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Baixa testosterona e formas graves de Covid

Publicado quarta-feira, 21 de julho de 2021 às 17:40 h | Atualizado em 21/07/2021, 17:41 | Autor: Nathale Prates*
Nathale Prates é médica endocrinologista
Nathale Prates é médica endocrinologista -

Ser do sexo masculino é, reconhecidamente, um dos fatores de risco associados a quadros clínicos mais graves de Covid-19. Estudos apontam que a testosterona, apesar de seu efeito anti-inflamatório (que poderia tentar conter o processo de inflamação na Covid19), é um hormônio facilitador da entrada do vírus Sars-Cov-2 nas células por estar envolvida no produção de uma enzima chamada serina protease transmembrana 2 (TMPRSS2).

Habitualmente, o Sars-Cov-2 infecta as células ao ligar a proteína S do Spike (espícula do vírus) à enzima ECA2 (enzima conversora da angiotensina 2), presente em células de mucosas do aparelho respiratório. A TMPRSS2 age promovendo um melhor encaixe da proteína S do coronavírus com a célula (em termos médicos, trata-se da clivagem da proteína). Contudo, a relação entre testosterona e Covid-19 vai mais longe - e é portanto mais complexa do que se supõe: um estudo publicado na renomada revista científica JAMA (Journal of the American Medical Association) demonstrou a associação entre a baixa concentração de testosterona e o maior risco de hospitalização por Covid-19.

O estudo em questão evidenciou uma testosterona 65-85% menor nos pacientes hospitalizados graves em comparação aos casos moderados. A concentração mais baixa foi observada no 3º dia após admissão hospitalar e esteve associada a uma piora do quadro. Um estudo ainda em andamento no Brasil, na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP de Ribeirão Preto está buscando a resposta para o motivo da relação entre testosterona mais baixa e agravamento da Covid-19.

A pesquisa, coordenada pela imunologista Cristina Ribeiro de Barros Cardoso, conta com um banco de dados de mais de 480 mil brasileiros (dos quais mais de 25mil tiveram algum diagnóstico positivo para Covid-19), além da análise molecular a partir de amostras de sangue de cerca de 300 pacientes atendidos em hospitais da região de Ribeirão Preto.

Resultados preliminares levam a duas hipóteses principais para o baixo nível de testosterona em homens com Covid grave: uma de que este hormônio seja produzido em menor quantidade pela infecção dos testículos; a outra é de que, apesar de produzida em concentrações normais, ela seja consumida em excesso.

Quanto a uma possível terapia de suplementação de testosterona, os pesquisadores apontam que não há respaldo científico para tal, além do que – por motivos anteriormente citados-, a testosterona pode facilitar a entrada viral nas células e piorar o quadro do paciente. A expectativa é de que nas próximas semanas os primeiros resultados da pesquisa brasileira sejam divulgados oficialmente pelo grupo.

*Médica endocrinologista graduada pela UESC, com Residência em Clínica Médica pelo Hospital Santo Antônio e em Endocrinologia pelo Hospital Roberto Santos

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