Todos perdem: sem acordo UE & Mercosul
Coluna A TARDE Agro desta segunda-feira, 22

De novo, 26 anos de negociações e mais uma vez postergada a óbvia oportunidade de criar um positivo e forte impacto para todos no mundo com a assinatura que deveria ter sido feita nesta última semana, em Foz do Iguaçu: o acordo União Europeia-Mercosul.
Seria ótimo para todos e para o mundo. Estaríamos dando um exemplo positivo de comércio integrando dois blocos econômicos e complementares entre si, numa economia de mais de US$ 22 trilhões de PIB, o que quer dizer simplesmente o segundo maior poder econômico planetário hoje, após os EUA.
Seria ótimo para todo composto agrícola, comercial, industrial, de serviços tanto para a Europa quanto para o Mercosul. Mercados abertos para chegada de produtos nobres, finos, de valor agregado dos “terroir” europeus, e abertura para produtos diferenciados e tropicais brasileiros e da América do Sul para toda a Europa.
Dos 27 países do bloco europeu, 23 estados aprovavam a assinatura do acordo que seria realizada neste último fim de semana, em Foz do Iguaçu. Ministros como os de Espanha e Portugal asseguravam sobre a importância estratégica excelente para a Europa. A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von Der Leyen, estava reverberando a mesma opinião sobre o grande benefício que esse acordo traria para todos, além de contribuir com uma visão positiva e de esperança para tratados de livre comércio entre outros blocos e regiões.
Entretanto, a manipulação realizada por políticos sobre os agricultores franceses principalmente, como passeatas, manifestações e conflitos com a polícia, criou um clima “político” obrigando a uma nova “postergação” do acordo. Os agricultores europeus – e os franceses em particular – são os mais protegidos do mundo com subsídios inimagináveis para os nossos. Atuam com produção sofisticada num conceito de “terroir”, valorização de origem com presenças efetivas nas mesas dos consumidores mundiais, como bem conhecemos seus vinhos, champagnes, cognacs, sidras, queijos, carnes, massas, frutas etc.
Nós, aqui do Brasil, ainda somos produtores e exportadores de commodities, ou seja, matérias-primas que irão receber agregação de valor lá, exatamente na agroindústria europeia, que, com isso, contaria com suprimento para crescer todos os seus setores de ração e insumos objetivando vender mais produtos para o mundo todo.
Emmanuel Macron, da França, e Angela Meloni, da Itália, alegaram impossibilidade de assinar o acordo, mesmo com 23 dos 27 países a favor. Com isso, atrasam o mundo, e não estão de forma alguma ajudando ou protegendo os seus agricultores, que já contam com programas de mais de US$ 450 bilhões de subsídios. E com a manipulação ideológica e política simplesmente se prestam a atrasar o mundo, imaginando que, com isso, estão lutando por seus interesses. Não estão. Nossas agriculturas são complementares, e os clientes diretos dos agricultores são as agroindústrias que processam e criam mercadorias com forte distribuição mundial.
Ignorar o complexo agroindustrial, sinônimo de agribusiness mundial, permite entrar em erros estratégicos. Uma pena, seria ótima notícia de ano novo. Perdem todos e, a curto prazo, quem mais perde é a própria Europa e seus agricultores cada vez mais em menor número e com brutais desafios de sucessão na chamada “Europa vazia”.
Mas será inexorável – cedo ou tarde, esse acordo sairá. Apenas quatro dentre 27 estão contra: Itália, França, Hungria e Polônia. Não vão resistir.
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