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Por Roberto Rodrigues*

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ACERVO DA COLUNA
Publicado quarta-feira, 01 de novembro de 2023 às 6:20 h | Autor:

Ilê Aiyê constitui um universo de beleza

Bloco chega ao 50º aniversário

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Imagem ilustrativa da imagem Ilê Aiyê constitui um universo de beleza
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O título deste artigo traz estrofe de um dos grandes sucessos do “mais belo dos belos”, agremiação que caminha para completar meio século de uma resistência que se mostra emblemática nesse período pelo qual passa a nossa sociedade. Fundado em 01 de novembro de 1974, em pleno regime militar, o Ilê, já a partir de agora, planeja e festeja esse cinquentenário, ciente de sua importância como representante de uma maioria negligenciada de nosso povo, mas nem por isso menos importante, fatia social que é a massa trabalhadora e mantenedora de todo o sistema que, em contrapartida, segue criando estruturas para subjugar e oprimir as periferias, constituídas sobremaneira de pretos e negros.

Por isso, esse cinquentenário se reveste de importância em instante em que percebemos um crescimento das ações violentas contra o povo pobre e trabalhador de nosso estado e de nosso país. O Ilê Aiyê combate esse racismo enraizado que oprime e mata nossos jovens, buscando sempre nos inviabilizar enquanto cidadãos de direitos e merecedores de respeito.

Foram anos difíceis os ultrapassados. Mostram-se anos difíceis os que se anunciam. Mas, com a proteção da nossa saudosa matriarca, Mãe Hilda Jitolu, e de todos os Orixás, o Ilê segue ultrapassando barreiras, derrubando pensamentos e ações fascistas, promovendo e cooperando com o surgimento de outras instituições que visam o empoderamento das classes subalternizadas. O Ilê Aiyê, com suas ações e sua representatividade, por um todo, aumenta nosso poder de luta.

Por outro lado, o Ilê Aiyê precisa ser reconhecido pelo seu pioneirismo que tem como legado essa construção cultural, política e de autoestima do povo brasileiro. O Ilê, em seu movimento a partir de Salvador, capital da Bahia, é uma das agremiações pioneiras na defesa das tradições vindas da África e transformadas no Brasil pelo nosso povo, ganhando cor local, mas nunca abandonando as referências ancestrais. É dessa e de muitas outras formas (conscientizando, educando, emancipando, criticando e reivindicando) que o Ilê Aiyê pavimenta sua trajetória. Longe de ser apenas uma agremiação de Carnaval, o Ilê é uma associação de pessoas que trabalham e lutam pela mudança de um regime opressor aos negros e periféricos. O Ilê Aiyê é luta para a mudança!

A partir do carnaval de 1975, os negros começaram a poder brincar o Carnaval vestindo roupas coloridas, usando seus cabelos lindos e sem a necessidade de alisamentos, assumindo sua negritude, cidadania, cantando nossas poderosas músicas, sempre previamente escolhidas através de um festival democrático e popular. Nossas canções são hinos que enaltecem uma rica cultura, mas também gritos por justiça, denúncias de arbitrariedades, exigências por direitos.

O Ilê alterou toda sistemática do Carnaval da Bahia, e isso ainda precisa ser melhor entendido e divulgado. Antes, os frevos tomavam as ruas, animando os blocos de mulheres e homens brancos que constituíam as elites econômicas e administrativas da Bahia. O povo negro, secularmente excluído, naturalmente também era desprezado no Carnaval e lá estava, quando estava, apenas para carregar alegorias ou para tocar percussão para a alegria dos associados brancos. Participar da festa, só de fora das agremiações, como observador, e mesmo assim sabendo “reconhecer o seu lugar” para não querer ser muito participativo, afinal, isso poderia constranger os brancos integrantes dos blocos. O Ilê mudou isso tudo com sua pegada afro, sua percussão, sua dança, as letras de suas músicas, sua atitude, sua luta.

Desde a década de 1970 estamos seguindo em frente, apesar dos protestos racistas. A cada ano, a saída do Ilê Aiyê, nos sábados de Carnaval, no nosso emblemático bairro do Curuzu, foi se tornando um dos mais importantes momentos dos festejos na Bahia. Para lá se dirigiram, ao longo dos anos, personalidades políticas, artísticas, do mundo intelectual e, mais importante do que todos esses, o povo costumeiramente oprimido e excluído pelas classes dirigentes. Construímos uma luta por igualdade, sob as bênçãos de nossa Mãe Hilda, Yalorixá que sacramentou o início e a trajetória do Ilê Aiyê, mãe de um terreiro de Candomblé que sempre assumiu sua função social, sendo lugar de desenvolvimento para milhares, melhor, dezenas de milhares de pessoas que foram acolhidas pelas diversas ações desenvolvidas ali no Curuzu.

A construção foi gigantesca e o Carnaval se tornou uma ação a mais dentro dos projetos da diretoria do Ilê Aiyê. Uma importante ação, é verdade, mas uma ação a mais. Temos a Escola Mãe Hilda Jitolu, cursos de qualificação profissional para nossos jovens do Curuzu e dos bairros circunvizinhos, temos atividades para a inclusão desses jovens no mercado de trabalho, palestras, ações de visibilidade, campanhas de auxílio às comunidades. E, além de tudo isso, temos voz ativa, forte e corajosa na defesa incontestável de nosso povo.

Nesses 50 anos, cujas comemorações incluem o Carnaval de 2024 que se avizinha, faremos celebrações especiais. Mas, tenham a certeza, sempre na busca por conquistas para nosso povo, em especial nossas crianças e nossos jovens, defendendo a implantação de ações públicas definitivas e reais que colaborem para a melhoria de vida dos mais necessitados, dos invisibilizados, dos injustiçados, foco das atividades do Ilê Aiyê.

O Ilê Aiyê continuará sua luta. O Ilê Aiyê continuará se fortalecendo como exemplo de resistência!

*Roberto Rodrigues é diretor do Ilê Aiyê

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