Produção de tilápia assume protagonismo no avanço da piscicultura em todo o país
A Bahia é o estado que ocupa a nona posição no ranking nacional, com 36.450 toneladas produzidas

A prática de cultivo de peixes em ambientes controlados, conhecida como piscicultura, alcançou, em 2024, o melhor resultado dos últimos dez anos no Brasil. Segundo o Anuário de 2025 da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR), a produção atingiu 968.745 toneladas, representando um crescimento de 9,21% em relação ao ano anterior.
A Bahia é o estado que ocupa a nona posição no ranking nacional, com 36.450 toneladas produzidas. Entre as espécies cultivadas, a tilápia se destaca como a principal do país. O avanço da atividade evidencia o potencial do setor aquícola brasileiro e destaca a tilápia no crescimento das exportações de cultivos nacionais.
A tilápia não é uma espécie nativa. Originária da África e do Oriente Médio, tornou-se a espécie de peixe mais cultivada não só no Brasil, como no mundo. Sendo um tipo de peixe rústico, com algumas melhorias genéticas para a produção do filé, consolidou-se no Brasil por ser um país tropical, com temperaturas adequadas para seu cultivo.
A disponibilidade hídrica também é um dos fatores, além de sua boa adaptabilidade tanto nos viveiros escavados quanto em tanques-rede.
Sabor e preparo
A alta preferência do consumidor brasileiro é explicada por se tratar de um peixe de fácil preparo, de sabor suave e sem espinhas.
Apesar do sucesso, essa não era a realidade do mercado nacional há alguns anos. O presidente da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR), Francisco Medeiros, explica:
"Até o ano de 2020, os peixes mais comercializados no Brasil eram os nativos, principalmente o tambaqui, a tambatinga e o pintado. Esses peixes são produzidos, principalmente, nesses estados de Mato Grosso, Rondônia, Amazonas, Roraima e Maranhão. Além desses, há também a produção de pirarucu, que vem ganhando, a cada dia, mais importância para o consumidor brasileiro", afirma.
A criação de peixes foi a proteína animal com o maior crescimento percentual na última década. A preferência pelo cultivo da tilápia a tornou uma commodity — ou seja, um produto primário de origem padronizada — negociada em grande escala no mercado nacional e internacional, com o preço determinado pela oferta e demanda do mercado internacional.
"Um dos motivos do grande sucesso da produção de tilápia no Brasil é a combinação das características produtivas da espécie, da qualidade do filé e, principalmente, de um pacote tecnológico que permite grandes produções em pequenas áreas. A tilápia é, hoje, o peixe de cultivo mais criado no mundo, comercializado em 140 países e produzido em 90", destaca o presidente da Peixe BR.
O cenário atual de exportação do Brasil apresenta avanços significativos. Em 2024, foram exportadas 13.792 toneladas de peixes, um aumento de 102% em relação a 2023.
O contraste é evidente quando comparado ao período anterior, de 2022 para 2023, que registrou uma queda de 23%, segundo o Anuário 2025 da Peixe BR. A tilápia segue liderando as exportações no país, com 12.463 toneladas. Em segundo lugar, aparece a espécie curimatá, com 653 toneladas, seguida pelo pacu, com 276 toneladas.
Os Estados Unidos são o principal destino entre os mais de 40 países que importam peixes brasileiros, com Canadá e China na sequência. Outro mercado relevante é o Peru, que importa principalmente tambaqui proveniente de Rondônia.
"Tudo o que a gente produz, a gente vende", comenta Anderson Nogueira, empresário rural formado em engenharia de pesca, ao falar sobre a tilápia. Apesar de essa não ser a única espécie criada em sua piscicultura, que administra junto ao pai, localizada em Xique-Xique, Bahia.
Seu investimento no mercado aquícola começou há dez anos. Entre os desafios do setor, Nogueira destaca a falta de recursos e de profissionais qualificados.
Apesar da experiência na zona rural, ele afirma que a criação de peixes foi uma novidade em sua vida. Buscar conhecimento e capacitação técnica fez a diferença no seu negócio.
"O que falta é conhecimento técnico. Muitos produtores, ao tentarem investir em algo fora da tradição familiar, acabam se precipitando. Por exemplo, na minha família, sempre criamos gado. Ninguém criou peixe. Então, para me envolver com a piscicultura, tive que estudar e me dedicar.
Vejo muitos que começam sem preparo, fazem da forma errada e desistem. Já quem faz com conhecimento técnico, ou pelo menos próximo disso, segue cultivando até hoje."
Na mesma linha, José Luiz Sanches, biólogo e gerente da Bahia Pesca — empresa vinculada à Secretaria de Agricultura, que tem o objetivo de fomentar a pesca e a aquicultura de forma sustentável no estado —, afirma que a falta de capacitação é um dos principais entraves do setor.
"Muitos piscicultores ainda atuam de forma empírica. A capacitação e a conscientização são fundamentais para que o produtor entenda o que está fazendo e consiga obter melhores resultados."
Entre outros desafios, o gestor destaca a ausência de linhas específicas de financiamento para piscicultura nos bancos, além da demora na emissão de licenças ambientais e outorgas d’água — permissões para o uso de recursos hídricos (rios, lagos, reservatórios) em atividades produtivas. O longo tempo de tramitação prejudica quem deseja iniciar ou expandir a produção. Ainda assim, ele vê um cenário promissor.
"A região abriga muitos produtores, e a tendência é de crescimento contínuo, já que o semiárido baiano possui grandes barragens propícias para a atividade."
*Sob a supervisão do editor interino Fábio Bittencourt.