COP-30, Belém é ponto de partida não de chegada
Coluna desta segunda-feira, 13

Conversei com Marcello Brito, enviado especial para a COP-30 sobre a Amazônia, e também um profissional com experiência espetacular em relação ao mundo amazônico. Perguntei a ele qual a grande expectativa para a COP-30 e o que vai acontecer.
Ele me respondeu que é um desafio “tremendo”. Observou: “Olhe o mundo em que vivemos, tensões geopolíticas que nós estamos vivendo. Então, não dá para não falar que existe um tensionamento que irá pressionar as questões da Convenção do Clima”. Disse não ter a menor dúvida.
“Isso você olhando o copo meio vazio. Vamos olhar o copo bem cheio: é a primeira grande reunião internacional que vai reunir chefes de Estado, e os principais estarão aqui em Belém. Apesar de ter muita gente dizendo que são poucos países, mas não são poucos. Todos os países filiados à UNFCCC – Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima – estarão presentes”.
Para ele, é certeza. “Comitivas maiores ou menores, mas todos estarão. E é justamente nesses eventos que nós temos a possibilidade de jogar à mesa novas ideias, novas considerações, novos arranjos geopolíticos, estruturação de novos acordos.”
Brito acredita ser muito mais importante que a nossa entrega no último dia da COP-30, 22/11, “o que nós vamos construir durante esses 11 dias em Belém, e o que nós vamos pôr em prática no exercício da presidência brasileira da COP, que só terminará em 2026, quando nós entregarmos, eu acho que será para Austrália. Então, nos próximos 12 meses, a partir de 9 de novembro, quem irá fazer a agenda ambiental de negociações, o país é o Brasil”.
Ele vislumbra a oportunidade de nós inserirmos os novos modelos sustentáveis de mineração, novos sistemas alimentares tropicais, “porque é nessa faixa tropical que reside toda capacidade produtiva de alimentos no mundo”.
Essa é a oportunidade, acredita. “Tenho visto alguns dizerem que não irão a Belém porque lá é muito difícil. Esses dias até me perguntaram se os empresários não iriam para Belém. Eu falei: vão, sim. Aqueles que já vão à Amazônia, que enxergam lá como um potencial para o agro, para a restauração florestal para carbono, já estão lá”.
Ele defende que os que não vão são os que já não iriam. “Podem continuar a fazer suas reuniões em São Paulo, no Rio, sem nenhum problema, porque a COP é do Brasil. Ela só será sediada em Belém. Então, a minha expectativa como brasileiro é que consigamos dar início a todas essas construções. E eu tenho dito: o que eu espero de lá é entender que o mundo tem jeito e que essa nova construção geopolítica se dará a partir de Belém”.
Uma visão construtiva, efetivamente importantíssima, e tenho visto em minhas andanças pela Europa que a imagem da Amazônia é fundamental para a imagem brasileira. Então, perguntei ao Marcello qual a visão dele sobre essa minha constatação.
“Eu diria que a Amazônia tem potencial de imagem muito mais forte do que o próprio Brasil. A [ex-ministra do Meio Ambiente] Izabella Teixeira tem uma frase que é icônica para mim: ‘A Amazônia coloca o Brasil no mundo, mas, ao mesmo tempo, tira o Brasil do mundo’. Nós deveríamos saber disso há muito tempo”.
Parabéns, sucesso, Marcello Brito na COP-30. E concordo com você!
Siga o A TARDE no Google Notícias e receba os principais destaques do dia.
Participe também do nosso canal no WhatsApp.