2 de Julho é a data da Independência
Confira artigo do presidente da Alba, Adolfo Menezes
Menino, quando estudava ainda em Campo Formoso, com as freiras do Instituto Nossa Senhora de Fátima, o Dois de Julho era apenas uma “pincelada” na história da Independência do Brasil. Porque, em todos os livros de história — e que acabou determinando toda a nossa formação cívica — a data magna do País era o 7 de Setembro de 1822. Era o “independência ou morte”; era o “grito do Ipiranga”, era D. Pedro I em uniforme garboso, desembainhando a espada no quadro icônico, e fake, de Pedro Américo.
Precisou mais de meio século pra que eu entendesse que o 2 de Julho é a verdadeira data de nossa libertação.
O espírito crítico que me faltou nas minhas aulas de história — e que ainda hoje, de um modo geral, falta na formação educacional do povo brasileiro — não me permitiu questionar: como o Brasil estava independente em 1822 se as tropas portuguesas ainda estavam no país até o alvorecer de julho de 1823?
A batalha não só se finda quando um dos contendores a vence, seja por aniquilação, capitulação ou fuga do inimigo? Pois, a luta pela independência do Brasil só terminou na Bahia quando as tropas portuguesas comandadas por Inácio Luís Madeira de Melo, então governador de armas da Bahia, foram expulsas definitivamente – em uma luta que começou em 19 de fevereiro de 1822, exatamente 200 dias antes do 7 de setembro.
Madeira de Melo havia declarado Salvador – que possuía cerca de 60 mil habitantes, sendo cerca de 10 mil portugueses – como “praça de guerra e em estado de sítio”. Durante 17 meses, o nosso Exército impôs um cerco total à capital baiana, impedindo a chegada de suprimentos para os portugueses.
Contudo, a “história oficial” relevou para o segundo plano a ação de nossos soldados e soldadas no Recôncavo, em Cachoeira, em Itaparica, no Morro de São Paulo, em Pirajá, no Cabrito, no Rio Vermelho.
Os nossos historiadores, ao longo de 200 anos, preferiram as dragonas douradas do Ipiranga aos soldados descalços e quase nus – muitos deles escravos – com os seus uniformes de trapos e de farrapos, que libertaram Salvador na madrugada de 2 de julho de 1823.
Precisamos resgatar urgentemente para as futuras gerações de brasileiros a bravura indômita de mulheres como Maria Quitéria, Hipólita Jacinta, Bárbara de Alencar, Urânia Vanério, Maria Felipa, Maria Leopoldina, Ana Lins, Joana Angélica, entre tantas outras, limpando também nossas páginas da misoginia e do machismo estrutural.
Duzentos anos não são nada na vida de uma nação, por isso ainda é tempo para a revisão da nossa história oficial: 2 de Julho de 1823 é a data de Independência do Brasil.