3 bilhões em valor de mercado. Ora, quem trabalha em Bolsa sabe que isso é um cálculo simplista, ou seja, a ação de qualquer empresa sobe e cai por causa de qualquer instabilidade, seja política ou econômica, e é uma balela dizer que a empresa perdeu valor de mercado por causa de movimentos conjunturais. Até porque, um dia depois ela recuperou na Bolsa o que tinha perdido. A única coisa útil dessa “crise” sobre os dividendos da Petrobras, foi a decisão de nomear um representante do Ministério da Fazenda para o conselho de administração.

Na verdade, sob o ponto de vista técnico, a gestão de João Paulo Prates tem se mostrado eficiente. A mudança na política do Preço de Paridade Internacional, por exemplo, vista como uma crise anunciada, foi feita sem transtornos; os investimentos da empresa cresceram 29% em 2023; a dívida foi reduzida e a produção no pré-sal foi 10% maior do que em 2022.

Outro tema sensível, a negociação para que a Petrobras volte a operar as refinarias, como a Refinaria de Mataripe, não está sendo feita com arroubos nacionalistas, mas no âmbito da bolsa de valores e de um pacote de investimentos.

E aqui chegamos ao ponto básico. No que se trata da Petrobras, o problema não está em ela ser uma estatal, afinal existem grandes estatais petrolíferas, como na Arabia Saudita, na China, na Rússia, na Noruega e em outros países. O que importa é a Petrobras dar lucro, ter governança e compliance, remunerar seus acionistas e não ser usada como instrumento de política pelo governo. Por enquanto, a Petrobras tem tudo isso, dá lucro e ainda destina bilhões em dividendos ao Estado brasileiro, seu sócio majoritário, reduzindo assim o rombo das contas públicas.

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