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Depois da tempestade, nem sempre a bonança

Publicado quinta-feira, 06 de janeiro de 2022 às 06:00 h | Autor: Jorge Pereira*

O que deveremos esperar do perfil nosológico que se irá abater sobre o nosso Estado nas próximas semanas ou meses, consequente às enchentes que devastaram, de forma inusitada e avassaladora, quanto às suas inimagináveis proporções, arruinando grande extensão do território baiano, deixando uma considerável parcela da população desalojada e, até mesmo, desabrigada?

Além das vultosas perdas materiais, do grave comprometimento das atividades produtivas, agravadas pela dificuldade de acesso, que conjuntamente responsabilizam-se pelo desabastecimento regional, e pelas vidas ceifadas precocemente. Some-se a esse momento catastrófico inicial, em que a população baiana, de forma especial, ainda que não exclusiva, está sendo acometida pela “Flurona”, neologismo incorporado para definir a síndrome, predominantemente respiratória aguda; resultante da coinfecção pelos vírus da gripe (Influenza - Flu, no idioma inglês) e o Sars-Cov2, o coronavírus, ainda reinante, responsável pela covid-19.

Mas o que se poderia esperar do período pós-intempéries em nosso Estado, no sistema de Saúde Pública?

Além dos graves problemas de ordem psico-emocional e econômico-financeiros que afligem a população, deveremos estar atentos e precocemente atuantes à eclosão de diversos surtos de enfermidades decorrentes desse tipo de desastre ecológico, a exemplo de gastroenterites, parasitoses, hepatites, dengue, zika,  chikungunya, febre amarela e leptospirose, dentre outros.

Tais agravos à saúde de nossa população serão por demais inoportunos aos nossos sistemas de saúde pública e privada, já combalidos e esquálidos consequentes à pandemia, ainda ativa e preocupante.

Como agravante, estamos sendo requisitados para cuidar de inúmeros pacientes com doenças crônicas descompensadas e em estado avançado, represadas, enquanto as atenções estiveram em grande parte, voltadas para a pandemia, o outrora previsível recrudescimento das enfermidades crônicas represadas pela covid-19 que, de momento, se apresentam de forma mais grave e avançada, por terem sido negligenciadas à sombra da pandemia, para a qual todas as atenções estiveram voltadas.

Em meio a tantos desafios, experimentamos a fúria das águas, e toda sorte de intempéries, as epidemias e suas desastrosas consequências sociais e econômicas, mas quando finalmente teremos o direito de desfrutar da almejada bonança. 

*Professor Titular da FMB-UFBA, Membro Titular da Academia de Medicina da Bahia e Presidente da Sociedade de Pneumologia da Bahia

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