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O Apocalipse no carnaval da Bahia!

Confira o artigo de César Faria, professor na Universidade Federal da Bahia

Publicado quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024 às 09:19 h | Atualizado em 14/02/2024, 11:40 | Autor: *César Faria
Pipoca de Ivete Sangalo no carnaval de Salvador
Pipoca de Ivete Sangalo no carnaval de Salvador -

Os milhões de foliões que curtiram o carnaval em Salvador, certamente, daqui a 150 anos ou menos, todos estarão mortos! Mas, durante a festa de alegria eletrizante, é natural que nos esqueçamos da nossa incômoda finitude, fingindo que não morreremos!

Esta ficção de que não morreremos, desmentida pela dura realidade, quando levada ao terreno da religiosidade, pode ser a gênese do pensamento não só de uma origem, mas de um fim coletivo, grandioso, e não mais solitário, pessoal. Daí, ao longo da história, ter surgido e persistido a ideia do fim de vida na terra, ou, na letra da conhecida música do carnaval baiano (“Minha pequena Eva”), “o fim da aventura humana na terra”, muitas vezes traduzida por punição divina e redenção final: o apocalipse.

Neste carnaval de 2024, “o fim dos tempos”, que nunca chegou, apesar de sempre anunciado, foi profetizado pela cantora Baby do Brasil - estrela de antigos carnavais - em um inusitado episódio com a cantora Ivete Sangalo - estrela maior do atual carnaval - que não atendeu seu pedido de cantar “Minha pequena Eva”, sobrepondo seu sucesso do momento, dizendo que “macetava o apocalipse” e não iria permitir que ocorresse.

O inesperado acontecimento teve ampla repercussão, havendo até um cantor se arvorado a psiquiatra, recomendando, de cima de um trio, que Baby tomasse seu remédio.

Psicose ou não, merecem respeito todas as religiões que o professam e as cantoras envolvidas no episódio, aparentemente bizarro, pois a ciência não encontrou evidência alguma de que se possa prever o futuro.

Contudo, o próprio homem já criou tecnologia nuclear capaz de destruir o mundo em poucas horas ou de espalhar um vírus mortal por todo o globo terrestre em poucos dias (vide a recente epidemia da COVID), o que acaba por fortalecer as profecias do apocalipse.

Bem aproveitados os festejos do carnaval e com o início do período da quaresma, que possamos refletir sobre o apocalipse, não apenas como sinônimo de catástrofe que se tornou, mas lembrando a sua etimologia do grego, como “revelação”: da nossa finitude diante da vastidão da eternidade, da minúscula fração da existência da nossa espécie na história da Terra e da insignificância do nosso próprio planeta na imensidão do cosmo e que essa consciência nos leve a uma postura mais humilde como seres humanos.

*César Faria, professor na Universidade Federal da Bahia e aluno na vida.

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