Busca interna do iBahia
HOME > colunistas > ARTIGOS
COLUNA

Artigos

Por Cláudio André de Souza* | [email protected]

Artigos
ACERVO DA COLUNA
Publicado quarta-feira, 19 de maio de 2021 às 15:26 h | Autor:

A polêmica do voto impresso

Ouvir Compartilhar no Whatsapp Compartilhar no Facebook Compartilhar no X Compartilhar no Email
Plenário do STF vetou voto impresso em 2018
Plenário do STF vetou voto impresso em 2018 -

Em junho de 2018, por oito votos a dois, o plenário do STF decidiu vetar o voto impresso para eventual conferência dos resultados da disputa nas eleições daquele ano. A decisão dos ministros visou suspender o artigo da minirreforma eleitoral de 2015 (artigo 2º da lei 13.165/2015), que estabelecia a impressão do voto de forma automática e sem contato manual do eleitor, em local previamente lacrado.

Durante séculos, o país foi um jogo combinado das elites coloniais escravocratas. Até 1821 o voto ficava restrito ao âmbito municipal, era aberto, e as eleições contavam apenas com o comparecimento de homens livres. Não existiam partidos. Na República Velha, as eleições a “bico de pena”, feitas na canetada, resultavam em fraudes para manutenção do poder dos coronéis de cada região, que mantinham controle ferrenho dos “currais eleitorais”, com voto de cabresto.

Tudo sobre Artigos em primeira mão!
Entre no canal do WhatsApp.

O Código Eleitoral previa apuração de votos com o uso de sistema eletrônico desde 1982; mas só a partir de 1994 o TSE elaborou um sistema eletrônico de votação que desse rapidez na apuração e segurança contra eventuais fraudes. A mudança na Lei 9.504/1997 permitiu a utilização de urnas eletrônicas, para aumentar a legitimidade e a qualidade da nossa democracia, assegurando o sigilo e a inviolabilidade do voto. E mais: o resultado de cada urna em sua respectiva seção é conhecido imediatamente ao final do horário de votação, com o boletim de urna, passível de fiscalização por parte dos candidatos, partidos e coligações.

Pesquisa recente do Datafolha (janeiro/2021) mostrou que 73% dos brasileiros apoiam a urna eletrônica, apesar da campanha patrocinada pelo presidente Jair Bolsonaro e por seus apoiadores contra as urnas digitais, que tem servido como retórica prévia voltada a deslegitimar as próximas eleições no Brasil. O presidente chegou a afirmar que as eleições passadas foram fraudadas por não permitirem a sua vitória já no primeiro turno.

Não é que todos os que defendem o retorno do voto impresso sejam apoiadores do presidente e de seus rompantes golpistas, mas o debate tomou um caminho ideológico sem volta, empobrecido, sem foco de análise do sistema que temos: rápido, seguro e estável no processo de totalização dos votos.

O debate sobre a PEC 135/19, que trata do retorno do voto impresso automático, como espécie de “recibo”, foi proposto pela deputada Bia Kicis (PSL-DF) e seguiria adiante, com exposição de argumentos sobre as vantagens e as desvantagens da medida; mas a estratégia bolsonarista de condicionar a legitimidade das próximas eleições à adoção do voto impresso revela o caráter das intenções em jogo. A melhor saída pode ser a realização de um plebiscito para que as urnas não fiquem reféns de grupos de pressão anti-democráticos.

*Cientista Político e professor Adjunto da Unilab, um dos organizadores do “Dicionário das Eleições”

Siga o A TARDE no Google Notícias e receba os principais destaques do dia.

Participe também do nosso canal no WhatsApp.

Compartilhe essa notícia com seus amigos

Compartilhar no Email Compartilhar no X Compartilhar no Facebook Compartilhar no Whatsapp

Assine a newsletter e receba conteúdos da coluna O Carrasco